Questão de Teias

19 2 0
                                    

Eu não sei que horas são.

Meus olhos tentam se ajustar à luz forte da janela, mas é inútil. Também não sei porque o sol está tão forte. Deve estar tarde. 

Muito tarde.

Depois da conversa com meus pais fui direto para o meu quarto, arranquei a maleta do armário e comecei a costurar. Não consegui pensar em mais nada, nem mesmo sobre o fato de ter que deixar Miguel mais cedo do que eu planejava.

Toda minha atenção estava naquele traje.

Rolo na cama, embaixo do edredom, procurando meu celular e o encontro entre alguns papéis de rascunho.

 Terça-feira. 13:34.

DeadWeb: Então, só um pequeno adendo antes de mais nada, eu sonhei com vc e eu sonhei que ficávamos juntos no final. Agora vem a parte séria. Olivia Octavius sequestrou a Torre dos Vingadores com o Gatuno, e bom... Só tem a gente pra defender a cidade, ngm sabe o pq. Então talvez nosso piquenique de tarde no Central Park atrase... algumas horas. Fui.

Uma notificação do Twitter Notícias se abre assim que termino de ler sua mensagem.

Clarim Diário: Torre flutuante, Octopus e Trupe de Aranhas: É o fim da cidade?

Clarim Diário: Explosões ao redor da Torre dos Vingadores deixam dezenas de feridos.

Consigo sentir meus ossos tremendo.

Não faço ideia do que realmente está acontecendo, mas preciso avisar Miguel que vou embora literalmente HOJE.

Minhas mensagens não estão sendo entregues e o desespero começa a me dominar. Se ele não receber essas mensagens a tempo, não vamos conseguir nos ver antes de eu ir embora.

E ESSE É O PIOR CENÁRIO POSSÍVEL.

Jogo o edredom para o alto e salto da cama. Dou de cara com o traje novo de Miguel que terminei ontem de madrugada, pendurado na porta do armário. E eu só consegui terminar pois o tecido se ajusta ao tamanho da pessoa, senão, teria que trazê-lo aqui para tirar medidas.

Enfim, esse não é o ponto. Vou levar o traje comigo, preciso entregá-lo e concluir minha parte do acordo antes de ir embora, esse é o objetivo.

Sim, estou a caminho da Torre dos Vingadores.

🕷🕸

Demorei quarenta minutos para encontrar um taxista disposto a me deixar no centro da cidade, sabe, com tudo acontecendo.

Mas aqui estou, em um táxi, à caminho da Torre e com a maleta em mãos.

Pela janela, vejo pessoas correndo junto a um trânsito enorme na direção contrária. 

A cidade está um caos.

Ao longe uma explosão rouba a atenção de todos, seguida de fumaça.

O taxista, um rapaz pardo, baixinho e de cabelos longos embaixo de uma touca com no máximo trinta anos finalmente cede ao medo:

— Ou foi mal aí, mas eu sou só vou até aqui, nem tudo na vida é dinheiro.

— Tá... Toma aqui... — entrego algumas notas amassadas que eu acredito que sejam o suficiente e já começo a sair do carro.

— Senhor seu... troco... — a voz do taxista diminui até cessar. 

Ele nem se dá o trabalho de insistir no troco pois uma nova explosão, maior e mais barulhenta à duas quadras daqui, invade nossa percepção.

Entre Fios e TeiasOnde histórias criam vida. Descubra agora