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Carmem;

A vida é uma puta caixa de surpresas fodida pra caralho. Tudo simplesmente desmoronou, sem mais e nem menos, o caos invadiu as nossas vidas e mudou tudo. Eu me vejo perdida outra vez, cansada e esgotada, tudo aquilo que eu consegui superar voltou e eu não sei o que fazer, eu tô completamente perdida e angustiada.
Parece que nada no mundo pode acabar com isso, nada nunca mais vai poder trazer a antiga Carmem de volta.. porque ela morreu.

Enquanto eu estava em trabalho de parto, eu vi um amigo morrer tentando me salvar e salvar meu filho. Foi horrível e doloroso pra caralho, o Thor, foi bom comigo e um grande amigo em muito pouco tempo.. nós dois tivemos uma conexão inexplicável e incrível, e eu vi ele morrer. Se engasgando no próprio sangue e sem poder respirar, mas mesmo naquele estado ele me protegeu até o último segundo.. E não foi fácil ver ele sem vida, dentro de um caixão e depois sendo enterrado. O meu tio, um cara que eu tinha como pai, padrinho e refúgio, também morreu naquela madrugada. Há três dias atrás.. o meu mundo simplesmente caiu, eu não tenho chão.

Nem mesmo a oportunidade de me despedir do meu tio eu estou tendo. A operação na Penha mesmo depois de três dias, ainda tá acontecendo. Eu não tenho notícias do meu pai, dos meus amigos, nem mesmo do Pedaço eu tenho notícias. Só sei que eles estão lá em algum lugar, vivos ou mortos, mas ainda estão todos lá e eu nunca vou perdoar o Pedaço por isso, pelo o que já aconteceu e pelo o que pode acontecer. Desde o começo ele teve a opção de recuar, abandonar a Penha e depois pensar em voltar lá.. mas ele simplesmente escolheu ficar lá, manter os soldados lá, manter o pai dele que agora está morto, e manter o meu pai.

O Pedaço, me prometeu muita coisa mas as únicas coisas que eu realmente me importava, era a presença dele no nascimento do Jorge e com a promessa de que ele nunca, nunca mesmo, fosse agir como o Brown. E ele conseguiu quebrar as duas promessas em um dia, assim como a minha confiança nele. Já fazem três dias desde que o Jorge nasceu e ele nem mesmo cogitou recuar, ele não faz questão alguma do próprio filho.

Confesso que eu ainda não sei como reagir, como me sentir sobre tudo isso mas eu tenho o Jorge. E sinceramente poderia ser muito pior, meu filho é a única coisa que realmente me importa daqui para frente, independente da situação sempre seremos nós dois. E isso já está mais que claro.

Giane: Carminha? Eu trouxe pizza, comprei em uma pizzaria perto do hospital. Se quiser tá na cozinha. - Concordei sorrindo. - Ele tá dormindo?

Carmem: Finalmente sim. - Brinquei e ela se aproximou para olhar o Jorge no meu colo, dormindo como um anjinho. - Tem alguma notícia? Qualquer uma..

Giane: Infelizmente não, olha amiga eu tô tão apreensiva com isso tudo. São três dias de operação, quase quatro, e tudo parece só piorar.. Atendi sete pessoas aqui do Alemão que acabaram levando uma bala perdida, enquanto passavam por perto da Penha. - Cruzou os braços respirando fundo e cansada. - Os hospitais regionais que estão tendo trabalho, as vítimas no caso os moradores que acabaram sendo feridos, estão sendo atendidos nesses hospitais. Já são vinte e sete inocentes feridos, nove policiais e quatro traficantes que foram atendidos, esses quatro estão presos já.

Carmem: Quando o Pedaço acordar, vai ser tarde demais.. não sei porque ele ainda não recuou. Quanto mais ele resistir mais ele vai acabar perdendo. - Falei observando o rosto calmo do meu filho, o nariz e a boca são completamente do Pedaço.

Giane: Nós duas conhecemos o Pedaço e o quanto ele é teimoso, só é uma pena ele estar perdendo tanto e estar disposto a perder mais ainda. - Concordei e vi ela mexer na bolsa pendurada no ombro. - Vou tomar um banho e deitar, preciso descansar um pouco.. Qualquer coisa dá um grito, boa noite.

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