Capítulo 3

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O voo demorou um pouco, desconheço o motivo, a espera passou despercebida enquanto eu lia um livro com fones de ouvido.

Acomodo-me na poltrona confortável, fecho os olhos tentando relaxar. Gritos ecoam no interior do avião, a ignorância me domina de tal modo  que não me preocupo em espreitar para saber quem é o portador de tanto desespero, vozes femininas também ecoam suplicando a calma alheia, passos se aproxiamam trazendo consigo as gritarias, o moreno aparece no meu campo de visão sentando-se ao meu lado.

- Repito, eu tenho um noivado para comparecer e uma marenta para noivar, fui claro?- o moreno pergunta impaciente as aeromoças que parecem aflitas.

-O senhor pode por favor acompanhar-nos? Com todo respeito esse não é o seu lugar- diz uma das aeromoças ao moreno que revira os olhos.

- Eu escolhi esse lugar, agora vocês podem continuar com o trabalho por favor-pede educadamente despachando as duas que retiram-se pisando fundo em seus saltos nada exagerados.

-Santiago- o moreno estende a mão para mim.

-Gabriela- aperto sua mão soltando-a rapidamente.

Eu não mordo-sorri.-eu também não me altero por qualquer coisa, se me permite desabafar-faz uma pausa para bagunçar seus cabelos e jogar a cabeça para trás.

-Meu noivado é amanhã, eu preciso chegar a tempo para que nada corra mal, sendo assim eu não queria que o avião  escalasse outros lugares, porém o meu pedido me foi negado-suspira.

Eu não sei oque dizer, agradeço aos céus mentalmente por ele estar de olhos fechados.

-Sinto muito- limito-me a consolá-lo com essas palavras, recebendo assim um aceno como resposta de um indivíduo bipolar que a poucos estava gritando e agora está de olhos fechados.

O voo decorre calmamente, Santiago conta suas anedotas arrancando gargalhadas escandalosas de mim, toda vez que o peço para parar de contar  alegando que estamos recebendo olhares críticos, ele não o faz.

-Vegano?- questiono perplexa assim que servem a comida.

-Sim, quer experimentar?-pergunta oferecendo seus legumes, recebo de bom agrado porque eu sou apaixonada por legumes mas não recuso batatas fritas, que é a minha refeição e infelizmente graças a Deus não precisarei compartilhar.

-Então, quais são as chances de você não noivar amanhã?-pergunto saboreando a minha refeição.

-Nulas, eu noivarei amanhã, nem que para isso eu passe a última hora do dia noivando- responde largando os talheres-Eu quero que você compareça-seu pedido me surpreende, penso em recusar, porém sou impedida pela cara de gatinho abandonado.

-Me passe seu e-mail, assim que puder, mandarei um convite electrónico.

Depois de passar o meu e-mail e terminarmos a refeição, decidimos dormir. Santiago não parava de tremer e roer as unhas, eu particularmente não estaria tão desesperada para dar esse passo em minha vida.

-California-Santiago respira descendo as escadas do avião, a aeromoça chama por ele fazendo-o parar.

-Senhor, eu espero que tenha disfrutado da viagem e mais uma vez eu peço desculpas em nome de toda a companhia aérea pela recusa do seu pedido-contenho a vontade de revirar os olhos, Santiago revira por mim.

-Agradeça a ela- diz referindo-se a mim, arregalo os olhos.-se não fosse a companhia dela eu odiaria esse vôo.

-Obrigada-a aeromoça diz forçando um sorriso, mais falso que sua vontade de se desculpar.

-Você parece ser muito importante-indago

-O avião pertence ao meu pai-responde.

-Por favor, apareça-ele pede quando me despeço dele rumo ao meu destino.

Abro a porta do apartamento, Hanna gastou quase toda sua herança planejando o meu futuro, adentro nele deixando as malas, saindo de seguida.

Vagando pelas ruas aprecio o movimento dos carros, casais andando de mãos dadas, crianças correndo ao encontro de seus pais, o cenário no parquê não é diferente, com exceção dos carros que não dembulam no local.

Minha atenção é tomada pela figura masculina que se encontra sentando em um banco enferrujado com suas roupas caríssimas, seu olhar parece perdido, cansada de observar decido aproximar.

Sua cara autônoma não condiz com suas atitudes, ele é definitivamente um idiota.

-Mal educado-xingo-o quando ele retira-se para atender o celular.

Verifico o celular assustando-me com as hora, perdi horas apreciando o movimento e quase brigando com um desconhecido, e por um momento eu esqueci da festa de Santiago.

Avisto um táxi no exterior do parque, chamo o mesmo que vêm ao meu encontro, olho para o lado encarando sem querer o idiota do parquê, parece aflicto, duvido muito que ele tenha notado a minha presença, seus olhos estão fixos no táxi prestes a ser ocupado.

-Você tem sorte, vê aquele moço-indico, e o motorista assente- pois, me parece  que ele precisa dos seus serviços, você pode cobrar muito caro e com certeza ele não vai perceber-completo adentrando no táxi.

O motorista dirige em direção ao arrogante que desconheço o nome, a porta do meu  lado direito é aberta fazendo com que o moço arregale os olhos vendo-me no táxi, ofereço-llhe um sorriso cínico.

-Vai entrar, ou prefere ficar com cara de quem está com dores de barriga?- questiono irônica.

Sou ignorada por ele que adentra no carro, fechando a porta sem pronunciar nenhuma palavra.

-Essa não é a direção da minha casa- o desconhecido diz ao motorista

-É a direção do meu apartamento.- respondo

-Eu pago o dobro do valor se me levar até a minha casa primeiro- diz fazendo com que os olhos do motorista brilhem

-Eu pagarei o triplo- digo recebendo olhares surpresos

O motorista arregala os olhos, a dúvida que emana em sua face  deixa-me em desvantagem instantaneamente.

-Primeiro as damas- a decisão do motorista surpreende-me

-Eu estou com pressa- o desconhecido berra

-Porquê não chamou o carro do aplicativo?-pergunto

-Meu celular ficou sem bateria.

-Eu deixo ele levar você para casa primeiro, se você implorar.

-Você deve estar de brincadeira-balanço a cabeça em negação.

Silêncio.

-Por favor- diz depois de inspirar 4vezes seguidas.

Trechos do passadoWhere stories live. Discover now