Capitulo 30

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— Sim senhora — falei, sem ter a menor ideia se dessa vez estava fazendo certo. Que coisa difícil, se eu escolher a bunda a barriga incha, se eu murchar a barriga a bunda pula pra trás. Até nisso é preciso ter equilíbrio.
— Quando eu disser “andem” quero que as três deem um passo, mas ainda mentalizando o gancho, a Lapsusstella e mantendo o bumbum encolhido, a mesma coisa serve para a barriga. Olhem para frente, nunca abaixem a cabeça ou a levantem demais. Entenderam?
— Sim.
— Ótimo — ela saiu da nossa frente — andem — demos um passo e como já esperado eu perdi o equilíbrio devido ao salto. Mas me recompus rápido fingindo que nada havia acontecido — andem, andem, andem — dessa vez a única a pagar mico foi a gêmea da esquerda que tropeçou arrancando grama.

— Ótimo, vocês estão indo muito bem, se o objetivo for participar das paraolimpíadas. Mas eu já esperava por isso, seria impossível que dominasse essa técnica na primeira tentativa e sem prática. Voltem as suas posições iniciais — fizemos o que ela pediu e mais uma vez fomos repreendidas — vocês deviam se envergonhar de não saberem nem andar de salto. O que estavam fazendo esse tempo todo na vida? Mudança de planos, antes de aprenderem a técnica da Lapsusstella terão que aprender a andar. Comecem a caminhar em volta do chafariz sem parar, agora.
Ela ordenou e o jeito foi obedecer, fizemos uma fila e eu fiquei entre as gêmeas, se a da frente fizer certo eu posso copiar os seus passos mas se a de trás errar eu irei pagar o preço. E então começamos, passo a passo, tropeço a tropeço e era um milagre aqueles saltos não terem se quebrado ainda. Na quarta volta Cho nos parou.

— Se eu colocar esses sapatinhos em pedreiros eles conseguirão mostrar mais classe que vocês três juntas.
— Crueldade falar isso na nossa primeira aula — reclamou a gêmea que estava atrás de mim.
— Eu sou paga para ser cruel. Minha missão é transformar seres primitivos em damas de honra. Sentem-se para os cinco minutos de descanso, depois retomamos as voltas pelo chafariz.
Nos sentamos novamente e um vento agradável balançou as folhas as árvores e arbustos, o dia está muito lindo e isso é favorável para mim, me sinto mais confiantes em dias assim. Apesar de estar passando vergonha tenho certeza que irei aprender rápido.

— Ei Cho — chamou Diane — Você está nos ensinando sobre a postura, o gancho e energia. Mas não nos deu nenhuma dica sobre como andar de salto, não tem nenhuma?
— Equilíbrio é tudo. Mentalizem o caminho mas não olhem para ele, seus rostos devem sempre estar focados a frente. Encarem o salto como uma extensão de seus corpos, não tentem se equilibrar no salto, usem o salto para se equilibrarem no chão. O objetivo é aprender a andar de salto e não a andar no salto.
Hum, agora eu entendi. Mentira, entendi foi porra de nada. Equilibrar no chão ou no salto, qual a diferença Melhor eu usar apenas um sapato de couro e me mudar pro interior pra viver com as vacas.

— Agora voltem a circular o chafariz, o descanso acabou.
E lá vamos nós...
Ficamos ali naquele ciclo infinito que consistia em darmos voltas e mais voltas na tentativa de dominar os sapatinhos de salto. Pelo tempo que se passou já devia estar beirando a hora do almoço quando finalmente alguma de nós teve sucesso. Diane andava facilmente sobre o salto e era a única pronta para aprender o próximo passo. Mas ela teria que nos esperar, já que Cho queria que as três juntas compartilhassem das aulas mutuamente. Mais alguns minutos se passaram e Bety veio avisar que o almoço estava sendo servido, aquilo me deixou aliviada, era hora de parar.

— Vocês duas não — Cho apontou para mim e para Amber, apenas Diane recebeu permissão para almoçar já que era a única que havia aprendido algo.
— Ela só pode estar trapaceando — reclamou Amber e recebeu uma careta da irmã. Preciso me concentrar mais ou ficarei com fome, devo seguir as dicas dadas por Cho. Primeiro tenho que mentalizar o caminho, depois fazer do salto ser um só com o meu corpo.
Vamos lá, eu não disse que iria vencer esse jogo? Mal estou conseguindo usar um salto, se não for bem sucedida nessa tarefa o diabo vai continuar me atormentando até em sonhos.

Concentração, passo após passo. Concentração, passo após passo.

Tudo fica mais difícil já que estou sendo observada, nunca fui boa em fazer as coisas sob pressão e tentar imaginar que eu estava sozinha não iria funcionar. Cho nos olhava com reprovação e a julgar pelo tempo que estamos dando voltas, não iremos ter nenhum outro momento de descanso, vamos andar até aprender ou até nossas pernas começarem a doer.
— Descansem — ela falou me surpreendendo. Amber andou em direção a uma das cadeiras mas eu fiquei ali parada por alguns segundos e enfim tomei minha decisão.

— Só vou descansar quando aprender a andar de salto — voltei a caminhar e a cada nova volta eu errava menos, estava começando a ganhar confiança e finalmente aconteceu, paguei a maior vergonha até agora... cai de cara no chão, justo quando eu estava tão perto de conseguir a aprovação de Cho.
— Pare de mastigar a grama e se recomponha — ela nem se quer veio me ajudar, bem que avisou que iria ser cruel conosco. Após descansar, Amber se juntou a mim novamente e enquanto eu andava de uma maneira estranha ela estava indo muito bem, parece que descansar a ajudou e muito.
— Já pode parar, Amber — disse Cho com aprovação para a garota. Parece que a única que irá sofrer por todo o dia serei eu.
— Eu sou um desastre — reclamei para mim mesma.
— Então por que não desiste? — perguntou Cho que acabou escutando.
— Não posso — suspirei enquanto observava o chafariz, o meu mais novo inimigo.

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