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Denver, Colorado.
24 de março de 2017.

A recepcionista me encara por um instante antes de descer os olhos para a tela de computador em sua frente. Ouço o digitar do teclado e instantes depois ela me encara novamente.

"Ela não costuma receber visitas. O senhor é algum parente?" A desconfiança é notória no seu tom de voz.

"Não." Nego com a cabeça rapidamente, pegando a minha carteira no bolso para mostrar a ela a minha identidade. "Eu sou um amigo do filho dela e como ele não pôde vir vê-la, eu vim no lugar dele."

Entrego a ela a minha identidade e ela a observa por um instante, antes de arquear as sobrancelhas disfarçadamente.

"O senhor é o Harry Styles? Aquele que foi sequestrado?" Seus olhos se erguem e se arregalam de leve quando ela volta a me encarar.

Tenho vontade de responder que sim, que  inclusive estou aqui para fazer uma visita a mãe de uns dos meus sequestradores, mas me limito a responder apenas:

"Sim. Sou eu."

Assim que respondo, percebo que sua postura defensiva muda completamente e seu semblante se abre de forma natural.

As pessoas devem realmente ter empatia por sequestrados.

"O senhor tem sorte. Ela foi transferida para o quarto há dois dias. Se tivesse na CTI eu não poderia liberar a sua visita porque não é familiar." Ela diz e me entrega um cartão de acesso junto com a minha identidade. "Quarto andar, quarto 402."

"Obrigado." Respondo com rapidez e me viro.

A ansiedade toma conta do meu corpo quando começo a caminhar pelo corredor largo de granito claro. Avisto os elevadores e sigo em direção a eles, apertando o botão e tentando me acalmar.

Não sei o que irei encontrar. Não sei como vai ser conhecê-la. Talvez ela não esteja tão debilitada, talvez esteja lúcida, talvez não queira minha visita e me rejeite ou talvez todas as opções estejam erradas. Eu sinceramente não sei o que esperar.

Assim que a porta do elevador se abre, eu entro e aperto o botão de número quatro, tentando respirar fundo para não transparecer o meu nervosismo. Quando a porta se abre novamente, caminho pelo corredor, procurando entre as portas até parar diante do quarto número 402. Solto uma respiração pesada antes de bater três vezes e girar a maçaneta. 

Ouço o barulho baixo de uma televisão e passo pelo banheiro até chegar próximo a cortina que tampa o restante do quarto. 

"Johannah? Eu posso entrar?" Pergunto antes de avançar, mas não obtenho nenhuma resposta.

Dou mais alguns passos e vejo o pé da cama. Quando meu olhar sobe para a cabeceira, vejo a mãe de Louis com os olhos fechados, aparentemente dormindo. A cabeça sem nenhum cabelo está enfaixada e seu semblante parece pacífico enquanto um leve ressonar sai de seus lábios, contratando com o barulho dos aparelhos que medem os seus sinais vitais.

Me aproximo cautelosamente e puxo a cadeira, me sentando ao lado da cama. Levo a mão trêmula até a dela e passo levemente os meus dedos sobre os seus.

"Johannah?" Chamo mais uma vez, dessa vez bem baixinho.

Ela pisca as pálpebras com os olhos ainda fechados e começa a abri-los lentamente. Quando ela vira levemente o rosto e me encara com os olhos azuis exatamente iguais aos de Louis, eu percebo o quanto eles se parecem. Sua pele é pálida, seus olhos estão fundos, a boca sem cor e levemente rachada, mas o olhar ainda é tão vivo quanto o de Louis.

EXTORSIONÁRIO [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora