Arquivos da Senhorita Óbvio

Thiago: D. Juan do Paraguai

"Tchau, Esther."

"Não esquece do dever de casa." A mulher falou da porta.

Thiago virou e deu um joinha com as duas mãos e uma piscada para a orientadora antes de voltar para seu caminho.

Quando chegou em casa, ele tirou três folhas de papel de um dos cadernos e escreveu uma carreira em cada uma. Medicina, Ação Social e, por fim, Direito. Ele botou as três lado a lado na sua frente na cama e ficou olhando-as, como se magicamente uma resposta fosse surgir.

"Ugh... Como que eu escolho?" Ele se jogou para trás. "Será que a Esther vai ficar muito chateada se eu só jogar minha borracha pro alto e onde cair vai ser minha carreira?"

"Provavelmente."

Ele levantou a cabeça e viu Elisa na porta. "Ainda está fugindo da Sabrina?"

A amiga só desviou o olhar e era tudo o que ele precisava saber. Ele se sentou de volta e ela parou ao lado dele, olhando os papéis.

"Bem parecidas essas carreiras." Ela disse com um tom irônico e ele riu. "Que bom que você está levando os encontros com a Esther a sério."

Thiago sabia o que ela quis dizer, então ficou calado e só aceitou o elogio.

"Por que essas carreiras?" A garota perguntou.

"Você já não sabe?" Ele sorriu daquele jeito presunçoso dele. "Achei que sempre soubesse tudo de todo mundo."

"Como eu já te disse várias vezes, eu sou observadora, não vidente."

Thiago murmurou algo sobre não ter certeza disso e Elisa revirou os olhos. "Eu quero ajudar as pessoas." Ele respondeu.

"Mas ação social?" Elisa franziu a testa.

"Por que não?"

"Se você tá feliz..." Ela deu um sorriso forçado e sentou na escrivaninha dele e ficou lendo.

Ele não entendeu muito bem o porquê daquela reação dela, mas seus amigos tiveram a mesma reação quando ele foi falar com eles para pedir ajuda. Parecia que nenhum deles acreditava que ele fosse se dar bem naquelas escolhas.

Cansado da negatividade, ele aproveitou o fim de semana para conversar com Fernanda. Ela com certeza iria ajudá-lo e com certeza não ficaria desanimada que nem os outros. Eles conversam bastante, e Fernanda se segurou para não parecer desacreditada também. Ela queria ajudar o namorado e ficar duvidando dele não ajudaria em nada.

"Por que você não faz uma lista dos prós e contras de cada uma?" Ela sugeriu.

Ele pegou o caderno e começou. Fernanda ia ajudando, citando algumas coisas para ele adicionar. No final, eles olharam e releram tudo e a conclusão pareceu óbvia.

"Medicina ganhou disparada das outras."

"É... " Ele ficou olhando para o caderno.

"Você acha que é a escolha certa?"

Thiago olhou para a namorada, mas continuou em silêncio. Mesmo sendo difícil, era uma carreira mais prática que direito, que além de saber as leis ele teria que interpretar e saber como melhor apresentar alguma coisa e blá blá blá.... Ou que ação social, já que, mesmo que ele fosse super sociável e se desse bem com as pessoas de um modo geral, ele ainda era meio tapado no quesito interação humana, ou entender essas interações. Além disso, ele sabia que não tinha coração, nem estômago para ouvir as histórias. Por fim, ele sorriu e disse: "É, é sim."

Não convencida com essa resposta depois de todo o silêncio, Fernanda começou a cavar mais fundo com perguntas que só deixaram ele ainda mais confuso do que ele estava no começo.