Capítulo 26

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 E ali estava o momento que ela tentou evitar tanto. Arthur ofereceu a ela uma taça de espumante, a qual Sofia recusou. Já havia bebido o suficiente para comemorar o casamento sem prejudicar seus sentidos. Arthur deu de ombros e deixou a taça dela na mesa ao lado.

— Se mudar de ideia, estará bem aqui. Conheceu muitas pessoas hoje?

— Algumas. Com certeza há mais convidados do que no jantar de noivado.

— A família Hurst precisa mostrar seu poder, principalmente em festas relacionadas aos primogênitos.

— Vocês só se importam com os primeiros filhos?

— Na verdade não. Eu sou filho único, não tenho esse problema de dividir nada com ninguém. Contudo, aqueles que vão assumir os negócios familiares recebem um tratamento diferenciado em relação ao restante.

— É quase uma monarquia.

— Talvez. A elite tem padrões e tradições que gostam de manter e passar adiante. Quando outras pessoas entram nesse mundo, costumam encontrar dificuldades em coisas que já nos são naturais.

— Como viajar a qualquer hora no jato da família?

— Na verdade, quem tem jatos são as empresas, afinal temos alguns negócios no exterior e precisamos de agilidade. O conforto de almoçar em Paris ou Roma em poucas horas é só um bônus que nem todos aproveitam.

— Como Tomás e Cecília.

— Eles são diferentes, apesar de crescerem com tantos mimos e presentes quanto eu. Tomás negou sua posição e veja no que deu. Esperamos que Cecília seja mais fácil de lidar. E, ainda sim, sei que tia Bárbara não poupará nada no casamento dela.

— O seu casamento será assim?

— Maior e melhor, sem dúvidas — Arthur respondeu — Interessada?

— Ainda interessado em investir no setor gastronômico? — Sofia resolveu jogar o jogo dele.

— Humm... gosto do seu jeito de pensar, doce Sofia. — Arthur concordou e se aproximou dela. — Sempre fui orientado a não misturar negócios e prazer, mas algumas pessoas tornam isso impossível, não é mesmo?

— Para sua família, casamento é um negócio também. — Sofia respondeu.

— O que não significa que não possa ter prazer. Nós podemos gostar e aproveitar nossas alianças comerciais.

Se ele queria seguir esse caminho, Sofia bem podia aproveitar para aprender o que podia sobre investidores antes de cortar todos os planos que ele com certeza já estava imaginando em seu futuro.

— Se é uma aliança comercial, eu não serei dona da minha empresa?

— Depende do acordo que fizermos. Minha esposa não deve trabalhar na frente da empresa, ela pode muito bem aproveitar os prazeres que eu lhe oferecer e viver uma vida sem preocupações mundanas. Conhecendo seu jeito, você é do tipo que vai querer se envolver.

— Quem você acha que vai criar as receitas e desenvolver os produtos?

— Nós podemos contratar o chef que você quiser e quantos funcionários precisar para fazer a máquina girar. Não precisa estressar essa linda cabecinha.

Arthur aproximou-se e a tocou na lateral do rosto. Sofia rapidamente deu um passo para trás a fim de manter a distância entre eles. Tentando se manter impassível, continuou o assunto:

— Quem tomará as decisões?

— Um conselho muito bem selecionado e pessoas de confiança da nossa família. — Arthur sorriu maliciosamente — Sofia, você não precisa se preocupar com esses detalhes bobos. Eu cuidarei de tudo para você. Podemos começar pelo prazer e depois brincamos com os negócios.

Arthur passou a mão no rosto de Sofia novamente, puxando-a ainda mais perto, porém ela se afastou.

— Investir é bem diferente de um casamento.

— Sem dúvidas — Arthur suspirou cansado — O investidor não irá interferir, apenas aguardar os lucros.

— E eu fico com todo o controle da empresa? — Sofia perguntou.

— Sim. A menos que você venda parte considerável dela para alguém.

— Não está nos meus planos. Mas vou precisar de ajuda com a publicidade. Contatos são importantes.

— Sofia, Sofia... nunca imaginei que você seria do grupo das interesseiras.

— E você conhece alguém que não seja desse grupo?

— De fato, talvez não. — Arthur respondeu pensativo. — Veja, o casamento exige sacrifícios em qualquer classe social, como você bem sabe. Não acho que uma vida de princesa seja um sacrifício muito grande, não é mesmo?

Sofia preferiu não responder e Arthur continuou:

— Investir é uma conversa completamente diferente. Eu não terei controle do risco, então o valor vai depender de quanto você for persuasiva.

Arthur não conseguia tirar o sorriso predador do rosto. Estava certo do seu sucesso em conquistar a irmã da noiva.

— E se eu não quiser ser persuasiva?

— Sem dinheiro e sem contatos, obviamente.

— Prefiro ficar por conta própria então. — Sofia o cortou.

Aguentou o máximo que podia, contudo, conversar com ele a deixava enojada. Era uma visão tão arcaica e machista. Ele queria comprar sua empresa para ter uma esposa troféu. Como se ela fosse cair nessa, seus pais não a criaram para isso.

— Uau, a gatinha tem garras — Arthur respondeu e segurou o punho de Sofia. — Gosto disso.

Sofia não teve tempo de dar sua resposta mais afiada, Cecília apareceu para intervir.

— Sofia, Alice está se preparando para jogar o buquê, venha.

Cecília olhou para Arthur com olhos faiscando. Ela poderia ser mais nova do que ele, mas sabia como se impor. Ele soltou Sofia e a deixou partir com a prima.

— Fico te aguardando aqui, futura noiva. — Arthur respondeu alto para que todos ao redor ouvissem. Cecília espantada questionou Sofia:

— O que ele quis dizer com isso?

— Você não conhece seu primo? Ele considera tudo ganho antes mesmo de ganhar.

— A vida inteira dele foi assim. O que me preocupa é por que ele acha que vai ganhar você?

— Eu o enrolei para tentar entender um pouco melhor sobre investimentos. Sua família não é nada fácil. — Sofia deu um olhar pesaroso para Cecília.

— Nem todos são assim. E mesmo entre os piores, a grande maioria está bem longe de ser como Arthur. — Cecília explicou.

— Fico feliz em ouvir isso, pelo bem de Alice.

— Pode ficar tranquila que estamos aqui para cuidar dela. Esquece o Arthur e vamos aproveitar a festa.

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