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ㅡ Professora Anong?! - soou hesitante, mas, pela primeira vez em muito tempo, com um fiasco de emoção na voz.

ㅡ Sou eu!

ㅡ Meu Deus, quanto tempo! Que saudade!!!

ㅡ Também sinto muitas saudades, favoritinho.

ㅡ Como a senhora tem passado?!

ㅡ De novo essa história de senhora, Pran?!

O menino sorriu.

ㅡ Desculpe, me esqueço que você é uma mocinha. 

ㅡ Gratidão. Eu estou ótima! Sem você para aturar tudo fica mais fácil, sabe?

ㅡ Ah, tá. Até parece. Morre de amores por mim, eu sei!

ㅡ Ah, eu morro mesmo. Só não tanto quanto você.

ㅡ Ai... isso é verdade.

Ouviu a mulher gargalhar do outro lado da linha e sorriu, enxugando os resquícios do rosto molhado.

ㅡ Escuta, o que vai fazer nesse fim de semana? Se falar que vai estudar eu mesma vou aí esganar você.

ㅡ Você e sua bola de cristal.

ㅡ Que pena, não vai mais. Virá me visitar.

ㅡ Woah... na sua casa?! A que devo essa honra?

ㅡ Você e suas picuinhas, né? Vou mandar alguém ir te buscar amanhã às dez, pode ser?

ㅡ Combinado. 

Por mais que sempre estivesse adiantado, não queria se atrasar para aquela manhã tão especial. Acordou três horas antes e vestiu suas melhores roupas - se tinha alguém que sempre queria impressionar, era ela. - Anong não era só sua professora preferida, era sua maior inspiração. Desde sua ingressão na faculdade, lá estava ela, com seu sorriso frouxo e piadas que só eram engraçadas por causa de sua risada, sem modo algum, sem nenhuma amarra. Era uma mulher de uns cinquenta anos de idade, mesmo que não aparentasse e apesar de sempre mentir sobre para quem fosse que a questionasse. Em suma, era a pessoa mais leve e descontraída que Pran havia conhecido. Talvez por ser tão diferente dele, era que a admirava tanto. Queria aprender a ser como ela, a não se importar com nada. Dentre as milhares de lições que havia o ensinado, a mais memorável era ''se a vida é curta e você sabe, vai desperdiçá-la buscando fazer o certo, mesmo que ele te afaste da sua felicidade?'' Para Pran, que havia acabado de escolher um curso contrário ao desejo de seus pais, ouvir aquilo foi a coisa mais gratificante do mundo inteiro.

Antes mesmo de descer do carro, ficou maravilhado. Depois de passarem pelos portões, tudo que viu foi árvores e flores, milhares de ambos, cuja espécies acreditou nunca nem ter visto. Poderia caber um quarteirão inteiro naquele jardim. Assim que o motorista abriu sua porta, lá estava ela, em um de seus chiques vestidos longos, pronta para recebê-lo com um abraço caloroso e um afago nos cabelos.

O primeiro cômodo, assim que atravessavam a grande porta, era a sala. Nela, grandes sofás de couro da cor beige, um lustre enorme logo acima deles, uma estante repleta de vasos e acima dela uma televisão que aos olhos de Pran mais parecia uma tela de cinema. Ao lado, uma escadaria longa, todos os tons do cômodo numa linda harmonia entre o transparente do vidro e o branco do mámore.

Foi lá que conversaram sobre todos os tópicos possíveis enquanto comeram todo tipo de comida possível. Apesar de ter recusado no início, Anong o conhecia bem e ele sabia: de uma forma ou de outra, sairia dali bem alimentado. Desde o início, foi uma das coisas que a mulher se certificou de fazer.

Talvez por ter saído da rotina, de alguma forma, naquele momento, se esqueceu do que havia o levado à tê-la. Depois do almoço que se assemelhava a um banquete, decidiram caminhar pelo jardim, onde Pran aprendeu no mínimo trinta nomes de plantas diferentes e suas propriedades. Sentados aos pés de uma grande árvore, fizeram tricô, crochê, bordaram, jogaram sudoku, damas, e até caça palavras. Mesmo nesses momentos era difícil para a mulher se manter calada, e Pran, é lógico, dava toda a trela que podia. Independente do fato de que só não se viam a dois meses, tinham assuntos para dar e vender. Quando se deram conta, já era tarde. 

Teacher's ManualWhere stories live. Discover now