Parte I: Prólogo - Capítulo Um

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Prólogo

Qualquer que fosse a razão, ou as razões, do destino, aquela era a prova concreta de que as piadas de mau gosto nunca acabariam. - Cercada por um mar de olhos vermelhos e vidrados em mim, lembrei das visões de Alice e do que ela me falou: eu morreria ou me tornaria um deles.

Cinco longos e estranhos anos haviam se passado. Tudo havia se tornado um vulto, uma história de terror muito fantasiosa, cheia de segredos e esperanças esmigalhadas, destinada a ser enterrada no baú dos tabus e dos segredos inomináveis. Mas ali estava eu, novamente, cercada por seres mitológicos, desejosos pelo meu sangue, atentos às ordens de seu amado mestre.

O mestre avançou, consolando com um olhar a serva frustrada. Então seus olhos focaram nos meus, cheios de uma curiosidade intensa e mortal.

Eu estava perdida, tinha certeza.



Capítulo um

Sorri e levantei os braços, como se fosse mergulhar, erguendo o rosto para a chuva.

Não ouvi a aproximação de Jacob devido ao vento forte e a chuva que aumentava violentamente. Senti apenas seus braços muito quentes em volta da minha cintura, puxando-me da beira à força.

Por conta do movimento exagerado e da força desmedida, senti o ar dos pulmões se esvaindo. Minha cabeça deu um giro desagradável e me desequilibrei. Felizmente, seus braços eram firmes o suficiente para me manter no lugar enquanto eu recuperava o fôlego.

— Qual é o seu problema? - gritou Jacob para que eu pudesse ouvi-lo em meio aquela ventania. Ele me girou e ficamos de frente um para o outro, a fim de que pudesse me olhar nos olhos. - Tá querendo se matar?

— Jacob! - Eu arfava, tanto de desespero quanto de alívio. Desespero pois a voz de Edward havia sumido, e aliviada por Jacob estar ali para sanar a dor da ferida. - Você me assustou.

Seu rosto, a princípio lívido, agora assumia um tom a mais de avermelhado, mais do que o normal, e suas mãos em meus ombros tremiam.

— Assustei?! Você enlouqueceu, Bella?! Tava querendo se matar? - Ele berrava a plenos pulmões, os olhos cheios de raiva. - Não está vendo essa tempestade?! É um furacão!

— D-desculpa, Jacob, eu n-não pensei. - gaguejei.

Ele estava certo; eu não havia pensado nas consequências de pular no mar durante uma tempestade de tal magnitude. Estava tão desesperada por um acalento da dor e de poder ouvi-lo novamente, que esqueci de que, além da água gélida, algo muito pior estaria me esperando lá embaixo: uma correnteza violenta e implacável, pronta para me jogar contra as rochas e me despedaçar. Era suicídio.

Jacob, vendo que eu havia entendido suas palavras, se acalmou e me abraçou. O calor de seu corpo era uma barreira natural contra o frio e muito convidativo. Passei os braços em volta dele e me acomodei.

— Tudo bem, Bells. - falou ele calmamente, ciente de que eu o ouviria por estar com o ouvido encostado em seu peito enquanto me aquecia em um abraço. - Vamos sair da chuva. Não quero que fique doente.

Jacob entrou na picape, assumindo o volante. Sentei em silêncio no banco do carona, encharcada até os ossos e tremendo de frio. Jake ligou o aquecedor no máximo, mas o aparelho decrépito não cumpria esta função tão bem quanto o meu amigo febril. Percebendo isso, ele me puxou para que eu chegasse mais perto, enquanto manobrava o carro, descendo a estrada, de volta aos conjuntos de casas da reserva. Encolhi-me em uma bola de pano e água, tentando ficar o mais confortável possível.

Alguns minutos depois paramos em frente a casa de Jacob. Ela estava silenciosa, exceto pelo som da chuva batendo no telhado.

Não pude deixar de estranhar.

Depois do CrepúsculoOnde histórias criam vida. Descubra agora