Capítulo 14

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 Gabriel experimentou e identificou algumas notas frutadas e um amargor no final, provavelmente derivado do carvalho. Quando disse tudo isso ao pai, este deu um sorriso enorme e perguntou:

— E o veredicto?

— Não que eu seja um especialista como o senhor, mas gostei e acho que agradará aos paladares mais secos. — E completou: — Bem diferente do rosé.

— O rosé foi inspirado em Angélica, doce como ela. — Raul exclamou com olhos sonhadores. — Mas este aqui atingirá outro segmento.

— Com certeza, pai. Como empresário, posso afirmar que é sempre bom expandir os negócios.

— É isso aí! — Raul sorridente, apertou o braço do filho. — Agora aproveite o vinho enquanto vou ver como está o jantar com Angélica.

Após o jantar muito bem servido de macarronada, sim, as raízes italianas do pai falavam alto, Angélica serviu uma torta de amoras do campo, uma das sobremesas preferidas de Gabriel, o que só podia significar que o pedido que ela tinha não seria pequeno. A receita da torta surgiu depois que Angélica encontrou algumas amoreiras nos fundos da casa logo que compraram a propriedade. Ela começou a testar receitas de sobremesas enquanto seu pai testava as frutas nos vinhos.

— Então Gabriel — Angélica começou — eu preciso da sua ajuda, ou melhor, nós precisamos. — E apontou para Raul sentado na ponta da mesa. Gabriel, sentado de frente para ela, olhava de um para o outro. Ela continuou:

— Você sabe que os negócios no vinho prosperaram bastante.

Gabriel assentiu e pensou em como eles se dedicavam inteiramente ao negócio. Eles transformaram uma vinícola decadente em um negócio próspero, seria difícil obter um resultado diferente de sucesso. Infelizmente Angélica nunca conseguiu realizar o sonho de ser mãe, mesmo com todos os tratamentos que ela e seu pai tentaram, e ele não era o melhor exemplo de enteado, então eles voltaram toda a sua energia em fazer a vinícola dar certo.

Gabriel divagou um pouco, mas achava que ela estava falando da distribuição do negócio. Seu pai coordenava a produção e desenvolvimento de produtos, Angélica do marketing, vendas e ocasionais eventos. Angélica ainda estava falando.

—... você sabe que nossos contratos com os países europeus estão indo bem. Então nós gostaríamos que você nos ajudasse com os contratos com os Estados Unidos, e talvez pudesse até investir na empresa para aumentar a produção? — Angélica terminou a frase com um tom de pergunta, claramente mostrando sua dúvida em pedir algo assim para ele.

Gabriel engasgou no meio do gole de vinho. Vendo sua demora em responder, Angélica complementou:

— O que você acha?

Gabriel ainda precisou de um segundo para processar a informação, então exclamou surpreso:

— Vocês acham que eu sou a pessoa certa para isso? Tenho certeza que vocês podem encontrar alguém mais qualificado. Talvez alguém do ramo de bebidas?

Agora foi a vez de Raul falar.

— Nós refletimos bastante, filho, e achamos que você é a pessoa ideal.

Sim, eles precisavam da ajuda de alguém e poderiam contratar outras pessoas, mas também era uma forma de se aproximar do filho e talvez um dia participar mais da vida dele. Ele ficava tão isolado na cidade grande e nunca visitava na frequência que Raul gostaria.

— Puxa, não é um pedido pequeno, mas posso tentar então. Vou conversar com meus diretores e ver a melhor pessoa para nos auxiliar.

Angélica levantou de um pulo e foi do outro lado da mesa abraçá-lo. Ela não era de demonstrar tanto carinho assim com ele, mas às vezes não conseguia se controlar.

— Gabriel, isso é fantástico, muito obrigada! Nós estamos pensando em fazer uma série de eventos para divulgar as novas parcerias.

— E claro, garantir a publicidade que nossos investidores esperam — Raul completou e piscou para o filho.

— Com certeza podemos ver isso com nossas equipes. Contudo, temos que pensar em um passo de cada vez. Primeiro, asseguramos os contratos, depois pensamos na divulgação.

— Ele é tão esperto, Raul. — Angélica elogiou — Eu sabia que ele seria a pessoa certa.

— É tudo genético, querida, tudo genético — Raul brincou com a esposa.

Angélica fez um cafuné em Raul e os três continuaram a conversar sobre temas mais leves. Gabriel estava satisfeito com o jantar, gostaria de ajudá-los como pudesse.

Quando já estava retornando para casa, meio adormecido, seu telefone tocou, era Tomás que enviou uma mensagem para que eles saíssem no sábado. A ideia era ir a algum restaurante para conversar e trocar algumas ideias para o casamento. Alice e as madrinhas também estariam presentes. Gabriel imediatamente pensou em Sofia, mas antes que pudesse responder, Tomás mandou outra mensagem: Não, nós não convidamos o Arthur.

Isso era um alívio. Gabriel conhecia a família de Tomás desde pequeno e ter que lidar no final de semana com ela não era sua ideia de diversão. Ainda mais somado à irritada Sofia. Bom, ele não tinha muita escolha senão aceitar. Eles teriam que encontrar uma forma de se tratar civilizadamente pelo menos até o casamento, para não desagradar Alice e Tomás, e depois disso, seria mais fácil manter distância um do outro.

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