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Capítulo 40

Christopher Vélez

Esse primeiro "encontro" com Giu me fez estar ainda mais certo do que eu quero. Meu plano era deixa-la nostálgica, levando-a ao XO e como fazia antigamente, preparar o nosso café da manhã. E só de ter visto como ela não deixou que nada a distraísse enquanto estávamos juntos, que focou no que estávamos fazendo, já foi a prova suficiente de que ela também estava levando isso a sério.

Inclusive, ela estava tão livre de distrações e focada em mim que talvez nem tenha percebido o quanto estava me olhando enquanto eu preparava a nossa refeição. Naquele instante eu só desejava que nada tivesse acontecido e que aquele olhar pudesse voltar a ser frequente, porque era seu olhar de carinho, afetuoso, que me mostrava que eu ainda poderia ter expectativas e alguma pontinha de esperança.

Constatei inicialmente que nada nela havia mudado, nem mesmo o seu jeito engraçado e espontâneo, que combinava comigo até nas piadas, nada havia mudado nem sequer um pouco, e eu não poderia estar mais feliz. Trocamos algumas perguntas sobre família, sobre as nossas vidas e confesso que se estivéssemos em um jogo, eu teria ganhado mais 50xp quando ela me contou que havia dado um tempo com Bernardo. Foi como uma injeção de nitro em um carro do GTA. O gás que eu precisava para seguir confiante.

Depois que deixei a brasileira em seu trabalho, fui embora pensando que agora existia a possibilidade de eu ter estragado tudo, já que, esquecendo completamente as minhas promessas e os limites que eu sabia que me haviam sido impostos, eu quase beijei Giulia. Me deixei levar pelo seu olhar terno, sua expressão serena, divertida — e por vezes envergonhada de me ouvir falar as verdades absolutas de maneira direta —, passando a tocá-la e admirá-la como antes fazia, desejando ter a mesma liberdade para voltar a fazê-lo com naturalidade e sempre. Vi quando sua língua molhou rapidamente seus lábios e eles me pareciam ainda mais desejosos, mas por um pingo de sanidade que me restou, acordei do devaneio e pousei somente um beijo casto perto de seus lábios.

Eu já lhe havia deixado claro a minha intenção e vontade, então somente esperei que ela entendesse que isso não foi de caso pensado a invadi-la ou burlar o combinado, e sim porque, naturalmente, sucedeu. Porque era uma guerra constante dentro de mim quando eu estava perto dela. Meus braços queriam abraça-la forte, minhas mãos queriam voltar a conhecer todo seu corpo, minha boca queria sentir novamente seu gosto, assim era o retrato da sensação insuportável tê-la tão perto e não poder fazer nada disso. Ao menos, pude usar como inspiração para o trabalho que começamos a fazer no estúdio.

E mesmo com esse pequeno incidente, ou quase isso, eu mal podia esperar para vê-la de novo e contava os minutos para que fosse amanhã e eu passasse a busca-la outra vez.

***

Eu já havia passado o dress code do nosso segundo encontro e foi uma ótima experiência voltar a ver Giulia usando jeans, um moletom e all star ao invés de todas aquelas camadas de roupas brancas que ela usava no consultório e o clássico salto médio que agora não a abandonava.

— Você também me acha estranha voltando a sair assim? — apontou para seu próprio corpo assim que saímos do carro.

— Na verdade, eu estava com saudades de não te ver fantasiada de dentista! — brinquei, recebendo uma tapa leve no braço pela piada. Fui até a mala do carro e peguei os dois skates que havia trazido além do capacete e das joelheiras, porque sim, este é o date: ensiná-la a andar de skate, e para isso a trouxe até a pista de skate que tem numa praça do meu bairro.

Coloquei nela os aparatos de proteção porque sabia que não seria difícil que ela caísse e tudo que eu não queria era que ela se machucasse.

— Christopher, me prometa que não vai soltar minha mão, que não vai me deixar para trás e que não vai me deixar cair — falou subindo no skate, arrancando de mim uma risada alta.

Best Part • Christopher VélezWhere stories live. Discover now