E a gente se conheceu

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Beomgyu estranhou bastante acordar e não ver sua parede decorada com pôsteres, mas de certa forma se sentiu melhor que antes. Talvez alguma coisa finalmente mudasse em sua pequena bolha.

Ele nem lembrava que horas foi deitar, mas assim que ligou o celular, viu que já eram duas da tarde. Também encontrou uma notificação de Yeonjun dizendo que tinha almoço pronto e deixou uma cópia das chaves na mesa da sala para que usasse.

Ele queria passar horas agradecendo ao dançarino por deixá-lo ficar e ainda ser legal com ele, porque também estava desesperado quando chegou em Seul. Yeonjun não fazia ideia, mas Beomgyu teve que passar a viagem inteira ensaiando como conversar direito e explicar sua vida, mas teve a sorte de não precisar se esforçar tanto na hora.

Uma pena que esses minutos bons duraram pouco, porque logo estava recebendo uma ligação do seu chefe, sabendo que provavelmente isso estragaria seu humor.

— Alô. — Disse sem ânimo.

"Choi Beomgyu, acha que só porque vendeu algumas cópias pode fazer o que quiser?" O homem começou. "Eu nunca vi tantos erros em uma primeira passagem na minha vida. Esse livro não é seu, seu trabalho como tradutor é fazer a porra de uma interpretação decente. Se eu quisesse uma máquina, não teria te contratado."

O garoto suspirou, pontuando mentalmente que é claro que teria erros na primeira passagem na tradução, que ele nem deveria estar mandando para seu chefe ainda, mas o homem fazia questão de controlar o que cada um de seus funcionários fazia.

Além disso, era um inferno querer ser ensinado a como fazer o seu próprio trabalho.

— Perdão, eu cheguei cansado da viagem de ontem. Vou revisar de novo e continuar até onde der. — Disse apenas, tentando não se afetar tanto. Ele nem ouviu o que o homem falou depois disso e só desligou depois de ouvir o suficiente.

— Bomu, Bomu. — Totó disse, voando para cima da sua cama.

— Ai meu deus, você deve tá com fome. — Beomgyu levantou rápido, pegando o papagaio com cuidado.

Depois de improvisar um pote para colocar a comida de Totó, ele foi até a cozinha sentindo o estômago roncar. Era estranho estar sozinho assim, uma vez que em Daegu morava com sua família inteira (pais e irmão mais velho), então estava acostumado a sempre ouvir pessoas falando em algum canto da casa. Pelo menos estava descobrindo que não era desagradável, só diferente.

Depois de limpar o que sujou, ele pegou a chave que Yeonjun deixou e saiu pelas ruas de Seul para procurar uma gaiola decente para seu papagaio e também para passear pela cidade. Ele já esteve ali várias vezes, principalmente para assinar os papéis do trabalho, mas preferiu focar um pouco em si mesmo naquela tarde.

Ele não se lembrava quando sua vida em Daegu começou a ficar estressante. Não que ele pudesse reclamar muito, já que sempre teve boas condições financeiras e uma família legal, porém chegou uma hora que a rotina começou a lhe engolir, e cada vez menos ele saía de casa e nem conseguia fazer o que mais gostava, que era escrever. E como artista, sentir sua fonte de inspiração ficando vazia era quase como se estivessem sugando sua alma, e ele tinha muito medo que isso acontecesse.

Em sua vida inteira, ele sempre foi considerado um prodígio em tudo, já que nunca teve dificuldade em nenhuma matéria na escola e era bom até nos esportes que praticava. Mas tudo terminava ficando entediante depois de um tempo, e isso o sufocava. Ele queria algo que o desafiasse e o prendesse por vontade própria. Alguma coisa que realmente o desse gosto de fazer.

E foi aí que ele começou a escrever seu primeiro livro.

Ele sequer tinha noção do que estava fazendo na frente do computador, porém tinha certeza que queria contar uma história, e foi nisso que ele se agarrou. O que estava no conteúdo pouco tinha a ver com sua vida, já que nunca enfrentou muitas situações difíceis em que precisasse sair da sua zona de conforto, mas ele descobriu que era divertido falar sobre o que ele não entendia completamente sob um ângulo de vista diferente.

espelho quebrado - yeongyuWo Geschichten leben. Entdecke jetzt