two

802 95 18
                                    

— Sorria! — disse o fotógrafo da Mont Blanco enquanto Penny e eu descíamos a grande escadaria para o salão de jantar.

Por costume, joguei o cabelo pra trás e abri um sorriso deslumbrante, enquanto Penny se abaixava para não ter que sair na foto.

— Obrigado, Sr. Tomlinson — disse o fotógrafo, apressando-se em cuidar para que as fotos fosse postada em cada mídia social e site de fofocas, enquanto as pessoas ao pé da escada me olhavam, apressando-se para pegar as próprias câmeras e celulares.

Eu sabia que o fotógrafo só estava fazendo o trabalho dele, assim como eu só fazia o meu.

Mas uma parte de mim ficou mais triste que nunca.

— É ele — ouvi várias pessoas murmurando ao pé da escada. — Louis Tomlinson. Sabe, o modelo famoso? Ele está na capa de todas as revistas do país, e só tem 18 anos.

— Ai, desculpe — disse Penny, correndo de volta até mim e pegando meu braço. — Não foi tão ruim, foi?

— Está tudo bem — respondi.

É claro que era mentira. Eu sentia em mim o olhar de cada pessoa presente no salão, e meu rosto começava a ficar quente.

Evidentemente, seria diferente se ele estivesse em algum lugar daquele salão... O sombrio misterioso. Seria incrível se ele se aproximasse e dissesse, "Olá, Louis. Esperei a minha vida toda por alguém como você. Eu sabia que viria", e ele não estaria querendo dizer alguém com o rosto parecido com o meu, mas alguém que pensasse como eu.

Mas, como sempre, isso não aconteceu. Quem nos recebeu ao pé da escadaria foram os caçadores de autógrafos de sempre — mas eu sabia que era um erro reclamar de gente me julgando com base na minha aparência, enquanto eu os julgava com base na deles.

Ainda assim, quando um deles pediu para tirar uma foto no celular comigo e eu concordei (só pra ser educado), ele me segurou com força demais e depois cochichou:

— Olá, meu nome é Stanley. Me encontre no cassino mais tarde, está bem?

E então deu um apertão na minha bunda. Eu dei uma cotovelada forte nas costelas dele e respondi:

Não.

Tudo isso só provava (na minha opinião) que eu não estava errado em ser tão crítico. Se eu ganhasse um dólar por cada cara como Stanley que conheci desde que entrei na profissão de modelo — o que só fiz por necessidade, para ajudar a pagar parte da divida que acumulamos com as contas médicas de meu pai —, seria rico o suficiente para pagar por... Bom, pelo meu próprio mordomo.

— Sr. Tomlinson? — Outro jovem de smoking tocou meu braço.

Era um jovem atleta popular e muito bonito, e que namorava muitas pessoas, tanto homens como mulheres. Ele não precisava se apresentar — o reconheci  na mesma hora —, mas ainda foi uma graça quando ele falou:

— Oi, meu nome é Niall Horan.

Os olhos de Penny brilharam como duas árvores de Natal.

— Aimeudeus — gaguejou ela. — Aimeudeusaimeudeus. Desculpe, mas isso é demais. Eu sou, tipo, a sua maior fã. Acho você demais. Sabe aquele gol que você fez do meio do campo na semifinal contra a Argentina no ano passado? Aquilo foi... Foi... Foi...

— Demais? — perguntou Niall, erguendo uma sobrancelha.

— Aimeudeus — concordou Penny, sem folego. — Sim.

— Acho que tenho uma camisa sobrando que posso lhe dar, se quiser. — Niall abriu o mais leve dos sorrisos.

Os olhos da Penny quase saltaram das órbitas.

— Você... Se for demais, pode me dizer... Mas eu literalmente morreria se você concordasse... Você... pode autografar? — perguntou ela.

— Mas é claro — disse ele. Penny ou não notou, ou não se importou, quando ele colocou o braço despreocupadamente em volta dos meus ombros para que todos os passageiros em volta vissem e tirassem fotos da gente com os celulares.

De repente entendi porque era tão importante para minha mãe que eu a acompanhasse na sua lua de mel. Não era só para que pudéssemos tirar férias juntos pela primeira vez como família. Era porque assim eu poderia conhecer Niall.

E Penny não era a única torcedora de futebol da família. Minha mãe também amava, acredite ou não.

Mamãe podia ter sido demitida do emprego no laboratório médico que trabalhava — ela tinha faltado demais para cuidar de meu pai antes dele morrer, e os chefes ficaram cada vez mais frustados e acabaram contratando alguém para ficar no lugar dela —, mas achava que sabia como prever um determinado resultado, em especial a partir do que considerava resultados anteriores.

Que pena que seu conhecimento se entendesse apenas à medicina, e não ao coração do próprio filho.

Observei o salão de jantar, então encontrei mamãe olhando esperançosa na minha direção. Ela sorriu e ergueu as sobrancelhas, pensando ter feito um trabalho maravilhoso de casamento.

Ah, mãe. Sorri para ela, sem querer ferir seus sentimentos, e me virei para Niall.

— Oi — falei para ele entre dentes enquanto sorria para todas as câmeras. — Meu nome é Louis Tomlinson. Essa garota loira à direita é minha irmã, Penny. Ela gosta de você. Mas, se a magoar, vou espalhar o boato de que você tem um toquinho de...

— Não se preocupe — interrompeu Niall, abrindo o sorriso mais largo que podia. — Gosto de garotas que entendem de futebol. — Alto o suficiente para Penny ouvir, ele perguntou: — Por acaso vocês não vão comer na mesa do capitão essa noite, vão?

Penny deu um gritinho:

— Sim, vamos!

— Que coincidência — disse Niall, o sorriso começando a parecer genuíno. — Eu também.

Monster ➳ l.sWhere stories live. Discover now