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Distraídos por conversas paralelas, só o perceberam quando estavam poucos passos de distância da porta onde o homem estava escorado. Pran apertou a mão de Pat com força, sentindo o peito apertar também. Tinha vontade de correr para o mais longe possível dali porque não sabia o que poderia acontecer, mas ao mesmo tempo queria ficar e provar tanto para ele quanto para si mesmo que estava tomando a decisão certa. Os três, imóveis, trocavam olhares, que tentavam decifrar um ao outro.

Pat tinha uma feição firme, determinada. Sua pose expressava a disposição por proteger o mais novo enquanto o mantinha atrás de si, deixando claro que se sentia ameaçado. Já Pran tinha olhos confusos, intercalados entre os dois mais velhos, tentando ler seus pensamentos e intenções. Wai, por mais incrível que pareça, carregava no rosto um sorriso. Não era grande, tampouco feliz, mas era um sorriso.

ㅡ Você está bem?

A ausência de ironia na voz surpreendeu o casal. Pran assentiu com a cabeça e respirou fundo, dando um passo adiante na tentativa de esconder a hesitação.

ㅡ ... e você?

Wai comprimiu os lábios, levantando os ombros sutilmente.

ㅡ Acho que sim.

Seus olhos foram em direção ao homem no fundo, mas logo se voltaram à Pran. Sentia um nó na garganta e um aperto incrivelmente doloroso no peito, mas não podia se esquecer do motivo pelo qual estava ali.

ㅡ Podemos conversar? Só eu e você.

ㅡ Não. - Pat respondeu por Pran, o colocando atrás de si novamente. ㅡ Vocês podem continuar conversando aqui.

ㅡ Pat, na boa... não vim aqui pra brigar.

ㅡ Não estamos brigando.

ㅡ Pat... - Pran interrompeu, acalmando o homem quase automaticamente pela suavidade em seu tom de voz.

ㅡ Não vou deixar ele sozinho com você, Pran.

ㅡ Você está no quarto da frente... nada vai acontecer... tá?

Mesmo relutante e oposto à situação, o mais velho concordou com a única condição de que ficaria ali até que a conversa acabasse, e assim fez. Não buscava ouvir o que conversavam, mas estaria atento a qualquer tipo de som inesperado.

Pran colocou sobre o sofá a pequena mochila que carregava, repleta de pequenas lembranças enviadas pela mulher que o hospedara na noite passada. Se sentou ali e esperou que o amigo fizesse o mesmo, ouvindo seu alto suspirar.

ㅡ Eu não queria ter te deixado sem notícias-

ㅡ Não... não quero satisfações. Eu não sei se você ainda acredita em mim depois de ter enxergado o que eu te fiz, mas... eu vim para esclarecermos isso.

Pran sentiu uma pontada de esperança no peito. Esperou pacientemente para que o menino começasse a falar, e a cada frase que saía de sua boca, mais se surpreendia.

ㅡ Não posso dizer que estou totalmente conformado e... satisfeito com isso, embora eu soubesse que iria acontecer. Acho que quando percebi que você não ia me atender mais, eu assimilei as coisas e desisti. Na verdade, eu estava determinado a cumprir o que havia te prometido até a Ink chegar, e por isso acho que... precisamos de uma segunda chance. Eu principalmente. Ela... ela me fez entender muita coisa. Acho que o tapa serviu para colocar minha cabeça de volta no lugar.

ㅡ Ela te bateu?! - interrompeu, um tanto surpreso.

ㅡ Umas boas vezes. Mas eu sei que merecia muito mais do que isso. E que a dor dos tapas dela não chegam nem perto da que eu te fiz sentir. Teve... uma hora em que... eu olhei para ela com muita raiva e acho que ela pensou que eu fosse bater nela... ela me olhava do mesmo jeito que você, sabe? Quando eu me estressava. O medo na cara dela era tão óbvio, mas ela falava como se tivesse toda a coragem do mundo... parecia que era você ali na minha frente e aquilo foi tão... não sei, me trouxe de volta para a realidade, sabe? Eu acordei. Aí eu entendi porque eu fiz tudo o que eu fiz. Óbvio que não justifica, mas... agora eu entendo. Eu não parei para pensar sobre o que eu tava sentindo e isso ferrou comigo. Com você, com... todo mundo.

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