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Capítulo 38

Christopher Vélez

Uma das poucas vezes que eu vivi acompanhando os sites de fofoca e a internet no geral, para saber se meu nome já havia esfriado, foi durante essa semana, quando meu plano viria à prática. Estávamos unidos e mobilizados, para que eu visse e conversasse com Giulia sem que mais pessoas tomassem conhecimento disso.

No dia da nossa operação fomos em dois carros, o meu e o de Erick. Zabdiel entraria comigo no prédio para seguir monitorando o local e saber se a barra estava mesmo limpa, caso houvesse movimentação, Richard e Erick estavam a espreita no estacionamento para disfarçar. Não era difícil e não tinha como dar errado, e mesmo com os atrasos na minha consulta, essa primeira parte do nosso plano havia sido impecável. Nada saiu do nosso controle.

Já dentro da sala... Eu não podia dizer o mesmo.

Giulia não parecia só surpresa com a minha atitude, como também um pouco transtornada com a minha insistência e ousadia, além de eu ter visto em seus olhos quanto ela quis me jogar pela janela quando eu tentei quebrar a tensão fazendo piada com ela. Confesso que precisei usar um pouco do poder persuasivo para que ela finalmente cedesse e permitisse que eu falasse tudo que vim falar.

— Vai em frente — indicou, cruzando os braços em seguida.

— Bem, uh, eu, primeiramente, queria te pedir desculpas — falei nervoso — Sei que esses últimos dias foram um inferno para você e que isso só aconteceu por minha causa, então me perdoe, por favor — Seu silêncio acompanhado de um sinal de afirmação com a cabeça foi meu estimulo para retomar a fala — E, sabe? Você estava certa quando disse que eu não sei nada do que aconteceu com você já que eu fui embora. Mas, você também não sabe do que aconteceu comigo. A menos que tenha pesquisado na internet esses dias... — conclui brincando outra vez.

— Christopher...

— Me deixa falar — interrompi-a — Eu sei que você deve ter sofrido, eu vi seus olhos na última vez que nos vimos e eu nunca esqueci aquilo. Seu olhar de tristeza, mágoa e decepção. Mas, isso não significa que pra mim foi mais fácil por ter ido. Quem vai também sofre. E eu sei que você tem muitos mais sofrimentos porque eu te dei muitos motivos pra te magoar, mas também não foi tudo as mil maravilhas pra mim. As coisas não foram perfeitas. E minha ida a Porto Rico foi quase que inútil, já que meses depois voltei a Miami para participar do reality. Eu também me frustrei e tive dificuldades. Ainda mais porque fui te deixando assim, sabendo que você me odiava, que tentaria me esquecer. Tanto que quando cheguei lá no nosso prédio de novo e vi que você não estava mais no apartamento do lado ao meu, pensei que nunca mais te veria, que você tivesse desistido de tudo por minha causa, ou pior, que estava se distanciando justamente porque me odiava a esse ponto.

Ela me analisava paralisada, mantendo firmes seus olhos nos meus, atenta a tudo, o que era um pouco estranho já que eu esperava que ela fosse rebater cada frase minha, no entanto, seu silêncio me era convidativo a seguir, e por isso resolvi continuar abrindo meu coração e expondo como foram esses anos para mim.

— Nesses anos, eu nunca te esqueci. Até porque sempre que eu tentava, olhava pro meu pescoço e me lembrava de você. — puxo para fora da camisa o colar que ela havia me dado, e pela primeira vez desde que comecei a falar gerei outro tipo de reação nela, já que ela desarmou os braços e passou a me olhar surpresa.

— Aquela música que você ouviu foi só uma das primeiras de tantas que eu já escrevi pensando em você, sentindo falta do nosso nós. Sempre que as coisas apertavam eu me via sozinho e me culpava por não te ter comigo, me maldizia por ter feito tudo errado — seus olhos começaram a brilhar, e se eu ainda os conheço bem, poderia dizer que está prestes a chorar. Dou alguns passos em sua direção e tomo sua mão, fazendo com que seu olhar se voltasse para o meu toque, que eu senti que a havia deixado nervosa, como a mim.

— No dia do evento eu não fui falar com você daquele jeito para te intimidar, pisar em você e nos seus sentimentos, te forçar a assumir como se fosse uma questão de fraqueza gostar de mim ainda. Eu fiz aquilo porque queria saber se ao menos uma minúscula parte do seu coração ainda batia um pouquinho mais forte por mim, porque isso me daria cem por cento de esperança, eu estaria disposto a reconquistá-lo, a lutar para que todo o seu coração batesse descompassado por mim. Fosse inteiramente meu outra vez — Eu poderia estar errado, mas as minhas palavras pareciam ter tocado Giulia, já que agora ela parecia lutar para que as lágrimas em seus olhos não saíssem. Imagino que ela esteja se protegendo de demonstrar sua sensibilidade a mim, por tudo que aconteceu. Mais uma vez ela se manteve em silêncio e eu decidi concluir.

— Por isso tudo, que mais uma vez, quero te pedir perdão. Por ter ido embora, ter te magoado e te feito sofrer. Por ter deixado as coisas assim entre a gente. Porque durante todos esses anos eu não tentei te achar... — relutei. Sua mão que ainda estava na minha me apertou, como se estivesse me dando forças para continuar falando — Deixa eu me redimir, te conhecer, te reconquistar... A gente ficou tanto tempo longe, sem se procurar, e agora o destino nos colocou frente a frente outra vez, isso tem que significar algo, a gente precisa fazer alguma coisa!

Giulia respirou fundo, pareceu se recompor ao olhar para o chão antes de voltar a me olhar e se preparou para falar. Era a sua vez, depois de tanto silêncio.

— Eu saí do apartamento para fugir de você. Porque tudo lá me remetia a você. A sua mãe não estava lá temporariamente, mas seria outra lembrança e eu queria me desprender daquilo — ela parecia ter largado as armas, vulgo, orgulho e rancor. Estava falando sincera e amena — Mas, antes disso, eu sofri muito desejando que a qualquer momento você entrasse por aquela porta sorrindo e falando que me queria, que a gente se desfizesse daquele dia horrível e ficasse bem, e isso até aceitar que você não voltaria, e que talvez eu nunca mais te visse. Eu demorei muito para conseguir seguir em frente, tomar ânimo de novo. Não foi nada fácil.

Por um instante, era como se o tempo nunca tivesse passado e eu estivesse de frente para a Giulia de dezenove anos de novo, que era sempre tão sincera e sensível. Que trazia a calmaria para qualquer furacão.

— E por isso que eu não posso te dar a chance que você está pedindo. Eu te perdoo, mas ainda preciso pensar se estou preparada pra remexer essa ferida dessa maneira — confessou.

— Por favor, Giu. Eu prometo que não vai ser nada de mais. E que vou te respeitar, manter todos os limites, que vou somente tentar conhecer você de novo, me aproximar, para, talvez, conseguir ao menos a sua amizade de volta... — pedi.

Ela pareceu ponderar sobre, se afastou um pouco e retornou, ao parecer, decidida.

— Ok. Eu aceito. Você tem razão e talvez seja bom tentar essa conexão de novo, saber o que mudou. Aqui está meu telefone, me avise quando quiser fazer algo — Ela me entregou um pequeno cartão de visitas com um terceiro número adicionado de caneta, provavelmente por ser o seu contato pessoal.

— Te garanto que você não vai se arrepender — pisquei para ela, que sorriu anasalado, zombando de mim, nitidamente — A consulta foi ótima, Doutora. Agora vou deixa-la atender o próximo paciente.

— Você foi o último — disse ainda contendo a risada.

— Olha que eu vou querer ser o último em outras coisas... — brinquei, fazendo-a rir, não conseguindo segurar minha própria risada também.

— Você não ia embora?

— Não precisa expulsar, estou indo! — deixei um beijo curto em sua testa, para que não pudesse esquivar e saí de sua sala contente por ter recebido uma resposta positiva ao meu convite para algumas programações, com puro intuito de conhecê-la e recriar o contato perdido, apenas, que fique bem claro.

Sou um rapaz muito respeitador e comprometido com as minhas palavras, vou seguir a risca o meu discurso, por mais que eu soubesse que seria insuportável me segurar perto dela.

Como já foi hoje, ou até pior.

Best Part • Christopher VélezWhere stories live. Discover now