Capítulo Três

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Depois de conversarmos animadamente sobre a Itália e nosso destino de viagem (Natalie dez vezes mais empolgada do que eu), decidimos que era hora de dormir. Nos despedimos e encerramos a ligação.

Não posso deixar de destacar a felicidade de Renée em saber que eu estava mais tranquila. Comentei o que Charlie e Jacob tinham me dito, que contou tudo que vinha prestando atenção no último mês. Pediu-me inúmeras vezes desculpas e eu assegurei que estava tudo bem. Aproveitamos aquele fim de semana para ir às compras. Precisava de roupas mais adequadas para o clima da Toscana: durante o dia, um sol quente, de castigar os olhos e a pele. A noite, frio que poderia beirar a faixa dos 10 graus. Natalie não nos acompanhou; disse que já tinha tudo que precisava. Ligou para a guia que havia lhe oferecido a viagem de uma semana para confirmar que estava tudo certo com as passagens, as hospedagens, o transporte e o tradutor. Partiríamos no dia 12 de abril. Enquanto não chegava a hora (dentro de um pouco mais de um mês), Natie me obrigou a aprender tudo sobre a tão sonhada cidade histórica, seus segredos, arquitetura e acervo cultural.

De fato, Volterra era uma cidade única e foi fundada sobre a base de um período de guerras e conflitos territoriais. Ao contrário do restante da Europa, cuja as províncias uma hora sucubiam, em outras revidaram, Volterra era uma fortaleza. Embora tivessem poucos soldados, suas estratégias de armazenagem de suprimentos, em combinação com portões reforçados com grandes barras de ferro e muros muito altos, faziam desta minúscula cidade um refúgio perfeito. Até mesmo as saídas de esgoto eram bem guarnecidas. Nenhum rato passava sem que seus líderes da cidade soubessem.

Foram de dentro desses muros que saiu a figura tão venerada de São Marcos que, após expulsar os inimigos da cidade e ter liderado um exército de nobres e homens comuns arruinados, marchou em direção à Romênia, para dar um fim e impedir que os verdadeiros culpados de toda aquela bagunça pelo continente continuassem impunes. Após o seu martírio em território romeno, a figura de São Marcos foi canonizada, dando origem à tão mencionada festividade. As fotos, tiradas do alto dos muros da cidade, mostravam um mar de capas vermelhas e brilhantes ao sol, atravessando os antigos portões. Milhares de turistas, todos os anos. A foto seguinte era da Praça do Relógio, apinhada em figuras trajadas em carmim, em procissão, acompanhando a imagem do santo até a igreja local. A grande fonte quadrada no meio dela era uma berrante mancha azul-esverdeada brilhante. As ondulações criadas pelo vento faziam a água cintilar como cristal. No canto mais externo à direita, uma sacada vazia. Apesar da familiaridade, não consegui distinguir onde eu já tinha visto. No fim, conclui se tratar do estilo da arquitetura; a Itália estava cheia de coisas semelhantes àquela.

Chegamos a Florença às oito e meia da manhã do dia 13 de de abril. O tradutor que a guia tinha mandado nos esperava na área de desembarque. Ele era um homenzinho comum, usando colete vermelho e uma roupa formal por baixo. Seu nome era Pedro e nos explicou que estava vestido assim devido as festividades. Volterra tinha um pequeno setor voltado para o turismo e era este o responsável por receber os visitantes. Ele nos disse que era habitual os turistas chegarem alguns dias antes para ficarem nas hospedarias locais por serem lugares muito disputados. Normalmente, Pedro trabalhava como um simples guarda municipal, mas naquela época era designado para atender as necessidades dos visitantes.

De Florença até Volterra foi uma viagem de aproximadamente duas horas e meia, talvez um pouco mais. Enquanto Natie tagarelava no banco da frente do carro de passeio, sem parar, com o tradutor acerca de suas expectativas sobre a viagem, aproveitei este momento de ausência de atenção para apreciar a paisagem que passava ao nosso redor. - Após sairmos dos limites da cidade, logo fomos agraciados pela visão de fazendas e pequenas propriedades rurais. Pastos com animais, campos de uvas. Construções em madeira e concreto. Flores cor-de-rosa, amoreiras apinhadas. Apicultores. Cães pastores e seus pequenos rebanhos de ovelhas e cabras. Ao longe, montes rochosos se mesclavam ao universo primaveril rasteiro.

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