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V.H, 07/02/2022 Los Angeles, CA
O suor escorre do meu pescoço até a barra da bermuda, por dentro do colete azul, mas isso não me incomodou.
Continuei com os passes e dribles até o fim do treino, ouvindo as correções e elogios do treinador.
Boa jogada. Dobre menos o cotovelo. Ótimo passe. Coisas do tipo, que eu já estou muito mais do que acostumado.
Esse ano, em setembro, vão completar três anos desde que entrei na Universidade da Califórnia, com a mesma grade de matérias nos três anos – o que eu posso fazer se entrei na faculdade apenas pelo basquete universitário?
Só tenho dois anos completos aqui, basicamente, o que significam mais dois anos até a graduação. E eu já tenho o meu ingresso direto para a NBA. Em agosto do ano passado, fiquei em quarto lugar no ranking de pontos dos Bruins, ficando atrás apenas de três veteranos, que já se formaram. Esse ano, quero ser o primeiro.
─ Ótimo treino. ─ o treinador Atkins bate palmas duas vezes, encerrando o treino.
Saio da quadra, tirando o colete no caminho. Penduro ele no pescoço, caindo em um banco de madeira no vestiário.
─ Aquela cesta foi... uau. ─ Powell diz, de costas para mim, em seu armário. ─ O que você tá fazendo na faculdade, Hacker? Sério?
Dou risada, balançando a cabeça.
─ Você já viu alguém ser draftado depois do ensino médio, Powell? ─ ele balança a cabeça negativamente. ─ Nem eu. E, vai por mim, eu tentei. Mas entre um pirralho que mal alcançou a maioridade e um cara de vinte e poucos anos, saindo da faculdade, de quem você acha que os times vão atrás.
─ Você tem um ponto. ─ ele fecha o armário. ─ Já tem algum em mente?
─ Os Lakers, óbvio. ─ respondo. ─ Seria um ótimo começo.
─ Então você tem objetivos maiores?
─ É claro que tenho. Eu não vou ficar pra sempre no meu primeiro time. ─ tiro o colete do pescoço e me levanto, jogando ele no cesto onde ele deve estar. ─ Mas, se eu não fizer parte do Bulls um dia, vou considerar falha na missão.
Aaron se junta na conversa.
─ Bulls porra nenhuma. Se o Boston Celtics não me quiser quando eu for para o draft, eu me aposento.
─ Você não pode se aposentar se não tiver uma carreira primeiro, Liebregts. ─ Powell retruca.
─ E quem vai me impedir? ─ ele ironiza.
Quinze minutos depois, estamos todos vestindo nossas roupas, depois de uma ducha morna no complexo de chuveiros do vestiário – cada um é separado por um muro de um metro e meio, então é óbvio que ninguém fica vendo o pau do outro.
Joguei a toalha dentro do mesmo cesto onde joguei o colete, e fechei o zíper do moletom que coloquei; jogo o capuz na cabeça e tranco o meu armário antes de sair, com a bolsa pendurada no ombro.
Aaron, Powell e Hux estão conversando no meio do túnel que nos leva para a quadra, e me junto a eles, que voltam a andar.
─ Tô te falando, cara. A Maddy não é essa louca obcecada que parece. ─ Hux insiste, e Aaron dá risada.
─ Ninguém tá falando que ela é uma louca obcecada, Jordan, só que ela deve ter um TOC fortíssimo. Porque, sério, quem passa dez minutos esfregando uma mancha no chão?
─ Ela entrou em pânico porque derrubou a bebida no meu quarto e quis limpar! E vocês entraram no meu quarto sem permissão, aliás.
Powell dá risada.
─ Não sei se isso é muito melhor do que estávamos pensando. ─ ele diz.
─ E o que vocês estavam pensando? ─ Hux pergunta.
─ Que você tem fetiche por fantasia de empregada. ─ Aaron diz, e eu solto uma gargalhada junto com eles.
─ Eu odeio vocês.
Saímos da quadra, ainda rindo, mas a minha risada morre quando encontro um rosto conhecido do lado de fora do ginásio.
─ Boa sorte. ─ Aaron sussurra, e sai com Powell e Huxhold.
Suspiro, observando a garota morena se aproximar de mim, com um sorriso quilométrico.
─ Oi! ─ ela tenta me cumprimentar com um selinho, mas eu viro o rosto, então o beijo pega na minha bochecha.
─ Cindy, e aí? Tudo certo? ─ forço um sorriso. ─ Achei que você não curtisse muito esportes.
─ Eu não curto. ─ ela dá de ombros. ─ Vim te chamar pra jantar.
Ela não desiste mesmo.
─ Cindy, eu já te disse nas últimas duas vezes que você apareceu de surpresa: não vai rolar. ─ vejo a expressão dela cair para tristeza, depois raiva. ─ Não adianta se emputecer. Eu te avisei mil vezes que só quero um lance de uma noite, e você aceitou na boa.
─ Foram cinco noites!
─ Semântica. ─ sorrio. ─ Olha, não me leva a mal, ok? Mas isso... ─ aceno entre nós com o dedo indicador. ─ Não vai acontecer. E não é nada pessoal, eu juro. Você é uma garota legal, linda e tal... Eu só não tô procurando mais que isso no momento.
Como das últimas duas vezes, Cindy sai batendo os pés, provavelmente pensando na sua próxima abordagem.
Encontro meus amigos idiotas no estacionamento do ginásio. Aaron tem um cigarro na boca, Hux tá sentado no banco do motorista, com as pernas para fora, e Powell um pouco mais longe, falando no celular.
Aaron é o primeiro a me notar chegando.
─ Como foi com a CK?
─ CK não é Calvin Klein? ─ Hux pergunta, confuso.
─ Também, mas nesse caso é Cindy Kimberly. O furacão mais insistente da UCLA.
─ A mais gostosa também. ─ acrescento, então suspiro. ─ Ela me chamou pra jantar.
Abro o porta malas e jogo a bolsa lá dentro.
─ E? ─ Jordan insiste, e eu franzo a testa.
─ E o que?
─ Você vai?
Aaron dá risada.
─ Você acha mesmo que ele vai, Jordan? ─ o loiro me olha por um momento e depois dá risada.
─ Não posso, tenho compromisso com a senhorita ─ olho no meu celular. ─ Fallon, em uma hora.
Powell se aproxima, sem o celular a vista, mas com um sorrisão enorme.
─ Que cara de bobo é essa? ─ Aaron pergunta.
─ A Liya tá indo lá pra casa. ─ ele diz e entra no carro. ─ Vamos logo!
Dando risada, Aaron e eu entramos no carro também, e Huxhold dirige.
