Capítulo 1

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 — Atenção, por favor, um minuto da sua atenção. — Alan MacLean bateu em uma taça de espumante para atrair a atenção dos convidados para si.

Era a festa de noivado da sua filha mais velha Alice. Estavam em um restaurante tradicional da cidade, com decoração clássica e lustres de cristais em dourado e cobre. As paredes eram pintadas em um tom envelhecido de verde com finas molduras em branco e preenchidas com espelhos rebuscados nos quais já apareciam manchas que denunciavam sua idade. Nas mesas, arranjos descontraídos com folhagens nos mais diversos tons de verdes contrastavam com as toalhas e louças brancas, trazendo modernidade para a festa do jovem casal.

— Obrigado. Antes de começarmos o jantar, gostaria de agradecer a presença de todos. Você todos são importantes para nós e de alguma forma fizeram parte da trajetória de Alice e Tomás. — seu olhar voltou-se aos noivos próximos dele. — Então aproveitem o jantar de noivado e viva aos noivos!

— Viva! — Todos responderam.

É claro que Bárbara Hurst, mãe do noivo e a responsável por toda a pompa e circunstância que compunham a festa, precisava fazer o seu próprio discurso de agradecimento.

— Boa noite queridos convidados — Bárbara aproximou-se de Alan e ergueu a voz. Ela estava cintilante em um vestido curto de renda azul-marinho e fundo em prateado, com joias em ouro branco e safiras. — Primeiramente, obrigada pelas doces palavras Alan — ela olhou para ele, o qual apenas assentiu ao lado da esposa Marta. Esta não se vestia de forma tão chamativa, porém, como mãe da noiva, também havia se vestido para brilhar em seu vestido azul pavão com pequenas contas azul escuro no corpete e nas mangas diáfanas.

— Hoje é realmente uma noite única em que meu filho mais velho assume um compromisso tão importante com essa linda jovem. Estamos muito felizes em recebê-la em nossa família e, acredito que falo em nome de todos os presentes, desejamos os melhores e maiores votos de felicidade ao casal. — Bárbara concluiu com uma reverência teatral em direção a Alice e Tomás, e seu marido Levi Hurst resolveu interrompê-la. Depois de tantos anos de casamento, ele já estava acostumado com o jeito um tanto exagerado da esposa, contudo entendia ser melhor colocar um fim antes de o discurso virar o espetáculo que ela provavelmente havia planejado. Levantou sua taça e exclamou:

— Saúde e felicidade aos noivos. — Ao que todos novamente responderam e ergueram suas taças.

Quando voltaram aos seus lugares ao lado dos noivos, Tomás agradeceu ao pai em um sussurro. Os familiares e amigos mais próximos sabiam que Alice não havia sido tão bem acolhida como Bárbara fez parecer. No início, os pais de Tomás foram um pouco esnobes e não concordaram com os rumos da vida de Tomás. Eles eram donos de uma das maiores imobiliárias da região e esperavam que o filho assumisse os negócios familiares ao invés de seguir a carreira na advocacia. Entretanto, com o passar do tempo, eles compreenderam que os filhos devem escolher seu próprio caminho, e companhia, e aceitaram o futuro que o filho escolheu.

No caminho pela independência, Tomás tornou-se advogado criminal especializado em direito médico, atuando com seu próprio escritório e como professor de pós-graduação e mestrado para complementar sua renda. Tudo que pudesse fazer sem necessitar da influência ou ajuda financeira de sua família. E foi em uma de suas aulas de prática jurídica avançada que ele conheceu e se apaixonou pela irritante e controladora médica Alice que era sua aluna.

Após sua formatura em medicina, Alice havia decidido se especializar em genética, complementando sua carreira com um mestrado em Direito para compreender melhor os limites da ética na área médica. Depois de um início de relacionamento turbulento, eles finalmente encontraram seu caminho juntos e estavam ali para celebrar o amor com seus familiares e amigos.

Enquanto os noivos foram circular por entre os convidados, Marta conversava com os futuros sogros de Alice sobre amenidades. Eles ainda encontravam um pouco de dificuldade em manter Bárbara interessada em um assunto que não envolvesse ela ou seus filhos. Alan segurava a mão da esposa sorrindo. Paciência era algo que ambos desenvolveram muito bem ao longo de suas carreiras. Os dois eram médicos e trabalharam por muito tempo em grandes hospitais de Azevedo, uma das maiores cidades de Portugal, localizada no centro do país. No entanto, nos últimos anos optaram por se mudar para uma casa mais afastada do centro e abrir uma clínica de atendimento de idosos. As filhas, Alice e Sofia, já estavam trilhando seus próprios caminhos. Com a dependência financeira menor, eles estavam felizes em diminuir o ritmo de vida e aproveitar os momentos juntos que não conseguiram encontrar na dificuldade dos turnos do hospital.

Marta estava ainda mais radiante por sua filha mais nova Sofia estar de volta em casa. Foram três anos morando fora, trabalhando em diversos restaurantes até altas horas da noite e lidando com chefs não tão educados ou razoáveis. Com certeza isso colaborou para a técnica de Sofia, mas ela tinha talento. Não era só uma mãe reconhecendo isso nos próprios filhos, não era um elogio vazio. Agora ela estava com sua própria empresa, a Siùcar Doces Finos e, com sorte, todos aqueles amigos dos pais de Tomás que formavam a elite poderiam recomendá-la e ajudá-la na divulgação do seu trabalho. O nome da confeitaria era açúcar em escocês gaélico, uma singela homenagem às origens escocesas da família de Alan, o que o deixou cheio de orgulho.

De fato, Marta não poderia estar mais feliz com o futuro das filhas. E seu marido sentia-se da mesma forma, pois não parou de sorrir nem por um minuto na festa, e ele não era muito dado a socialização. Todos estavam aproveitando.

Vendo Sofia pela terceira vez circundando a mesa de doces, Marta pediu licença aos que estavam perto e resolveu intervir.

— Querida, não tem como ficar mais perfeito do que isso.

— Mãe, Alice está me dando uma grande chance de publicidade com a família de Tomás, nenhum detalhe pode falhar.

— E qual detalhe não está bom na montagem da mesa de doces?

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