39. Maman sait mieux

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Narração Valquíria:

Julho é o mês onde chega o frio no Brasil, mês do meu aniversário e o mês onde os alunos tem recesso da escola, incluindo a minha bebê.

Um dos motivos pelo qual eu tive certeza absoluta que não seria mãe foi perceber como as mulheres que eram mães no trabalho sempre voltavam mais cansadas de suas férias do que o período trabalhado em si. A justificativa era sempre a mesma: suas férias também eram as férias de suas crianças.

E bem, ser mãe é o trabalho mais cansativo da história e não existem folgas. Se você quer ter filho, o melhor a se fazer é ser pai. Ser pai é muito fácil e bom, eu seria pai se possível.

Felizmente eu não sou mãe da Clara e ela é um bebê dentro de um corpo de 20 anos, ou seja, um bebê à prova de Valquíria e que irá sobreviver sob meus cuidados. O que é ótimo, afinal, eu descobri o verdadeiro significado de "férias escolares" para quem tem pequenos em casa e posso entender porque do cansaço dos responsáveis.

- Clarice, eu já falei para parar de correr!

E ela não me ouviu... de novo.

Sem obrigações durante o dia, Clarice vivia como bem queria. Levantar cedo? Nem pensar, ela só acordava para mamar e depois virava para o lado e voltava dormir. Saia da cama lá para dez da manhã e ligada nos 220volts. Queria brincar, queria pular, queria correr, queria assistir desenho e tudo simultaneamente. Tinha muita energia para gastar e como seu sono de dez, onze horas diárias não estava sendo interrompido por despertador, ela estava com a bateria cheia.

E eu? Eu fui obrigada a pedir férias.

Como poderia trabalhar ouvindo o caos se instalando pela casa? Sem contar que a Clarice sendo pequena demanda muito a minha atenção. Se eu não estou por perto, se ela não me ouve pela casa, se ela não sabe onde eu estou ela começa a chorar e entrar em desespero. O problema que a casa é grande demais, quando foi construída moravam meus pais, minha avó e eu e ainda assim era grande para nós quatro, dirá lá duas pessoas. Se eu realmente não estiver por perto e de preferência no mesmo cômodo, a sensação é de que estamos sozinhos.

Clarice não fica sozinha quando está pequena. Ela tem medo. Dá para trabalhar com alguém o tempo todo gritando "maman" ou chorando de medo do bicho papão?

Aliás, eu até agora não entendi de onde surgiu a história do bicho papão. Só sei que vez ou outra Clarice vem correndo para mim com medo dele e acha que eu sou a ninja caçadora de bicho papão. Inclusive já me perguntou se eu também tenho roupa e espada de ninja.

- Será que você poderia parar de comer o bacon cru, dona Clarice?

- Só mais unzinho, maman.

- Esse é o último. Não pode ficar comendo bacon cru, faz mal.

Voltei a minha atenção para as cebolas que estava cortando perto da pia. Não deu um minuto para eu ver o reflexo do braço da Clarice pelo vidro da janela a minha frente. Ela estava de novo roubando o bacon para comer.

- Tira. A. Mão. Desse. Bacon - me virei para trás e Clarice rapidamente escondeu a mão atrás das costas. - Me dá...

Ao perceber que não estava disposta a me entregar o pedaço de bacon por livre e espontânea vontade, me aproximei dela e sua reação imediata foi enfiar o bacon na boca antes que eu pudesse pegar seu braço.

- Você está de castigo. Já para o cantinho.

- Não, maman.

- O cantinho, Clarice.

Fazendo bico Clarice foi a contragosto para o cantinho. A banqueta já estava lá a esperando das outras vezes que também ficou de castigo ali. O seu comportamento estava impossível nos últimos dias e o resultado era sempre o mesmo: castigo no cantinho.

Stuck with U (Em Revisão)Where stories live. Discover now