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Carmem;

Deixei o Pedaço tomando um banho e fui para a sala, sentei no sofá respirando fundo e pensativa. Tanta coisa, tanto sacrifício, por nada! Eu não consigo entender isso, simplesmente não entra na minha cabeça que meu tio e o Thor se foram por nada.

Ouvi o barulho de duas batidas na porta e ergui minha cabeça atenta, olhando por cima do sofá. Meu pai abriu e passou pela porta em silêncio, acho que tomando cuidado pra não me acordar, mal sabe ele que eu mal durmo e quando durmo tenho pesadelos. Ele jogou o olhar sobre mim e deu um sorriso aliviado. Sorri de volta me levantando rápido e dando a volta no sofá, corri dando alguns pulinhos até ele e agarrei pelo pescoço. Os braços grandes e fortes me abraçaram de volta, ouvi ele dar uma risada baixa e beijar a minha cabeça.

Tião: Graças a Deus, pô.. - Agradeceu em um sussurro e me apertou contra ele. - Onde é que tá o Jorge, pô? Quero ver ele..

Me afastei dos braços dele e medi o corpo de cima a baixo, procurando qualquer machucado, o mínino que fosse.. Balancei minha cabeça um pouco aliviada não encontrando nada.

Carmem: Você tá bem? - Perguntei e ele concordou com o olhar um pouco vago. - Não mente pra mim, pai..

Tião: Tô suave, já falei. Eu quero ver o Jorge, pô, cadê o moleque? - Disse de novo e eu assenti, apontando pro quarto. - Pode pegar ele? Se não, eu fico esperando pô.

Carmem: Ele tá dormindo mas costuma sempre acordar a essa hora. - Avisei e ele caminhou até o sofá concordando com o meu eu disse. - Que horas vocês chegaram? O Pedaço tá aqui mas não me disse muita coisa, ele tá bem abalado..

Tião: Eu espero, Estrelinha, relaxa. - Puxou a almofada e sentou de costas para mim no sofá. - Abalado porra nenhuma, é culpa, remorso.. É bom tu manter ele bem longe mim Carmem, agora não tem mais ninguém que me impessa de meter uma bala no meio da cara dele não.

Engoli em seco, sentindo a seriedade e a raiva nas palavras do meu pai. Não tem nada que eu possa fazer em relação a isso, porque querendo ou não isso tudo tem uma parcela de culpa do Pedaço. E o Bacu, era irmão do meu pai, eles sempre foram unidos independente da situação, sempre foram eles dois.. Agora é só o meu pai. Ele tá destruído por dentro e em um luto que nunca vai acabar.

Carmem: Vou ver o Jorge, pai, já volto. - Avisei voltando pro corredor do quarto.

Entrei no quarto respirando fundo, tentando me manter minimamente calma. Meu pai revoltado, o Pedaço se culpando.. se esses dois se estranharem aqui dentro dessa casa, eu espero o pior possível. Isso me assusta completamente só de imaginar que pode acontecer a qualquer momento.

Acendi a luz clicando no interruptor e virei minha cabeça olhando pro canto da cama. Sorri vendo os olhos castanhos mel do Jorge me encararem, as mãos pequenininhas se mexendo e ele bocejando. Dei a volta pela cama e me sentei na beirada, estiquei meus braços por cima dele e apoiei na cama, dando um beijo na bochecha rosada. Por algum motivo o meu filho nessas três noites, sempre acorda exatamente nesse horário.. mais ou menos meia hora depois da morte do Thor.

Carmem: Tão lindo, amor da mamãe! - Falei passando as mãos por baixo do corpo pequeno e levantando ele devagar. Levei ele contra meu corpo e ajeitei ele nos meus braços, deitado.

Me levantei e quando me virei levei outro susto. O Pedaço parado e encostado na lateral da porta, vestido com uma calça de moletom cinza e sem camisa, o cabelo ainda molhado. Repreendi ele com o olhar e ele sorriu de lado com o pequeno pulo que eu dei. Mas o que ele realmente tá olhando é o Jorge.

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