Cap.27: Animal rosado

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Uma das beleza da Terra que eu mais admirava, era suas mudanças de estações. Ano após ano, aconteça o que acontecer, pessoas nasçam e morram, até com atrasos e adiamentos. A natureza nunca falhava em cumprir  suas mudanças. A humanidade nos últimos anos vêm pensando que está dominando a natureza, uma falsa sensação de superioridade. Eles sempre se curvam a natureza, leve o tempo que for, sempre estará aos pés da grande natureza. 

Mesmo com toda minha superioridade em relação às criaturas mortais ao tempo, dei o devido valor da minha servidão à natureza. Minha servidão era admirá-la, adorá-la, ser o seu servo mais apaixonado. E mesmo que eu voltasse para o meu real lar, do meu coração nunca sairá minha servidão a ela.

A gélida brisa matinal beijou minha face no momento em que as janelas do meu quarto foram abertas por Cordélia. 

-Dormindo outra vez na cadeira, senhor?

-Eu não… - alongo meu corpo sem ainda sair do assento. -Eu não dormi, apenas revirei a noite olhando as estrelas. A visão dessa janela é perfeita. Apenas isso. 

-Se é o que diz… - ela andava pelo quarto reorganizando minhas anarquias. 

O ar frio torna-se predominante em todo ambiente, o inverno se aproxima. Centenas de anos me fizeram criar apego pelo ritual de algumas criaturas da floresta, passar boa parte desse período álgido escondido em enormes cobertas aproveitando seu calor e me embriagado com o máximo de álcool que estiver em minha residência. É assim que um bom inverno deve ser aproveitado, pelo menos essa era minha visão. 

No inverno passado, tranquei-me no meu quarto por alguns dias. Não estava me escondendo de Mabel, não necessariamente como um animal indefeso. Ela era o animal indefeso, ainda com o ar de modo e ameaças reinando por toda mansão, era muito difícil nos mantermos em um lugar sem eu receber seus olhares raivosos e assustados, e meu reflexo era ser o grande esposo malvado com minhas proibições e palavras bárbaras a qualquer movimento seu que me trouxesse fúria. 

Posso dizer de forma superficial que eu tinha uma antipatia por minha esposa, sentindo-me superior e na razão de me portar como tal. Isso mudou, com uma tolerância maior a sua presença e suas manias, vindo com uma necessidade de mantê-la por perto. Meu receio era que esse sentimento fosse apenas uma resposta ao meu antigo vício pela essência que os anjos expeliam quando estavam confortáveis, se este fosse o caso, era apenas encontrar outro descendente de anjo e trocar um vício pelo outro. Logo a veria como mais uma humana comum nesse mundo. 

Contudo, se toda essa minha devoção a atenção dela fosse uma paixão realmente, a paixão foi descrita por tantos poetas apaixonados por suas musas. Eu estou condenado. Não haveria forma de substituí-la por nenhum outro humano nem em mil anos haveria alguém que me provocasse como ela faz. E essa ideia me assusta. A possibilidade de que o grande Bill Cipher possa estar à mercê do coração de uma mulher é tão assustadora quanto a minha expulsão da presença de Axolotl.

-Irá passar o dia sentado nessa cadeira olhando para uma janela? - Cordélia questiona. 

-Não importa. - dou os ombros. -Não quero ir para a cidade para apenas me sentar e ouvir pessoas idiotas falando sobre suas idiotices.

-Então… - ela coloca a mão em meu ombro. -Por que não passar o dia com seu animal rosado?

-Waddles? Ele é mais de Mabel do que meu, mas ela disse que eu era o "pai" do porco e…

-Eu estou falando da sua esposa, senhor. - ela diz friamente. -Ela é o seu animal rosado. 

Virei-me para questioná-la sobre chamar Mabel de "animal rosado", mas ela já não estava mais ao meu lado. Era assim que ela via minha esposa?

Seja uma boa menina (Mabill)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora