five

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O sombrio misterioso!

Aquela foi a primeira coisa em que pensei. Eram as palavras que fantasiei que ele me diria no nosso primeiro encontro.

Quando me virei para cumprimentá-lo, meu coração se apertou. Não era o sombrio misterioso que estava diante de mim, mas Stanley, o cara que apertou minha bunda enquanto tirava foto comigo antes do jantar. Estava bem ao lado do elevador, em toda sua glória ostensivamente musculosa, (n/a: só na fic, porque o Stan é ostensivamente gordinho) e cheia de gel no cabelo.

— Ah céus — falei, sem entusiasmo nenhum. De repente eu não estava nada sonolento. Na realidade, sentia certa náusea. Podia ter algo a ver com o movimento do navio, mas também podia ter relação com o cheiro do perfume de Stanley, que ele tinha passado de forma bem exagerada. — Oi, Stanley.

Foi um erro dizer aquilo. Ele abriu um largo sorriso, revelando os dentes brancos e certinhos demais.

— Você se lembra do meu nome! Acho que alguém tem uma queda por mim.

Meu estômago revirou.

— Não. Acredite em mim. Não tenho. Na verdade, eu estava voltando para minha cabine. Foi um longo dia, e vou dormir.

— Parece uma ótima ideia — disse Stanley, com uma expressão sarcástica. — Posso ir com você?

— Ha ha — respondi, apertando com uma urgência crescente o botão de descer do elevador. — Acho que minha meia irmã não ia gostar muito disso.

— Aposto que gostaria, sim. — Stanley ainda estava com o smoking do jantar, mas a gravata estava desfeita, e ele tinha aberto quatro ou cinco botões da camisa, e segurava uma garrafa de cerveja. — Vamos lá, soube que está rolando uma ótima festa da piscina em um dos decks. Vamos acordar sua meia irmã, colocar nossas roupas de banho e ir para lá.

— Não posso. Vamos acordar muito cedo para fazer uma escalada.

— Escalada? — Stanley estava claramente embriagado. Eu sabia disso não só porque ele arrastava as palavras, mas porque colocou a mão na parede acima da minha cabeça e inclinou o corpo para bem perto do meu, me fazendo sentir o cheiro do seu gel capilar e de tudo o que ele havia bebido. Nenhum deles era agradável. — A única coisa que quero escalar agora é você, Louis.

Quando andei por aquele mesmo corredor mais cedo com Niall e Penny, ele estava lotado de passageiros. Por que estava tão vazio agora? Para onde todo mundo tinha ido? Agora éramos só eu, Stanley, o fedor do bafo e o gel dele.

— Escute, Stanley, eu sou comprometido.

— Não vejo nenhuma aliança no seu dedo.

— É uma relação complicada. — Quero dizer, inventada pela minha cabeça com um cara que não conheço e só vi em uma varanda.

Foi quando o navio balançou... Muito pouco, mas o bastante para Stanley perder o equilíbrio — ou fingir perder, sei lá — e apertar o corpo todo contra o meu, batendo minha coluna no corrimão dourado. Gritei de dor.

— Ops. — Stanley deu uma gargalhada de bêbado, sem se mover.

— Me larga — falei, empurrando-o. Era como tentar empurrar uma parede. — Está me machucando.

— Para mim, você está bem — cochichou ele no meu ouvido. Deixou a garrafa de cerveja cair no carpete e agora as mãos se deslocavam para minha cintura. — Muito bem.

A Dra. Ivy estava errada. A gente pode julgar algumas pessoas pela aparência.

— Eu disse para ficar longe de mim. — Levantei o cinto e o usei para bater, com força, na cara dele.

Stanley me soltou. Recuou um passo, com a mão no rosto. Quando baixou a mão novamente, olhou com incredulidade para o sangue que saiu do corte mínimo que a fivela do cinto tinha feito.

— Seu viadinho nojento — rosnou ele.

E então avançou para mim. Foi difícil dizer o que aconteceu exatamente depois daquilo, de tão apavorante que foi. Tentei correr para o quarto de Niall, onde sabia que estaria seguro, mas Stanley segurou um punhado do meu cabelo e me puxou. Depois suas mãos estavam no meu pescoço. Alguma coisa bateu na minha cabeça, com força, e de repente eu estava no chão...

Mas aí, por milagre, ouvi o som mais maravilhoso do mundo. Era o som de um sino. Era o elevador.

Ouvi as portas do elevador se abrirem. E alguém disse meu nome — Louis. Era a voz de um homem, mas não o reconheci.

Quem poderá ser?, perguntei-me ainda no chão, em uma névoa de dor e confusão. Como ele sabia meu nome?

Quando dei por mim, Stanley estava no carpete a pouca distância de mim. Vi seus olhos, arregalados de pavor, suplicando, parecendo pedir ajuda... Uma ajuda que não podia pedir verbalmente, porque a mão de alguém cobria sua boca.

Aquela mão impediu que Stanley gritasse de dor enquanto um pé atingia algum lugar na parte inferior do seu corpo, uma perna, acho, quebrando-a, ouvi os ossos se partindo — no que deviam ter sido centenas de fragmentos. Foi o ruído mais pavoroso que já ouvira na vida, especialmente logo depois de eu ter ouvido um som maravilhoso, o sino do elevador, e meu nome pronunciado naquela voz grave. Louis.

A minha visão do corredor estava indistinta e distante como se eu estivesse olhando pelo lado errado do binóculo de Penny.

De uma coisa eu tinha certeza, antes de perder totalmente a consciência: quando as portas do elevador se abriram e ouvi dizerem meu nome, vi alguém saindo do elevador.

Alguém alto e descabelado. O sombrio misterioso.

E então, misericordiosamente, não senti mais dor. A escuridão me tomou, e eu dormi.

Monster ➳ l.sWhere stories live. Discover now