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Denver, Colorado.
07 de junho de 2017.

Caminho de um lado para o outro no corredor sem saber o que fazer. Meu corpo treme tanto e meu peito parece estar sendo esmagado por um trator.

Eu não consigo acreditar que ela se foi.
Eu não consigo aceitar que ela morreu comigo.

Eu não deveria ter ido buscar a água, eu não deveria tê-la deixado partir com sede.

Meu coração dói e eu não sei como reagir a isso. Não paro de pensar em Louis. Não consigo parar de pensar que ele não vai ter a oportunidade de velar o corpo da mãe, de enterrar, de se despedir.

Estou atordoado quando vejo uma movimentação no quarto e me aproximo, vendo um homem, que deve ter em média quarenta anos, conversar com uma das médicas. Seu cabelo escuro e seu nariz pontiagudo são os primeiros detalhes que reparo em seu rosto bronzeado. A jaqueta preta de couro adorna o seu corpo e seus olhos castanhos escuros me encontram quando eu me aproximo.

"Você é o Harry, não é?" Ele pergunta e eu assinto inseguro. "Eu sou o Hilton."

Ele estica a mão para mim e eu a aperto brevemente. Não sei ao certo o que dizer quando nossas mãos se soltam, mas ele permanece me olhando. Louis provavelmente falou de mim para ele.

"O hospital entrou em contato comigo e eu vim resolver os próximos passos. Eles vão liberar o corpo em duas horas. Eu vou providenciar o enterro essa madrugada."

"E Louis?" É o que eu consigo murmurar com a voz chorosa e fraca.

"Eventualmente eu terei que contar a ele."

"Eu vou vê-lo amanhã." Digo baixinho.

"Você quer contar?" Ele pergunta com cautela.

"Eu não sei consigo." Engasgo me embolando em pensamentos. "Mas também não sei como vou conseguir ver ele amanhã e ser capaz de esconder isso."

Ele me encara por um instante. Seu semblante é fechado, porém, gentil. Ele não me parece uma pessoa ruim, mas eu sou péssimo em julgamentos.

"Pense a respeito." Ele diz baixo. "Acho que o baque vai ser um pouco menor se ele ouvir vindo de você."

Aceno brevemente com a cabeça e tento ponderar. Não sei como darei essa notícia, mas se ele acha que será melhor que eu dê, então irei tentar.

"Eu vou avisar aos poucos familiares para se preparem para se despedir."

Ele se afasta buscando o celular no bolso e eu fico parado em frente a porta. Não quero entrar no quarto e sei que eles estão preparando para removê-la da cama.

Sigo pelo corredor até achar três cadeiras vagas. Me sento e começo a embalar meu corpo.

Estou sem rumo. Meus olhos pesam e eu permaneço sentado na cadeira sem saber o que fazer. Meu choro cessou, mas o meu desespero não. Eu não consigo acreditar que Louis não está aqui. A essa hora ele não faz nem ideia de que a mãe dele partiu.

Sei que ela descansou. Que a dor finalmente acabou. Mas o meu sofrimento é por Louis.

Não tenho noção do tempo que se passa, mas quando vejo Hilton se aproximar do balcão das enfermeiras, eu vou até ele.

"O que você vai fazer agora?" Pergunto, ainda desnorteado.

"Estamos indo para o cemitério onde ela será velada por algumas horas e será enterrada às cinco da manhã."

Eu ainda não consigo acreditar, mas respondo de prontidão:

"Eu quero ir."

"Você quer ir comigo?" Ele pergunta.

EXTORSIONÁRIO [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora