Foi quando eu resolvi tentar

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Yeonjun não teve muito tempo para se sentir mal por causa daquela noite, porque precisava focar nas regionais e preparar suas aulas semanais. Mas ele tinha certeza que se ainda fosse um adolescente, passaria o dia inteiro remoendo aquilo e ouvindo músicas tristes enquanto se afundava em comida gordurosa.

Pelo menos conseguia ocupar a cabeça com trabalho. Ou era o que ele achava, até um de seus alunos ir ao seu encontro no fim da aula.

— Professor, você tava meio aéreo hoje. — Era Kai, da última turma de hip hop. — Tá tudo bem?

Yeonjun sentiu vontade de rir de si mesmo.

— Acho que eu não dormi muito bem. A aula foi ruim? — Perguntou com uma pontada de preocupação.

— De jeito nenhum! É que hoje você não deu tanta bronca na gente e ficou pensativo enquanto a gente treinava, aí eu achei estranho. — Explicou.

— Prometo que na próxima eu volto a puxar a orelha de vocês. — Riu.

— Ei, eu não tava reclamando... — Disse baixinho, e Yeonjun bagunçou seu cabelo.

— Obrigado por vir falar comigo. — Agradeceu. — Minha cabeça tá cheia esses dias mesmo, mas não é nada alarmante.

Os dois ainda conversaram mais um pouco até se despedirem, e Yeonjun precisou de mais um tempo naquela sala para dançar sozinho. Beomgyu estava deixando ele maluco de verdade, e o pior é que ele não queria lidar com isso que nem uma pessoa madura. Em algum ponto, o dançarino começou a pensar em desistir de qualquer esperança que tinha com o outro por pensar que ele era hetero ou qualquer outra forma de quebrar sua ilusão.

Mas sempre que voltava para o apartamento e via Beomgyu o esperando com aquele sorriso bonito para jantarem juntos, era como se só existissem eles no mundo e nada mais importava. Nem tinha percebido que começou a passar o dia ansiando para chegar em casa, sendo que antes ele odiava a ideia de morar com alguém. Estava muito além do controle dele, então só restava deixar o próprio corpo colocar para fora o que ele não sabia fazer com palavras.

E enquanto ele dançava com todo o ar de seus pulmões, Beomgyu estava olhando o horário no celular, se perguntando por que Yeonjun ainda não tinha chegado. Diferente do mais velho, ele já havia entendido que seu coração batia descompassado pelo dançarino e não tinha muito o que fazer.

Na verdade tinha, mas ele não sabia se conseguiria.

A parte boa é que ele conseguiu começar a escrever seu novo livro, e dessa vez estava falando sobre si mesmo. No dia seguinte após voltar da boate, Beomgyu abriu o documento e seus dedos magicamente foram até as teclas e começaram a falar sobre como era estranho estar apaixonado. Ele estava sendo o personagem principal da sua história, e apesar de ser diferente, era esclarecedor escrever sobre os próprios sentimentos.

Ele pensava que não deveria ser tão difícil assim abrir seu coração, mas era sua primeira vez gostando de alguém. Estava perdido, e não sabia se podia confiar tanto em todos os romances que viu na televisão ao longo dos anos. Para ser sincero, ele nem sabia se podia confiar no próprio coração. Ali, parecia ser bem mais assustador e intenso do que nas telinhas, e ele queria um manual explicando detalhadamente o que fazer.

O garoto ficou pensando sobre isso em looping até a porta da casa abrir, revelando um Yeonjun acabado, como se um caminhão tivesse passado por cima dele. Beomgyu nunca o viu voltar do trabalho assim, e se perguntou o que tinha acontecido.

— Desculpa a demora. — Disse quando viu a preocupação no rosto do outro, que balançou a cabeça negativamente.

— Tá de boas. O que rolou?

espelho quebrado - yeongyuWhere stories live. Discover now