Capítulo 3 - Jessie

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— Amor, estou indo para a casa de um cliente.
Falo para o meu marido que está dentro do banheiro fazendo a barba enquanto estou sentada na cama colocando a sandália.
— Cliente novo?
— Hum hum.
— Não escutei!
— Sim, foi uma indicação da Letícia.
Ele aparece no quarto enrolado apenas na toalha.
E que visão!
Levanto e paro na sua frente dando-lhe um beijo.
Os seus braços me envolvem e ele aprofunda o nosso contato.
— Não gosto dessa Letícia. Ela só te mete em enrascada.
— Dessa vez eu pesquisei antes. Eles moram em um prédio de classe média alta e o marido é cirurgião plástico. Não acredito que terei algum tipo de problema para receber o pagamento.
— Assim espero, porque acho uma tremenda de uma sacanagem você trabalhar dias afinco e no final te darem um calote.
— Se fizerem isso juro que trago o guarda-roupa da dondoca abaixo.
Escuto a sua deliciosa risada.
— Te amo vida.
Sorrio e lhe dou um selinho.
— Também.
Me desvencilho dos seus braços e pego a minha bolsa.
— Até mais tarde, e não esqueça que hoje temos que jantar na casa da sua mãe.
Ele bufa, mas acaba concordando com a cabeça.
— Tenha um bom dia.
Sorrio e saio do quarto.
Assim que chego na cozinha vejo a Maria lavando a louça.
— Bom dia Maria.
Ela vira um pouco o rosto para me ver e sorri.
— Bom dia Dona Jessie.
Viro os olhos.
— Dona? Por favor né mulher! Que história é essa de Dona Jessie?
Ela ri.
— Foi sem querer.
Balanço a cabeça e sorrio.
— Sei. Não foi para me perturbar não né?
Ela coloca uma das mãos no coração.
— Que calúnia Jessie, eu jamais faria isso.
Ela mesma não aguenta a piada e acaba rindo.
— Sua boba.
Pego uma xícara no armário e coloco um pouco de café fresquinho.
Hoje não tenho tempo de bater papo, então tomo rapidamente o líquido e dou um beijo no rosto da Maria e aperto a sua bochecha.
— Tchau lindona.
Ela me bate com o pano de prato na minha bunda e dou uma corridinha tentando escapar.
— Você não tem jeito menina.
A Maria já está comigo há cinco anos. Desde que me casei com o Daniel. Ela é uma jovem senhora de cinquenta e cinco anos, baixinha e com um baita corpão. Corpo de dar inveja a muitas garotas, um coração maior que o mundo e dona de uma voz fabulosa. Amo escutá-la cantar.
Saio de casa e dou uma baita sorte quando vejo que o elevador já está disponível. Entro sem perder tempo e aperto o botão da garagem.
Assim que chego ando depressa até o meu carrinho, mas sou interrompida pelo meu vizinho do quinto andar. Nove andares abaixo do meu.
— Queria falar com você Jessie.
— Agora não posso Luan, estou atrasada.
Volto a andar, mas ele segura o meu braço.
— Todo dia é uma desculpa diferente.
Puxo o meu braço e olho feio para ele.
— Não é desculpa, mas se entende dessa forma, então pegue a deixa e se toque. Não.quero.falar.contigo! Entendeu ou quer que eu desenhe?
Vou rapidamente para o meu carro e assim que entro dou a partida e saio da garagem.
Sujeitinho abusado.
Acabo me distraindo com a música de Marilia Mendonça e esqueço aquele “ser” inconveniente.
— “É uma ciumeira atrás da outra. Ter que dividir seu corpo e a sua boca. 'Tá bom que eu aceitei por um instante. A verdade é que amante não quer ser amante...”
Logo estou estacionando em frente ao prédio, localizado na ponta da praia.
Na cidade em que moro considero tudo muito perto em relação a cidade de São Paulo.
Santos é uma cidade litorânea localizada a aproximadamente oitenta quilômetros da capital.
Seria uma cidade perfeita se não chovesse tanto. Aqui São Pedro espirra e já começa a chover.
Sabe quando o repórter diz que só choverá em pontos isolados? Pois é, Santos é um ponto isolado. O pior é que de vez em quando as chuvas são bem fortes e acaba alagando vários pontos da cidade tornando tudo um caos. Do resto não tenho o que reclamar.
Ter uma praia a disposição é magnífico.
Caminhar na orla ou no calçadão me acalma e revigora.
Demais problemas tiro de letra.

Desço do carro e olho para cima me deparando com um prédio de alto padrão contendo vinte andares.
Me aproximo do portão e logo sou abordada através do porteiro eletrônico.
— Pois não.
— Bom dia, sou a Jessie. A Senhora Stella do apartamento 182 está me aguardando.
— Só um minuto, por favor.
Aguardo alguns segundo e logo escuto o portão destravar.
— Pode subir, ela está te aguardando no décimo oitavo andar.
— Obrigada.
Passo pela guarita escura e vou em direção a entrada principal.
Olho para a direita e encontro dois elevadores já parados no térreo. Sem perder tempo entro em um deles e aperto o botão do meu destino.
A caixa metálica sobe bem rápido que até me causa uma leve tontura.
Assim as portas se abrem eu vejo uma moça me aguardando no hall de entrada.
— Senhora Stella?
— Sim, e você deve ser a Jessie.
Concordo com a cabeça ao me aproximar.
Ela me dá um beijo no rosto e me convida para entrar.
Quase solto um assovio ao me deparar com tanto luxo e .... branco. Aqui é tudo muito... branco.
Paredes brancas, sofá branco, tapete branco, almofadas brancas.
Gente! Uma corzinha não faria mal algum, pelo contrário, daria um “up”.
— Vou te mostrar os ambientes que quero que organize, mas eu gostaria que começasse pelo meu closet, está muito bagunçado.
Sorrio e a acompanho em um tour.
É um apartamento bem bonito e percebo pelo requinte de algumas peças que o dinheiro rola solto aqui.
Depois de um rápido passeio pelo apartamento do casal fico no seu closet como ela propôs, e vou te contar, tem mais roupas e sapatos aqui do que uma loja de departamento. Para que tanto, meu Deus? E logo de cara já visualizei pelo menos umas dez peças ainda com a etiqueta, do lado dela. Pois, o lado o marido era bem menor, organizado e não haviam peças em exagero.
Acho que vou mudar a minha vingança se ela não me pagar. Ao invés de colocar o seu closet abaixo vou é levar o seu conteúdo comigo para casa. Uma peça mais linda que a outra.
Sem perder tempo começo separando as roupas por estilos e cores, colocando-as encima do sofá disponível. Isso mesmo! Dentro do closet tem um sofá de dois lugares, mas que cabem três pessoas tranquilamente.




Na hora do almoço uma morena simpática vem me chamar para almoçar e não penso duas vezes em aceitar, estou faminta.
Acompanho-a até a cozinha e sento em um dos bancos disponíveis em volta da enorme bancada localizada no centro da cozinha.
Enquanto ela me serve tento puxar assunto.
— Você trabalha aqui há muito tempo?
— Ah, sim. Eu trabalhava para a mãe do Doutor Diogo até que ela faleceu e ele me trouxe para morar aqui ainda quando estava na faculdade de medicina.
— Mas você me parece bem nova. Não condiz com esse tempo todo.
Ela sorri e me entrega um prato com alguns legumes, uma carne grelhada suculenta e arroz.
— Obrigada.
— Eu já tenho sessenta e cinco anos menina.
— Ahhh não! Está brincando! Nem em sonhos eu te daria essa idade. Parece ter no máximo quarenta. Como faz isso mulher?
Ela ri e balança a cabeça negando a minha confirmação.
— Quem me dera. Já passei dessa idade há muito tempo.
Ficamos conversando assim que ela se juntou a mim para almoçar.
Quando acabei tinha que elogiar esse almoço dos Deuses.
— A sua comida estava uma delícia. Parabéns!
— Obrigada menina.
Trocamos sorrisos enquanto me levanto para levar a louça na pia.
— Pode deixar aí que eu lavo.
— Não me custa nada e...
— Eu lavo menina. Pode ir fazer o seu trabalho.
— Obrigada e adorei o nosso bate papo.
Saio da cozinha e volto para o closet gigante.
Mas o que eu vi assim que entrei não estava nos meus planos.
— Oh meu Deus! Desculpe.
Viro de costas para o cara que está dentro do closet somente de cueca.
Escuto a sua risada e acabo revirando os olhos.
— Eu só vim me trocar. Já estou de saída. Pode ficar à vontade.
Ah meu filho, não fala isso que o meu conceito de “à vontade” pode não agradar a sua esposa.
Alguns poucos minutos depois escuto a sua voz.
— Já pode virar.
E assim que faço me arrependo na mesma hora.
Ele está vestindo uma roupa social bem estilosa, porém esqueceu de coloca a camisa. Um homem da cor do pecado que só me leva a acreditar que deve ir para a praia sempre que possível, e que, com certeza frequenta a academia.
— Gostando da paisagem?
Pigarreio, mas impossível tirar os olhos daquilo tudo.
Nego com a cabeça, mas as minhas palavras me contradizem.
— Com certeza!
Escuto a sua risada que acaba tendo um efeito hipnotizante em mim.
Escaro os seus olhos e percebo que eu não sou a única a fazer uma minuciosa avaliação.
— Você é a personal organizer.
Não foi uma pergunta, mas mesmo assim respondi.
— Sim, meu nome é Jessie e você deve ser o doutor Diogo.
— Em carne e osso.
Eu diria em músculos e osso. Eta homem bom da porra.
Escuto a sua risada e rapidamente encaro os seus olhos.
Ah não!
— Eu não disse isso em voz alta, disse?
Ele assente.
Que mico!
— Mas para não ficar tão constrangida com a declaração acidental, posso lhe dizer que você também é um mulherão da porra.
Ops! Isso não vai dar certo.
— Que bom que concordamos com isso.
Lentamente ele se aproxima de onde estou e de longe não parecia tão alto. Tudo bem que qualquer um deve ser mais alto que eu, a não ser que tenha seis anos. Tenho apenas um metro e cinquenta e oito e esse homem deve ter um e oitenta mais ou menos. Um gigante para mim.
Olho para cima, mas não sem antes conferir de perto o seu peito definido.
— Quantos dias ficará aqui?
— A princípio uma semana.
— Bom!
Pigarreio novamente e desvio do seu belo corpo indo para perto do armário da sua esposa.
— E como preciso cumprir esse prazo tenho que continuar aqui com a arrumação.
Aponto com o dedão para atrás mostrando o armário nas minhas costas.
— Ainda nos esbarraremos por aqui, pode ter certeza. —Ele coloca uma camisa branca e sai do closet abotoando-a. — Até mais Jessie.
— Até.
Falo bem baixinho que com certeza ele não escuta.
O que foi isso?
Chacoalho a cabeça para acordar do transe e volto ao meu trabalho.
O fim da tarde chega e logo vou para casa tomar um banho.
Mal acabo de enxaguar o cabelo e sinto as suas mãos no meu corpo e um beijo na minha nuca do meu marido.
— Oi vida!
Eu sei o que vocês devem estar pensando, mas vou logo me defendendo: sim, eu amo o meu marido. Acho-o gostoso e carinhoso. Não é aquele homem com “a pegada”, mas sabe como me deixar satisfeita. Nunca negou uma transa e sabe me dar valor, mesmo eu não merecendo, mas essa parte eu contarei em doses homeopáticas.
Ele me abraça e beija o meu pescoço.
— Oi amor! Chegou todo fogoso.
Ele ri baixinho.
— Sempre!
Depois de fazer um amor gostoso acabamos de tomar banho e enrolados em roupões vamos para a cozinha comer alguma coisa.

****O voto de vocês é muito importante para nós.****

Fire (Série Angel Men MC) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora