eight

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Antes eu achava que tinha sorte por ter Penny como amiga e meia-irmã, mas eu verdadeiramente acreditei nisso naquela manhã. Depois do café, ela me ajudou a levantar da cama e entrar no enorme banheiro da suíte, e ainda ficou por perto para ver se eu não "daria outro escorregão" durante o banho.

Ela até tentou escovar e arrumar meu cabelo (com o cuidado de não mexer nas suturas do Dr. Charles). Declarou que o hematoma nas minhas costas "não estava tão ruim" quando dei uma olhada no espelho de corpo inteiro e quase gritei, mas nós sabíamos que era mentira.

Depois de eu vestir uma calça e uma camiseta que ela me trouxera para usar quando fosse voltar ao nosso quarto, eu me despedi dela e de Niall, dizendo que telefonaria assim que estivesse pronta para ser buscada novamente e acompanhada à nossa cabine. Niall ficou especialmente indeciso com minha permanência ali.

— O problema é todo seu. — disse ele, apesar do olhar feio de Penny.

O triste era que nenhum dos dois sabia que ele não poderia ter dito nada mais verdadeiro.

Depois que eles saíram, peguei uma xícara de chá na bandeja do carrinho de serviço de quarto e me sentei no sofá no qual Niall estivera recostado. Havia uma manta roxa e macia dobrada em uma ponta do sofá, então a abri e cobri meus pés descalços — notando que também trazia o logo do S da Royal Styles Cruise Lines —, percebendo em seguida o livro que Niall tinha dito que Harry estava lendo. Intitulava-se Correção de cicatrizes e queloides e era mesmo muito pesado.

Arrastei-o para meu colo e comecei a folhear. Não era uma leitura leve, nem tinha imagens bonitas, mas me esforcei até ler o suficiente para entender.

E então me senti tomado de vergonha. Harry não era um monstro — bom, exceto talvez quando lutava com bêbados que pretendiam abusar de mim.

Peguei o folheto que Penny me dera e abri a capa, começando a ler. A Royal Styles Cruise Lines é uma companhia norte-americana fundada por...

— Muito bem, senhoras. — Perdida na minha leitura, assustei-me com uma voz de homem. Não tinha ouvido ninguém entrar na sala. — Tirem o carrinho de serviço de quarto e comecem pela cama. Quando terminarmos, não quero que reste nenhum vestígio do jovem, entenderam?

Coloquei-me de pé em um salto, jogando a manta de lado e deixando cair no chão o livro de medicina e o folheto.

Mas não precisava ter me preocupado. Não era Harry. A voz pertencia a um homem de rosto redondo e terno cinza. Ele ficou assombrado ao me ver.

— O-ora, Sr. Tomlinson — gaguejou, as maçãs do rosto vermelhas. Havia duas mulheres com ele, ambas com uniformes de camareira. Ficaram surpresas ao me ver também, porém mais de uma maneira irônica do que chocada. — Não sabia que ainda estava aqui. Peço desculpas. Eu não o vi.

— Está tudo bem — falei.

Então ele queria se livrar de qualquer vestígio meu, não é? Bom, eu não podia culpá-lo.

Comportei-me de uma forma terrível com o empregador dele, mas ia compensar. Não sabia como, mas estava decidida a ajeitar as coisas.

— Tive a impressão de que sua irmã viria buscá-lo de volta para seu quarto — disse o mordomo rigidamente.

— Ela buscou — respondi. — Quero dizer, ela veio. Mas quis ficar para me despedir de... Harry.

Por que era tão difícil dizer seu nome? Talvez porque eu estivesse sendo tão bobo.

— Ah. — O mordomo relaxou um pouco. Acho que ele pensava que eu ia tentar me mudar para lá ou coisa assim. — Acredite, Sr. Tomlinson, isso não é necessário. O Sr. Harry compreende, mas não será possível vê-lo hoje; está se distraindo no cassino. Assim, permita-me pedir uma cadeira de rodas ao Dr. Charles e eu o acompanharei a seu quarto agora...

— Não. Senhor... Worth, não é? — Quando o mordomo assentiu, continuei, dando um passo para a frente. — Pode pedir a cadeira de rodas se quiser, mas só vou sair depois de o ver. Eu sei, Sr. Worth. — Olhei-o com firmeza, para ele entender o que eu queria dizer. — Sei o que aconteceu com Harry. Então sei que ele não está no cassino. Sei que ele está por aqui em algum lugar. É melhor trazê-lo aqui agora ou terá que chamar a segurança para se livrar de mim. E tenho certeza de que não quer isso.

Toda a cor sumiu do rosto do Sr. Worth. As maçãs do rosto não pareciam mais tanto maçãs, e sim bolinhos passados.

As camareiras atrás do Sr. Worth estavam com os olhos arregalados de empolgação. Não era todo dia que entravam na Suíte Real e encontravam um modelo famoso ameaçando um de seus superiores e dizendo que ele teria que chamar a segurança para expulsá-lo.

— Entendo — disse Sr. Worth, extremamente infeliz. — Bem, se é assim que prefere, creio que não tenho alternativa.

— Não mesmo — garanti.

Ele suspirou e se virou para as duas camareiras.

— Vamos, senhoras — disse ele. — Limparemos o lugar depois. Estou certo de que não demorará muito.

As camareiras assentiram e o seguiram, lançando-me vários olhares de esguelha ao partirem. Eu tinha certeza de que essa história correria por todo o navio em uns cinco minutos... A parte que elas sabiam, pelo menos.

E então a porta da Suíte Real se fechou, e fiquei sozinho novamente. Mas por quanto tempo?

Engoli em seco, perguntando-me no que eu tinha me metido. Será que estava louco?

Nem disso eu tinha certeza. Minha teoria se baseava na suposição, não em resultados anteriores, como mamãe sempre fazia no laboratório.

Por outro lado, eu não imaginara nada daquilo. Tinha a sensação de que a Dra. Ivy teria orgulho de mim. Isto é, até as luzes se apagarem, e a Suíte Real mergulhar na escuridão.

Monster ➳ l.sDove le storie prendono vita. Scoprilo ora