Capitulo 58

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REVELAÇÕES



Cada passo em direção a porta parece durar uma eternidade, mas enfim eu cheguei. Levo a mão até a maçaneta e a giro, está destrancada. A pequena sala a minha frente se mantém silenciosa e calma, tudo está em seu devido lugar. Passo pelo sofá e me aproximo da porta do quarto de Lúcifer, por mais uma vez a travessia parece durar horas, meu corpo me manda recuar mas a minha mente insiste que devo seguir adiante. Então faço isso. Abro a porta do quarto, abro as cortinas iluminando todo o ambiente, contorno a cama e retiro o caixote debaixo dela. Minhas mãos estão tremendo e o meu coração acelera a cada movimento do meu corpo. Me sento no chão e puxo a caixa para mais perto, olho para a porta, não tem ninguém, sou só eu e os segredos trancados. Seguro firme a chave e a posiciono na fechadura do cadeado, giro e ele se abre. Retiro lentamente e o coloco ao meu lado me dando tempo para respirar e tomar coragem. Levanto a tampa do caixote... as roupas manchadas é a primeira coisa que vejo, as retiro e...

— Kaila — a voz de Lúcifer ecoa pelo quarto. Ele agora está parado na porta me olhando.
— Eu... — olho para o caixote e depois para ele — eu preciso saber e você não vai me impedir.
— Não vou te impedir, não dessa vez. Tem mesmo certeza de que quer descobrir tudo? — ele anda até mim e se senta na cama.
— Eu tenho.
— Tudo bem. Me dê o caixote, eu mesmo vou lhe mostrar e contar tudo.
Lhe entrego e me sento na cama, o caixote fica entre nós dois, nos separando assim como os segredos.
— As roupas, são dele, não são? Do outro Lúcifer? — pergunto.
— Sim, são dele — ele pega as roupas dobradas e as coloca numa parte da cama atrás da gente — o projeto fênix divide os garotos em duplas nos quartos. Isso é uma tática suja para que os garotos acabem criando uma amizade entre si, só pra depois terem que se matar e provar sua lealdade e frieza a organização. E foi exatamente isso que aconteceu, eu só tinha a ele e ele a mim, eu não me lembrava de nada, mas ele sim. Ele me contou de seus pais e de sua irmã, me disse até a cidade onde moravam. Eles o arrancaram de sua família, mataram seus pais e consumiram com sua irmãzinha de quatro anos. É isso que eles fazem, eles tomam e destroem tudo. Nós dois criamos um laço e falávamos disso em segredo noite após noite, prometemos que iríamos destruir aquelas pessoas para nos vingar pelas famílias que elas estavam destruindo. Alimentamos esse desejo por algum tempo, brincávamos, ríamos. E então eles nos jogaram em uma sala branca, nela havia uma mesa e sobre esta uma única faca. Nos disseram que apenas um poderia sair vivo, que aquele era a provação final para se tornar um Lúcifer. O meu amigo sabia que eu era o mais capacitado, todos me viam como o prodígio, sempre aprendendo rápido, me saindo bem nos testes e etc. Mas eu não consegui, eu fiquei congelado e acabei chorando. Foi então que ele me deu um soco que me fez cair no chão, andou até a faca, a pegou, veio até mim e me xingou, me chutou, disse que eu era fraco e não merecia virar um Lúcifer. E então ele ameaçou me dar uma facada enquanto eu ainda estava no chão, ele tropeçou e caiu sobre mim com a faca enfiada em si mesmo. Ele segurou as minhas mãos e a posicionou contra a faca, ele havia feito tudo aquilo de propósito, sabia que eu não conseguiria mata-lo e precisava ser convincente para as câmeras que estavam nos vigiando. Ele sussurrou que me amava e que eu devia seguir o nosso plano de vingança, então caiu pro lado sem vida. Ou pelo menos eu achava que estava sem vida, depois disso o seu corpo foi levado e suas roupas sujas de sangue foram entregues a mim como uma espécie de troféu. Meu amigo se matou para que eu pudesse viver e a única coisa que me restou dele foram as roupas.

— Ele foi embora? — perguntei.
— Sim, mas não está totalmente convencido e nem se parece com o que era antes. Mas não posso culpa-lo, o tempo muda todo mundo e não sei se ele agora é aliado ou inimigo. Se nôs entregar será morte certa para todos dentro desta mansão.
— Você contou o seu plano para ele?
— Contei — Lúcifer retirou alguns papéis de dentro do caixote — agora devo contar a você também, mas antes você precisa saber qual é sua ligação com tudo isso — ele me entregou um dos papéis e eu os peguei tremendo.
— Tem certeza, Kaila?
— Sim, eu estou pronta para saber.
— Espero que possa me perdoar algum dia.
Comecei a ler o que estava escrito, era um tipo de documento pessoal contendo alguns dados sobre uma família. No topo lia se:
Projeto Fênix, Operação Wight
Só isso foi o suficiente para me deixar apreensiva, o meu sobrenome estava naquela folha, bem grande e visível. Continuei lendo e as coisas iam se revelando aos meus olhos:

Antony R Wight
Mathias Wight

Os próximos dados não revelavam nada que fosse útil  naquele momento, apenas datas de nascimento, tipo sanguíneo e aparentemente a idade. Antony tinha 38 anos e Mathias 9.
— Essas pessoas possuem o mesmo sobrenome que o meu... — falei virando a folha para ver se haviam mais informações mas estava em branco.
— Sim, Antony era o seu pai e Mathias o seu irmão. A família Wight sempre esteve no topo das classes, suas empresas dominavam o mercado e a prosperidade parecia não ter fim para o seu pai. Agora quero que veja isso, o meu cartão de crédito pessoal contendo o meu nome — Lúcifer retirou um cartão que estava em sua carteira e me entregou, este possuía o seu nome verdadeiro, aquele que lhe foi dado por uma mãe ou um pai. Virei o cartão na mão e estava escrito: Mathias Wight
— Não. Isso está errado — soltei o cartão e me levantei da cama — como você pode ser o Mathias se ele é o meu irmão?

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