Cap.23: Temos visita, querida

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"-Você roubou minhas uvas, Bill! - ela gritou com uma falsa revolta. -Seu ladrão!

Com uma força patética, ela arremessa uma maçã em mim. Como vingança a deito em nossa cama improvisada na grama e seguro seus pulsos sem machucá-la. A minha "prisioneira" abriu o mais lindo dos sorrisos e não consegue mais controlar aquela risada tão saborosa de ouvir. Não pude evitar e cair na tentação de aproveitar aquele momento. Enterrei meu rosto naqueles volumosos cabelos castanhos e me permitir sentir aquela fragrância adocicada que era o seu cheiro natural. 

Um vício. Era assim que poderia descrevê-la. A sua beleza, sua voz, seus abraços, nossas conversas, suas travessuras, a sua presença! Tudo relacionado a essa mulher era um vício que eu não tinha planos para me abdicar dele.

-Bill, não seja tão sufocante. - seu riso, que sim maravilhoso. -Assim irá criar uma bagunça em meu cabelo.

-Não posso evitar. É tudo tão bom com você. - a prendo em um abraço. 

-Graças a Deus meu corpo é apenas reservado a mulheres, homens são tão difíceis de lidar. - ela se senta e permite que minha cabeça repouse em seu colo. -Falando em homens, e aquele rapaz que você estava se encontrando? Será que o amargo Bill Cipher se apaixonou?

-Não fale bobagens. - seus dedos deliciosos trabalham uma trança em meu cabelo comprido. - Paul é apenas um caso passageiro, logo logo, eu possa encontrar outro ou outra para substituí-lo. Sendo sincero, o amigo dele é mais interessante.

-Você não vai sossegar nunca? Eu aposto que um dia, Bill, alguém vai te deixar tão cego de paixão que essa pessoa vai te dar ordens e você vai obedecê-las como um cão que tenta agradar seu dono. 

Reviro meus olhos para tal bobagem. Isso nunca iria acontecer"

E estava acontecendo.

-Cecília Potter, você é uma vidente traiçoeira. - sussurro para mim mesmo.

A viagem de retorno para Gravity Falls está sendo mais agradável do que a viagem de dias atrás. Não havia conversas, flertes, ameaças (nem sei mais dizer qual era o tom das nossas conversas), mas o clima bonançoso era o que reinava entre nós dois, até agora.

Penso que tocar no assunto daquela última conversa ainda seja muito perigoso, se for necessário ter toda cautela para ter Mabel ao meu lado, então eu teria. Precipitações já foram motivos de planos arruinados na minha vida, correr mais um risco com um bem tão precioso como ela é inaceitável. Não posso me dar ao privilégio de perder essa chance vinda dos céus, literalmente dos céus. 

A essência angelical da minha esposa é tão forte quanto era a de Cecília. Emana dela como o calor do sol! Eu estava certo quando a achei e disse aos meus irmãos "Eu encontrei alguém e minha intuição diz que agora é a correta". Eu talvez possa ter dito isso com trinta humanos diferentes, talvez, porém agora era tão certo quanto nunca em todos esses milênios desperdiçados na Terra.

Com o passar das eras a essência dos descendentes dos anjos foi esfriando e até desaparecendo de algumas linhagens, e isso só tornava nossa busca mais árdua. Nunca era o suficiente para nos levar de volta para casa, nossa fúria misturada com saudades emaranhava nossos sentidos. E foram erros atrás de erros e sangue atrás de sangue. Teorias e palpites inúteis, era disso que nossa busca se constituía. 

Eu estava tão cansado quanto Kill e Will. Só que eu não iria abrir mão da minha fonte angelical dessa vez, não como fizeram com a Cecília. 

Cecília. Minha primeira esposa amada, nosso amor era a mais pura das amizades, uma leal confidente e uma ótima sedutora de mulheres comprometidas. Sim, eu me casei com uma que amava outras mulheres, foi estranho no início confesso, no entanto ela me incentivava a ter meus amantes masculinos. Uma dupla que era o terror da igreja. Ainda sinto sua falta. Só que lamúrias do passado não deveriam ocupar espaço nessa nova expectativa do futuro. "Segure firme essa mulher antes que eu a roube de você", era o que Cecília diria.

Seja uma boa menina (Mabill)Where stories live. Discover now