espelho quebrado - yeongyu

Sozinho no mesmo lugar

Cedo ou tarde, Yeonjun sabia que isso aconteceria.

Ele estava quase batendo a cabeça no teclado do computador, xingando a si mesmo por ser apaixonado por dança e terminar sendo um coitado que mal consegue se sustentar sozinho sem ajuda dos pais.

Não é como se fosse totalmente miserável, mas entrou em desespero quando percebeu que sem o dinheiro que seus pais mandavam por mês, ele estaria em sérios apuros. E Yeonjun odiava depender dos pais para se manter, por isso decidiu colocar um anúncio dizendo que precisava de uma pessoa para morar com ele, porém estava hesitante em clicar na opção de confirmar.

Ele não se lembrava mais como era conviver com alguém, e só a ideia de compartilhar seu precioso espaço pessoal fazia com que sua pálpebra começasse a tremer. Ele estava olhando para a tela na sua frente, cogitando só virar stripper, e não pareceu uma má ideia de início, mas ele não teria tempo para mais um emprego.

Ele estava feliz com seu trabalho, com o lugar que morava e com os amigos que tinha. Porém ainda sentia que era um peso para os seus pais que nem moravam na capital junto com ele, e foi com isso em mente que clicou em confirmar com os olhos fechados, como se estivesse sentindo aquela dorzinha de tirar sangue por conta da agulha. Ele poderia estar pior, mas preferiu se acalmar por hora, desejando que ninguém visse o anúncio ou algum milagre acontecesse e ele ganhasse na loteria.

Já era tarde, e no dia seguinte precisaria acordar cedo para a primeira fase das estaduais de um concurso que iria participar. Era a grande chance de crescer no cenário da dança em Seul, e talvez até expandir internacionalmente sua visibilidade. Ainda não sabia se era sonhar muito alto, mas gostava da ideia de ser reconhecido pelo seu esforço desse jeito.

Então ele foi dormir depois de tomar um banho e colocar umas roupas confortáveis, e até pensou em tomar algum remédio para dormir por conta da ansiedade, porém apenas esperou que o sono aparecesse logo e o deixasse descansar.

No dia seguinte, ele acordou antes do despertador (como de costume em dias assim). Já havia separado a roupa e deixado tudo arrumado para não correr risco de se atrasar, ainda que soubesse que poderia ir com as outras pessoas da sua companhia de dança na vã. Ah, mas Yeonjun não queria ter que olhar na cara de algumas pessoas de lá, além de querer ser o primeiro a chegar. Quanto mais cedo preenchesse sua ficha, mais chances tinha de se apresentar antes dos outros e não ter que passar pela tortura de ver seus adversários no palco.

Depois do café da manhã (que consistia em uma maçã e uma xícara de café), ele arrumou tudo na mochila e ainda conferiu duas vezes antes de trancar tudo e subir em sua moto. Dessa vez, ele decidiu se arriscar e preparou uma coreografia que misturava jazz e hip pop com Ryujin, sua melhor amiga. Apesar de estar confiante, ainda estava nervoso e com medo de travar na hora por conta de suas inseguranças.

O caminho não foi curto, e na metade do percurso ele começou a se perguntar se a gasolina daria conta de tudo, mas pelo menos conseguiu chegar até o grande teatro.

Yeonjun bufou ao ver que não era o primeiro ali, mesmo que ainda não estivesse cheio. Ele foi até o balcão preencher a ficha de informações e depois caminhou até os camarins disponíveis, entrando no que estava com um "La Danza" estampado na porta, o nome de sua companhia. Por sorte, o ar condicionado já estava ligado, então ele poderia começar a sua maquiagem sem se preocupar com o suor e nem ter que dividir o espelho com mais pessoas.

Quando finalizou, ouviu a porta sendo aberta pelos seus colegas, e a primeira pessoa que apareceu foi Ryujin, olhando diretamente para si com aquela cara de quem queria dar um tapa em sua cabeça (ela realmente o fez quando foi ao encontro dele).

- Ai! - Yeonjun reclamou, massageando o local.

- Bom dia pra você também, senhor não como, não durmo e chego cedo nos lugares. - Ela respondeu com os braços cruzados. - Tomou café da manhã?