Cap.30: M-A-R-I-D-O

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O dia mais longo da minha vida, esse foi o dia mais longo da minha vida. Segundos se transformando em minutos, minutos se transformando em horas, horas se transformando em dias, dias se transformando em semanas, meses, anos, décadas, séculos, milênios… Os ponteiros do relógio me torturavam lentamente. Como era possível o tempo ser sempre o mesmo e diferente a cada momento em que eu pensava nele?

Mas por que culpar apenas o tempo pelas minhas ansiedades, se também posso culpar meu marido?

O certo seria dizer que meus sentimentos por ele eram os reais culpados pela agonia nesse longo dia. Foram meus sentimentos pelo homem loiro que fizeram que surgisse a ideia de que seria gentil da minha parte preparar um dia para ser o seu suposto aniversário. Foram esses sentimentos que me colocaram na constrangedora situação da cozinha. Onde estava meu pudor quando coloquei meus dedos da boca quente dele? Mas quem deu moral para uma adúltera libertina questionar sobre pudor? Heiko me diria se soubesse dessa cena. E esses sentimentos que também colocaram a coragem em meus dedos para escrever aquela carta. No momento em que a escrevia, no momento em que a lia e tinha a certeza que estava perfeita. Porém ela não devia ter sido tão perfeita quanto planejei, pois não houve um retorno.

Quando enviei Waddles com carta esperei por horas, com as portas dos meus aposentos abertas, esperando que ele aparecesse com as cartas em mãos e palavras de conforto para me dizer. Ele não fez. Tudo bem, uma noite seria o bastante para fazê-lo refletir e de manhã poderíamos conversar. Ele não compareceu, ele partiu antes do meu despertar para ir ao escritório. 

Ele preferiu o trabalho a conversar comigo sobre minha carta, se é que ele havia lido a carta. Ainda havia a possibilidade de que ele quisesse jogar meu jogo também, demorar semanas para ler e meses para ter uma resposta. Seria justo para ele, mas um inferno para mim. 

Não devia me afetar tanto assim, eu dizia ao meu coração. Contudo ele não quis me ouvir e permitiu que a tristeza ocupasse todo o espaço. Eu estava muito triste porque meu marido não tinha conversado comigo, céus eu era tão ridícula! E as minhas teimosias infantis não pararam em apenas um amargor na boca causado pela tristeza. Eu me recusei a comer pelo resto dia, nenhuma comida despertava o meu desejo. 

Sentido culpa e vergonha, passo esse dia longo em minha cama despejando maldições ao tempo e contra mim. A culpa dizia em meu ouvido de que Bill havia achado todas minhas ações uma grande piada trágica, alguém como ele não tinha o menor interesse em um dia de aniversário e provavelmente todo aquele suposto sentimento que ele sentia por mim ontem se transformou em lástima pensando em como sua esposa era tão patética. E em meu outro ouvido a vergonha me dizia que quando Heiko soubesse de tudo isso, diria que eu estava me humilhando pela atenção de alguém que tinha o interesse finito em mim e que ele estava certo sobre as mudanças de Bill.

E Deus se ele estivesse certo? Se eu fiz Bill se afugentar com aquelas minhas tolices? Então de nada adiantaria minha ansiedade nesse longo dia e só teria os braços de Heiko para encontrar um conforto? Mas eu queria meu marido. 

Não sei dizer quando o sono me abateu, mas posso dizer que ele fugiu quando eu senti uma mão tocar em meu ombro. 

-Mabel… Mabel. - um sussurro no meu ouvido. 

As mechas loiras de cabelo refletiam a luz de uma vela e olhos escuros preocupados procuravam os meus olhos sonolentos.

-Mabel. - Bill me chamou mais uma vez. -Por que passou o dia sem se alimentar?

Nas primeiras noites vivendo na mansão, eu passava as noites acordada com medo que Bill fosse entrar em meu quarto e tentar reivindicar a consumação do casamento. Ele nunca veio. Porém aquelas noites me ensinaram uma lição, saber as horas pela posição da luz da lua em meu quarto. E pela posição da luz essa noite, já havia passado da meia-noite. 

Seja uma boa menina (Mabill)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora