O Luto

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Oklahoma, 1975

— Por que você quer ser igual o papai? – Clint Sullivan apoiou suas mãozinhas embaixo do queixo e olhou pra irmã, que brincava de ser uma policial.

— É bem legal, investigar bandidos – Clarisse deu de ombros.

— Mas isso significa, que você vai ficar longe de mim também. – o garotinho de cabelos pretos respondeu com um bico.

— Quem disse que ficarei longe de você? – Clari abraçou o mais novo — Eu nunca vou te deixar, talvez eu leve você para trabalhar comigo, quando crescermos.

Clint riu e adorou a ideia.

— Promessa de dedinho?

— Promessa de dedinho. – Clari estendeu o dedo em sinal da sua promessa.

Hawkins, 1986

Clari piscou várias vezes pra afastar as lágrimas, e dirigiu para o parque dos Trailers, antes de prestar suas condolências à sua amiga, ela queria passar pelo local e fazer sua própria varredura.

Havia uma grande faixa amarela sinalizando que era uma área restrita, também havia uma barreira de carros policiais, quais ela deveria evitar. Então Clari fez um cruzamento em um pequena trilha, que mal era notada, se ela não tivesse vindo diversas vezes para o trailer de Eddie Munson, jamais encontraria. Clarisse estacionou o Corcel Ford e seguiu a trilha a pé.
Podia se ouvir a movimentação a frente nos trailers, como curiosos e a guarda civil.

Clari caminhou silenciosamente, até começar a escutar um choro vindo de uma pequena clareira, ao se aproximar vagarosamente pode avistar os cabelos loiros de Tracy, que agora andava para trás, e olhando adiante, como se algo estivesse vindo atrás dela. Clari chamou a Cunnighan mas não obteve resposta. A Sullivan então a segurou pelos ombros e a virou de frente.

— TRACY, TA ME OUVINDO?! – A balançou fazendo acordar de uma espécie de transe, Tracy gritou se debatendo dos braços de Clarisse. — Calma, sou eu. Clarisse.

Tracy agora se segurava em Clari e olhava apavorada aos arredores e para o chão.

— Tracy você está vendo algo? – Clari seguiu o olhar da amiga, talvez Tracy Cunnighan estivesse delirando. O que era extremamente normal.

Quando seu irmão morreu, Clari dizia ter algumas espécies de visão, com seu irmão. A terapeuta realçava que era a fase de negação misturada ao trauma sofrido

— Eu... eu não sei. – Tracy admitiu baixinho não queria parecer uma louca que acabara de ver viúvas negras subindo pela sua perna e um relógio gigante tocando na sua frente.

— Achei que você estaria no ginásio para a homenagem...

Tracy encarou a garota como se por um segundo estive esquecido da morte de sua irmã e seus olhos voltaram a marejar.

— Ei, vai ficar tudo bem – Clari puxou a garota para um abraço, Tracy se agarrou a nova amiga como se dependesse disso.

Elas passaram alguns minutos assim sem dizer nada, não tinha o que ser dito. No entanto Tracy se afastou bruscamente do abraço fazendo Clari franzir a sobrancelha.

— Foi o Eddie! – Ela apontou pro parque dos trailers — Ele matou minha Chrissy!

A terapeuta de Clari dizia que existia cinco fases do luto. Negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Tendo passado por todas as fases, Clarisse podia ver exatamente através dos olhos azuis de Tracy que a garota estava enfrentando a fase dois. A raiva.

Tracy marchou a passos duros em direção aos trailers, mas Clari a segurou.

— É o que a polícia está dizendo, Tete.  – Clari tentou amenizar mas recebeu um olhar gélido de Tracy. — Eu tenho certeza que não foi o Eddie.

— Está dizendo isso por que é a amiga dele – Tracy tirou as mãos de Clari dos seus ombros.

— Exatamente, e eu sei que Eddie não é capaz de matar nem uma mosca sequer. Tem algo muito estranho acontecendo.

— Sabe o que está acontecendo? Vocês simplesmente me levaram pra aquele lugar ridículo, eu deveria estar com minha irmã, eu sabia que ela não estava se sentindo muito bem nos últimos dias, mas eu decidi ignorar, porque pela primeira vez na vida tentei pensar só nos meus problemas, e olha no que deu. 

— Tracy isso não foi culpa sua, estar ou não estar com ela.

— Tem razão, talvez eu não tenha. Mas O Eddie Munson sim. – Tracy voltou a andar e dessa vez Clari não impediu, a própria parou no caminho e deu meia volta. — Talvez isso foi uma vingança.

— O que? – Clari a olhou sem entender.

— Eu  venci no jogo – Tracy fitou o chão pensativa — Talvez seu amigo não gostasse de perder, e decidiu se vingar de mim.

— Tracy isso não faz sentido,ele não é assim. Ela jamais machucaria alguém, ainda mais Chrissy. Também não faz sentido alguém machucar a Chrissy. Mas olha eu te prometo, que Eddie nunca faria isso.

— Você é  muito confiante quando diz isso. – Tracy cruzou os braços e Clari apenas assentiu.

— Vem vamos para o ginásio, vamos se despedir da sua irmã, e eu já tenho em mente por onde começar minhas próprias investigações. – Clari estendeu a mão pra ela. — Eu vou te provar que não foi o Eddie, e que vamos encontrar o verdadeiro culpado.

Tracy olhou para a mão de Clari ponderando, ela realmente esperava que não fosse Eddie Munson o autor do crime, pois ela tinha se simpatizado com o garoto de cabelos compridos, então ela segurou a mão da amiga.

— Eu não posso ir o ginásio. – falou com um suspiro e prosseguiu quando Clari não entendeu o motivo. — Meus pais estão me culpando também, acham que fiz parte disso por pura inveja da minha irmã, eu não posso aparecer lá.

Não foi preciso de mais explicações, Clari se via em uma outra versão agora e sabia que precisava ajudar a amiga. Então ela guiou a garota de volta ao carro, de relance notou um carro conhecido, e para comprovar avistou a garota de cabelos castanhos cercadas por policiais. Nancy Wheeler.

— Talvez ela esteja cobrindo alguma matéria. – Tracy disse a assustando.

— Talvez.

A Sullivan tomou a pista que estava liberada para passagem, já estava quase anoitecendo. Tracy escolheu uma música no rádio para tentar se distrair, Clari batia os dedos no volante acompanhando o ritmo quando freou bruscamente e olhou a alguns metros algo no chão.

— O que é aquilo – Tracy se esticou no banco e sentiu um arrepio.

— Deve ser algum animal. – Clari disse tentando se convencer e aproximou bem devagar com o veículo, então pode notar aos poucos, as roupas, o cabelo.

— Não me diga que é uma pessoa. – Tracy se encolheu no banco — O que vai fazer sua maluca?!
 
Tracy gritou quando Clarisse saiu do carro e deu a volta no corpo estirado no chão.

— Puta merda! – Clari cobriu a boca com as mãos chocada demais com o que via.

Um corpo totalmente deformado, pernas e braços quebrados, a face torta deixando quase irreconhecível, sem contar pelos olhos esbranquiçados e coberto de sangue ao redor.

Exatamente como Chrissy fora encontrada.

Far From Over - Stranger Things  Where stories live. Discover now