𝐃𝐄𝐙

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Quando ele acordou, o céu ainda estava escuro

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Quando ele acordou, o céu ainda estava escuro. Se sentou em sua cama e suspirou pesadamente enquanto seus cabelos rebeldes recobriam parte de sua visão. Tinha muito trabalho a fazer e se permitiu dormir mais que o esperado.

Costumava parar e pensar sobre as coisas que faria com seu dia: ler e analisar documentos que deveriam ser dever do rei, estudar e preparar encantamentos estranhos que agradariam a corte, como fogos de artifício de cores estranhas ou algo que os fizesse dançar magicamente. Agora, tinha um novo afazer na lista, que se chamava:

Amicia... — murmurou, enquanto se levantava. — O que faço com você?

Aproximou-se da janela, deixando escapar um gemido de dor enquanto lutava para abri-la. Somente ao levantar a camisa se lembrou da noite anterior, vendo o corte quase completamente cicatrizado em seu abdômen. Ainda precisava remover os pontos tortos.

Torceu o nariz em desaprovação depois de se lembrar de toda a conversa embaraçosa que veio depois daquilo. Mas, se ele se considerasse um homem de palavra, apagaria a memória da serva como prometeu, já que não poderia sequer exigir pagamento, dado o seu estado atual. Então, pelo menos, não teria que se preocupar mais com isso.

Passaria alguns minutos se remoendo por todos aqueles acontecimentos, mas algo chamou sua atenção. Seus olhos se focaram sobre a soleira da janela, sua testa se franziu ao ver o estranho acúmulo de areia sobre ela. Seria normal, como a quantidade assombrosa grudada no vidro, afinal, o deserto cercava aquele reino e o vento forte provavelmente espalharia um pouco de areia por aqui e ali, mas a quantidade acumulada ali era absurda. Significava que algo estava errado.

Se focou em prender o cabelo, ou pelo menos tentar, nunca foi de se importar com o quanto estava bagunçado, sabia que nem mesmo a mágica daria jeito. Calçou as botas e sua túnica e caminhou pelo corredor em silêncio, folheando o livro que decidira levar consigo.

Não se importou com o que Esma diria ao entrar no dormitório das servas, caminhou pelo corredor vazio e parou em frente à porta, minha porta, deixando batidas grosseiras na madeira velha. Ao ouvi-las, me levantei em passos tortos e desordenados, os cabelos para o ar, e as roupas nem tão alinhadas assim. A abri lentamente, me deparando com ele.

— Não sabe que horas são? — murmurei, os olhos quase fechados ao me apoiar na porta.

Analisando-o, ninguém poderia dizer que na noite anterior havia sido esfaqueado. O rosto estava elegantemente perfeito como sempre, os cabelos brilhosos e bem penteados, e as roupas sem nenhuma gota de sangue. Enquanto isso, eu estava com os cabelos para o alto, o uniforme torto e mal abotoado, e minhas botas sem meias.

— Disse que apagaria a memória dela.

— Volte quando o sol tiver acordado também.

Tentei fechar a porta e voltar para dentro, quando ele agarrou meu braço.

A Contadora de Histórias | LIVRO 1 E 2 [𝗘𝗠 𝗥𝗘𝗩𝗜𝗦𝗔̃𝗢]Where stories live. Discover now