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Percebi que mal haveria ao sentir minhas pálpebras ficarem mais pesadas a cada minuto enquanto Penny e Niall trocavam as histórias mais chatas de esporte que já ouvi, agora acompanhadas por vídeos no computador dele.

Serei a primeira pessoa no mundo a morrer de tédio em um cruzeiro, pensei, olhando a imensa suíte de Niall e procurando um livro, qualquer um. Mas ele não parecia ser muito de ler.

Só havia uma televisão e muitos, muitos vídeo-games. 

A suíte também era uma bagunça. Ele e o colega — o companheiro de time Liam, que ainda não voltara do cassino — recusavam-se a deixar que o mordomo daquele andar entrasse no quarto, proclamando que ele era mariquinhas, seja lá o que aquilo significasse.

— Louis. Louis. — Abri os olhos depois do que pareceram horas e vi Penny inclinada sobre mim. Ela ria. — Ah, Louis, desculpe. Acabamos com você. Foi um longo dia e sei que deve estar exausto. Por que não volta para nossa cabine? Você tem a chave, não tem?

— Claro que tenho — respondi, sentando-me.
Ao que parecia, eu adormeci no sofá de Niall. Ele estava sentado do outro lado da mesa de centro, ainda olhando o computador.

— Ah, você vai adorar essa, Pen — disse ele. — A partida com a Alemanha em que acertei a cabeça de um câmera com a bola.

— Não quero deixar você sozinha aqui — argumentei, cansado, lembrando-me de todas as histórias de terror que ouvi sobre meninas em cruzeiros. Nenhuma delas, verdade seja dita, envolvia Niall, mas nunca se sabe.

Penny riu.

— Louis. — Ela me colocou de pé. — Sei me cuidar. Vá para a cama. — Ela me entregou meu paletó e meu cinto, que tinha tirado porque estava me apertando demais. Depois me empurrou em direção à porta. — E além do mais — cochichou — lembra quando eu disse que queria enlouquecer um cara de desejo algum dia? Bom, acho que posso ter uma chance com o Niall.

Olhei para Niall.

— A gente se vê de manhã, Louis — Niall me falou sem tirar os olhos do computador. — Pen disse que vamos fazer escalada às sete.

Olhei para Penny, apavorado.

— Nós vamos o quê?

— Não se preocupe — disse ela, rindo. — Pode levar seus livros e só assistir. Agora vai embora.

Quando percebi, estava parado no longo corredor do lado de fora da suíte do Niall, com a porta fechada na minha cara.

Pensei em bater na porta e exigir voltar, mas depois me lembrei de como, literalmente, quase morri de tédio lá. A ideia da grande pilha de livros na nossa cabine era mesmo tentadora.

Olhei para um lado e para o outro do corredor. Não sabia onde estava exatamente, graças ao champanhe, mas felizmente havia placas na parede, com pequenos mapas marcados com a letra S a cada poucos metros, e fui até uma delas.

Na verdade o Enchantment of the Seas parecia balançar um pouco. Talvez o capitão não tivesse conseguido evitar a tempestade tropical, afinal. Ou talvez eu tivesse tomado mais do champanhe do que percebi.

Mas tudo bem, porque o corredor era equipado com um elegante corrimão dourado para os passageiros se segurarem na eventualidade de mares agitados como aquele, e felizmente eu não tendia a sentir enjôos.

Vi no mapa que eu estava bem perto da nossa cabine. Só precisava pegar o elevador e descer nove andares, depois andar o que parecia vários quilômetros.

Muito obrigada, Penny.

Levando o paletó e o cinto em uma das mãos e me segurando no corrimão com a outra, fui para o elevador. Estava prestes a apertar o botão, quando ouvi uma voz.

— Olá, Louis. Eu sabia que você viria.

Monster ➳ l.sWhere stories live. Discover now