Entre Fios e Teias

Aranhas e assuntos a tratar

Puxo o cartão do bolso para confirmar o horário.

Meio dia.

Dane-se que Simon escreveu meio dia e dois. Se esse clube anda agindo como gangsters, eu não tenho nada haver com isso.

Já é estressante demais lidar com eles sem que pareçam uma quadrilha.

Desde ontem, Miguel só trocou mensagens comigo uma vez, hoje de manhã. Perguntou se eu precisava de ajuda com os tecidos do traje. Respondi que não e que já estava a caminho de conseguir exatamente o que eu precisava.

Devolvo o cartão para o meu bolso e entro no banheiro feminino do terceiro andar.

O lugar está completamente limpo, como se nunca tivesse sido usado.

Mas também está vazio. 

Ou se atrasaram, ou vão esperar os dois minutos para entrar no banheiro.

Eles são esquisitos a esse ponto.

O tédio me faz andar de um lado para o outro, até que finalmente me sento no balcão de mármore das pias, de frente para as portas dos sanitários.

Algum tempo se passa até que ouço o som de várias pessoas pulando no chão ao mesmo tempo.

E abrindo as três portas surgem Ned, Simon e Iara, respectivamente. 

Era lógico que eles fariam isso. Ficaram esse tempo todo parados em cima dos vasos para fazer graça. Agora andam calmamente para fora, parando de frente para as pias.

Deixo claro o quanto reviro os olhos. 

— Apresentando nosso amável presidente: Simon. — Ned faz uma reverência apontando as mãos para seu chefe.

— Oh meu deus, isso é tão ridículo eu quero morrer. — suspiro, tudo de uma vez, como uma rima de rap.

— Silêncio, plebeu! Mais respeito com a autoridade em cena! — Iara diz, exacerbadamente.

Seguro o riso. Primeiro com uma mão, depois com as duas, mas então a risada explode na frente dos três.

— Ok pessoal, talvez não sejam necessárias formalidades. — finalmente Simon diz uma palavra.

O garoto está com as mãos para trás me entregando alguns passos, quase como um vilão de anime.

— Simon, corta o papo, cadê o tecido? — lanço, cruzando os braços.

Simon limpa seu nariz com o antebraço, como de costume, e acena com a cabeça para Ned.

Por sua vez, Ned volta para o vaso e de cima da descarga trás uma maleta.

Agora, essa maleta é a coisa mais interessante neste banheiro.

Não só porque possivelmente tem um tecido High-tech ali dentro, mas porque tem leds azuis na bordas e na alça.

Um couro preto e grosso a reveste e alguns números holográficos até fogem do led para o ar. 

É incrível.

Simon pega a maleta das mãos do minúsculo garoto e a posiciona no balcão da pia.

Ele gira a case e digita uma combinação no teclado numérico dentro da alça.

— Como você disse que conseguiu isso mesmo? — pergunto, um pouco pasmo.

— Eu não disse. — ele me repara de lado, mas é claro que eu reviro os olhos mais uma vez.

Todo mundo se aproxima do objeto iluminado enquanto Simon o abre com cuidado.

Camadas e mais camadas de uma malha azul-escuro brilhante recheiam a maleta.