Capítulo 20

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— Você tem certeza?

— Já tinha antes mesmo de pronunciar o convite.

— Sempre sarcástico.

— Pensei que éramos amigos? — Gabriel piscou inocentemente.

— Estamos tentando chegar lá, porém você dificulta.

— Nós vamos chegar lá, acredite em mim. — Ele respondeu com toda a sua confiança de quem sabe lidar com uma mulher.

Repetiu o convite e ela aceitou. Se ele estava se esforçando, ela também poderia se esforçar. Como ela só iria deixar as flores em um vaso da entrada, não fazia sentido em acender todas as luzes para ele entrar e conhecer o espaço. Afinal, já estava atrasada para o almoço na casa dos pais. Seria uma caminhada rápida e poderiam seguir caminhos distintos.

Os dois percorreram o trajeto lado a lado e Gabriel sentiu o calor que emanava dela, apesar do aquecimento crescente do sol conforme o avançar das horas. E junto com o calor um agradável aroma de baunilha. Pelo menos ela havia relaxado um pouco. Sua postura não indicava a defensiva de antes. Talvez eles realmente pudessem ser amigos.

— Então, você mora aqui perto?

— Sim, no apartamento que a Alice ocupava.

— Eu conheço, já fui visitá-lo com Tomás algumas vezes. É perto daqui.

— Sim, eu precisava abrir a confeitaria em um local que ficasse perto para eu me deslocar o tempo todo.

— Bom, já que você não irá abrir a confeitaria, qual a próxima parada?

— Nos domingos, eu almoço na casa dos meus pais, depois volto para trabalhar.

— Tudo bem. Então aqui nos separamos.

— Como você foi gentil em oferecer uma trégua, vou retribuir com um convite para um almoço em família.

Sua boca foi mais rápida que a mente e a pergunta já estava no ar. O que ela estava fazendo em se oferecer para passar mais tempo com ele?

— Tem certeza? — Gabriel perguntou.

Ela não tinha certeza antes de fazer a pergunta, como Gabriel havia salientado anteriormente. Contudo, recusar agora seria um estrago em sua recente amizade. Ela poderia reforçar o convite e aceitar as consequências.

— Sim. Poderia ser chato com uma família desconhecida, mas você conhece todo mundo e Tomás estará lá. — Sofia deu de ombros.

Ele com certeza já tinha outros planos, mas ela poderia fazer o convite e se sair por cima sem precisar passar mais tempo com ele. Só que o tiro saiu pela culatra e ele aceitou.

— Claro, por que não?

Gabriel gostou do convite. Ele não poderia recusar um almoço de família, tão diferente das comidas prontas que estava acostumado. E Tomás estaria lá, não seria comprometedor nem nada, só amigos. Já conhecia a família dela mesmo do jantar de noivado.

Ela pegou o celular na bolsa para chamar um motorista de aplicativo. Enquanto digitava as informações, ele perguntou:

— Você não tem carro?

— Tenho.

— E por que não usa?

— Acho mais prático usar aplicativo. — Ela não precisava dizer para ele que dirigia tão pouco que nunca pegou muita prática. E não seria com ele ao lado, o qual já a deixava nervosa por qualquer coisa, que ela iria praticar um pouco mais.

— Eu posso dirigir, se esse é o problema.

— Não tem necessidade. Provavelmente iremos beber alguma coisa no almoço e não poderemos voltar dirigindo mesmo.

— Eu posso não beber — Gabriel insistiu.

— Não se preocupe, o motorista já está aqui.

O trajeto até a casa dos pais de Sofia não foi tão longo quanto normalmente parecia para ela. Gabriel, muito educado, conversou um pouco com o motorista e os períodos de silêncio eram bastante confortáveis. O oposto do que ela poderia esperar.

Ao chegar, Marta abriu a porta e ficou surpresa ao ver que a filha tinha um acompanhante.

— Entrem, entrem. — Ela cumprimentou aos dois. — Não sabia que você iria trazer companhia, filha. Gabriel, seja bem-vindo.

— Muito obrigado, sra. MacLean

— Marta, por favor.

— Marta — ele repetiu.

— E então? Há algo que eu deva saber aqui? — A sutileza de Marta era a de um elefante. Sofia preferiu intervir antes que o assunto pudesse criar outras ideias na cabeça de sua mãe.

— Ele é um amigo. Na verdade, mais amigo de Alice e Tomás. Nós nos esbarramos na rua e eu o convidei já que todos se conhecem.

Marta era esperta o suficiente para não deixar a filha escapar com tanta facilidade. Se havia uma relação ali, e ela imaginava que sim, ela ia descobrir rapidinho.

Finalmente a filha mais nova estava seguindo seus conselhos e fazendo outras coisas além de trabalhar. E ela havia escolhido alguém muito interessante para isso. Marta e Alan conheciam um pouco da infância de Gabriel das histórias de Tomás, porém a vida adulta ficara restrita às conversas educadas e superficiais dos eventos do casamento. Um almoço privado em família seria bem diferente.

— Alice, seu amigo está aqui — Marta gritou da porta — Venham, podem ficar à vontade. Ela já vem recebê-lo, Gabriel.

— Que amigo? Eu não convidei ninguém. — Alice gritou em resposta da sala.

Poucos segundos depois, ela cruzou o arco do corredor e chegou no hall. Alice olhou de sua mãe para Sofia, para Gabriel, e depois voltou a olhar para sua mãe confusa. Sua mãe lhe explicou:

— Sofia trouxe companhia, mas ela disse que o amigo é seu. — Marta tinha um pequeno canto da boca repuxado, um sorriso que ela tentava disfarçar sem conseguir.

— Aconteceu alguma coisa? Eu vou chamar Tomás. — Alice não compreendeu a cena da mesma forma que sua mãe e ficou preocupada. Ela gritou por ele, o qual rapidamente chegou até o hall. Com certeza era uma manhã barulhenta na casa da família MacLean.

— Gabe, você aqui! — Tomás exclamou surpreso. — Está tudo bem?

Gabriel não pode deixar de sorrir diante de toda a comoção que a sua presença estava causando. Realmente, seria um almoço divertido. Sofia, por outro lado, tinha uma expressão desesperada no rosto e, sem dúvidas, estava questionando seu lapso de julgamento ao fazer o convite para aquele almoço.

— Sim, está.

— O que você está fazendo aqui então? — Tomás foi bastante direto.

— Oras, não seja rude, Tomás. — Marta deu um tapinha de leve no ombro dele. — Gabriel é um convidado para o almoço. Só não ficou claro de quem. Vou verificar minhas panelas enquanto vocês decidem isso.

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