Capítulo Três

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*NATALIE*

— Antes -

Eu era feliz. - Disso nunca poderei ter incertezas.

Muitos pensam que filhos oriundos de um casamento que chegou ao fim, serão homens e mulheres de vidas e mentes abaladas, fragilizadas. Seria hipocrisia da minha parte negar a realidade de que, em muitos casos, isso de fato acontece, ainda mais em um casamento que foi rompido de maneira conturbada. - Mas este não foi o meu caso. Sou uma exceção.

Eu era feliz, e devia esta minha felicidade às duas pessoas mais importantes da minha vida: mamãe e papai. Eles se casaram quando mamãe ainda era muito jovem, com menos de 20 anos de idade, e o meu pai tinha quase trinta. Foi um acordo entre eles: mamãe precisava de um visto estadunidense e o meu pai estava disposto a ajudá-la. Foi um casamento breve, de aproximadamente quatro anos, e por mais que não houvesse amor romântico entre eles, foram muito felizes juntos. Até me geraram! E quando o tempo permitiu a eles, o divórcio foi assinado amigavelmente. Hoje, cada um tem a sua própria família e permanecem sendo melhores amigos, e eu tenho duas famílias, nas quais me sinto muito acolhida, tanto por meus próprios pais, quanto por minha madrasta e meu padrasto, quanto pelos meus cinco irmãozinhos mais novos (dois por parte de mãe, três por parte de pai).

Eu era feliz, mas a vida não era perfeita. Eu ainda era a princesinha do meu pai e a linda flor brilhante de minha mãe, mas a vida não era perfeita. - Não por meus pais, ou um possível ciúmes de meus irmãos; não havia negligências da parte de ninguém, nem desprezo daqueles que não compartilhavam de meu sangue. O problema estava do lado de fora, nas pessoas de fora.

Além de ser agraciada pela felicidade e amor que toda pessoa merece, outras bênçãos haviam recaído sobre mim: a minha beleza e a minha inteligência. - Soa arrogante dar-me tantas qualidades, entretanto, seria falsa modéstia negar a existência delas. Em um mundo perpetuado pela inveja e competitividade, eu era enxergada como uma ameaça, mesmo quando era uma criança. Os adultos não estavam acostumados com uma criança que conseguia acompanhar o raciocínio deles, e as outras crianças não suportavam as comparações que os pais faziam. Eu tinha pena delas, por terem pais tão mesquinhos, e dava graças por não estar em suas peles.

Por causa de todo este desprezo externo, os únicos com os quais cresci tendo algum laço de amizade verdadeiro foram os meus irmãos mais novos. Até os meus primos não iam muito bem com a minha cara, mas em certa altura eu já estava acostumada. Na adolescência foi mais difícil, visto que a interação social é um pouco mais brutal, devido às intenções alheias serem mais obscuras. Porém, eu não era burra. Sabia quando alguém estava querendo tirar vantagens dos meus atributos, fossem eles físicos ou mentais. E, na maioria das vezes, eu agia como se fosse desentendida.

Claro, se tratando dos pervertidos, ninguém nunca conseguiu me “tocar”, mas deixar aqueles vermes na expectativa de conseguirem tirar uma casquinha de mim era muito gratificante. Devo ter beijado um ou dois, e sempre evitando as mãos bobas e os convites para lugares mais reservados. A maioria se apaixonava, e estes mesmos iludidos sempre acabavam me odiando quando percebiam que eu estava somente jogando o jogo deles. - Esta foi a minha maior diversão durante o final do ensino fundamental e por todo o ensino médio.

Em contrapartida à diversão, haviam dores de cabeça a serem evitadas: as outras garotas. Ter os olhos de tantos meninos sobre mim as deixavam irritadas e com o orgulho ferido. Metade delas gastaram rios de dinheiro em cosméticos na tentativa frustrada de me ultrapassar nesta “corrida do amor”, que permeia o mundo dos adolescentes desesperados por aceitação social (onde se você não tem um parceiro, você é um fracasso), e a outra metade me xingava de “vadia”, fosse pelas minhas costas ou na minha própria cara. Eu poderia jogar com elas, tornar sua inveja parte da minha diversão? Poderia, mas seria um risco muito maior. Ao contrário dos garotos, as garotas são muito mais reativas e vingativas quando o assunto é o ego. Peritas em assassinatos de reputação. - Não que a minha reputação fosse das melhores (“a destruidora de corações”... como se canalhas tivessem coração), mas não queria arriscar e piorar. Não com elas: um bando de garotas birrentas que não aceitam perder ou não serem as melhores (não se pode esperar maturidade de quem tem suas ações governadas por hormônios alucinados).

Depois do CrepúsculoWhere stories live. Discover now