Capitulo 13

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— Sim, quase todos os dias, mas hoje eu não o vi por aqui. Mas não é como se eu pudesse ir a onde quiser, ou fazer tudo o que quero. Papai disse para eu me comportar e ficar no meu quarto, que não é nada ruim, é grande. Tem jogos, TV, livros, tem tudo. Então eu meio que fico bastante tempo nele.
— O que vocês conversam? Você e o Lúcifer?
— Todo tipo de coisa, filmes, jogos, séries. Ele sempre joga comigo quando tem tempo, eu amo ele. É como um segundo pai para mim, ou melhor, um tio.

Ele joga com ela??? Ela ama ele como um tio??? De qual Lúcifer essa garota está falando? O mesmo que queria despedir Bety por um motivo tão besta? Impossível ser esse. Os minutos se passaram e nós conversamos sobre várias coisas, apesar de estar ali a mais tempo que eu, Horrania aparentava não saber nada sobre o real sentido daquela mansão. Mas isso já era de se esperar já que ela é apenas uma menina de nove anos. Mas o pai, aquele sim deve saber dos podres por trás das máscaras. Qual seria o preço que ele pagou para estar ali? A alma, assim como eu? Horrania deixou a sala mas eu continuei ali, apenas esperando que o pai dela viesse buscar a bandeja e isso aconteceu.

— Gostou da companhia? — perguntou enquanto debruçava-se para pegar a bandeja sobre a mesa.
— Qual foi o preço que você teve que pagar? — fui direto ao ponto.
— Senhorita, do que está falando?
— Não se faça de besta, eu sei que você também recebeu um contrato para estar aqui. O que ele pediu em troca?
— Não devo falar sobre isso com ninguém — ele virou as costas, mas eu precisava saber, então apelei para uma ameaça sem sentido.
— Se não me disser terei que ter uma boa conversa com Lúcifer sobre o seu futuro dentro desta mansão.
Ele parou de andar e o clima dentro daquela sala pareceu esquentar. Após um longo suspiro, ele me olhou por cima dos ombros e deu a resposta que eu queria.

— Minha filha, ela foi a moeda de troca.
Em seguida continuou andando.
Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, o homem desapareceu corredor a dentro. Como ele teve a coragem de fazer aquilo, de usar uma criança inocente como um meio para conseguir dinheiro. Pelo outro lado eu não me surpreendi, o diabo sempre teve a grande fama de ser sujo, eu só não queria acreditar que os humanos também possuíam essa grande capacidade de serem uns filhos da puta. Deixei a sala e comecei a andar pelos cômodos a procura de Bety e enfim a encontrei na pequena sala de lazer que ficava próxima ao meu quarto.

— Bety, a menina, você sabia sobre a menina?
— Está falando de Horrania?
— Sim. Você sabia que o pai maldito dela a usou como uma moeda de troca?
— Senhorita, eu não me envolvo com os assuntos do patrão e aconselho você a fazer o mesmo. Não estou defendendo ele, mas todos aqui estão por escolhas próprias, ele não obrigou ninguém a nada.
— Mas a menina nem sabe disso, acha justo?
— Pelo que sei, ela e o pai estavam a beira da morte, sem casa e dinheiro. Não acha que isso foi melhor para eles?

— MELHOR? Sabe se lá qual é o plano dele para aquela criança e...
— Melhor não falarmos mais disso, acredite, está mansão possui olhos e ouvidos. E por mais que eu te ache uma boa pessoa, não quero arriscar perder meu emprego me metendo nos assuntos do patrão, eu realmente preciso do dinheiro.
— Ok, eu mesma vou fazer as perguntas na cara dele hoje a noite então. E espera... você também assinou um contrato???
— Ninguém pisa nesta mansão sem assinar um. Agora comece a se preparar psicologicamente para o jantar, como eu te disse, ele irá fazer perguntas sobre o que aprendeu hoje.

— Ah ele vai ter as respostas. TODAS SOCADAS NO MEIO DO CU DE ENXOFRE.
Dei as costas para Bety e por meia hora a única coisa que eu consegui fazer foi andar de um lugar a outro, perdida em pensamentos e ideias malucas. Não era possível que todos ali fossem pessoas desesperadas por algo na vida a ponto de aceitarem os termos do diabo. Se bem que eu também estou aqui, mesmo sem acreditar eu acabei assinando o maldito pergaminho usando meu maldito sangue. Quer saber, dane-se. Vou ir lá e ensinar aquele homem idiota a como ser e a como pensar como um pai. Ando rápido até a cozinha e reviro todo o lugar com os olhos, a procura do pai de Horrania e o localizo, ele estava atrás do balcão da cozinha passando um pano branco em algumas taças. Não ficou muito contente em ver que eu me aproximava.

— Posso ajudar em alguma coisa, Senhorita? — perguntou com toda a tranquilidade do mundo.
— Sabe as coisas horríveis que ele pode fazer com a sua filha? Tem ideia do que fez com a vida dela?
— Sim — ele colocou a taça sobre o balcão e focou sua atenção em mim — dei a ela um futuro grandioso, longe dos ratos da rua.
— Ah claro, porque Lúcifer vai encher sua filha de ouro e depois vai deixar ela ir embora para gastar tudo e ter a vida dos sonhos. Por que ele é assim né, um ótimo homem, bondoso e adorador de Jesus.
— Adorador de Jesus eu não posso afirmar, mas todo o resto condiz com ele. Todos aqui dentro eram meros vermes antes dele aparecer. Agora temos abrigo, comida, luxo. Tudo aquilo que nos foi negado lá fora.
— AH QUE PREÇO?
— Ainda não entendi o porquê dessa sua indignação, você se vendeu da mesma maneira que a gente.

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