Trechos do passado

Capítulo 8

-Pare o carro- peço a Alice que para o carro imediatamente

-Algum problema Gaby?

Balanço a cabeça negando, abro a porta do carro saindo do mesmo, fito a loja de brinquedos que eu e Hannah frequentávamos com papai.

“-Gabriella, não somos mais crianças, pegue um urso- Hannah diz fitando um urso grande com diversas cores.

-Hannah, não esqueça que você veio acompanhar a sua irmã, você esta de castigo.

-Mas pai, só um ursinho- Hannah implora

-Não- diz abrindo uma garrafa

-Pai você trouxe essa vitamina nojenta? - faço careta

-Filha vocês estavam reclamando tanto e eu não tive tempo de tomar a vitamina em casa, sua mãe deu a ideia de levar, e essa vitamina de beterraba não é nojenta Gabriella- Papai fala tomando sua vitamina

-Hannah vem, ajude-me a escolher um urso- puxo a Hannah pelo braço dando costas ao nosso pai.

-Leve esse, ele e lindo- sugere.

-Mas você gostou desse, eu não posso- falo

-Foi o ultimo urso que o dono da loja produziu antes de sua morte, não tem mais, e não terá, vocês deveriam levar- diz um funcionário da loja

-Eu levarei, e quando seu castigo terminar você pode ficar com o urso-digo olhando para Hannah

-Muito obrigada maninha.

-Pai, eu quero esse- viro-me para mostrar o urso.

Seu corpo imóvel não consegue se equilibrar, lagrimas escorem dos seus olhos quando ele sussurra um adeus, tenta esticar o braço para pegar as nossas mãos uma ultima vez antes de sua partida, corremos desesperadas em sua direção, queria eu ter a super velocidade para chegar antes dele ter caído, a garrafa desliza do seu braço partindo-se e a vitamina despeja-se.

-Papai- Hannah grita ajoelhando-se para tocar no corpo caído

-Papai fale connosco- grito enterrando a cabeça em seu peito, levanto assustada cambaleando para trás, pessoas fazem um circulo assistindo a cena.

-O coração parou de bater, Hannah o coração não esta batendo- repito enquanto o urso desliza da minha mão encontrando o chão.

-Naooo- grita sacudindo o corpo sem vida do nosso pai.

Com os olhos inundados e a visão embaçada avisto um menino chorando, todos estão apavorados, alguns estão levando as crianças para fora, mas ele esta chorando, fito o corpo morto de papai e grito, grito para que Deus escute minhas lamurias e devolva a vida ao meu pai.

Braços envolvem meu corpo tirando-me do chão, Hannah esta sendo carregada debatendo-se para que a soltem, aceito que me levem para qualquer lugar, espero pacientemente para acordar desse pesadelo.

-Ele esta morto- Hannah senta-se ao meu lado segurando a minha mão.

Não e um pesadelo, eu perdi-o, perdi o amor paterno desconhecendo o materno.”

-Gabriella- Alice chama por mim

-Aqui, foi aqui, meu pai morreu aqui, e eu não pude fazer nada, eu o vi morrendo.

-Sinto muito-Alice diz abraçando-me

-Obrigada, você pode ir, eu estou perto do meu apartamento.

-Não.

-Eu preciso ficar sozinha por favor- peço.

-Esta bem, ligue para mim se precisar de alguma coisa- entrega-me seu cartão telefónico.

Aceno e Alice adentra no carro fazendo o seu caminho, caminho imersa em meus pensamentos, se tudo tem um propósito, qual é o propósito do meu sofrimento?

Arregalo os olhos fitando a figura masculina que esta bloqueando o meu caminho.

-Gabriella- Alan diz cruzando os braços

- Tudo bem se você quiser se vingar de mim, mas você não faria isso em um cemitério certo?

-E você acha que a vingança não inclui tirar a sua vida, e enterrar você no mesmo instante? - da um meio sorriso

-Se você pretende matar-me faça isso agora, caso contrario deixe-me visitar os túmulos dos meus parentes.

Alan retira-se sem pronunciar nenhuma palavra, espero pacientemente para perde-lo de vista, assim que ele curva, aguardo 5min para ver se ele volta, caminho em direção ao tumulo do meu pai permitindo-me desabar e desabafar, deixo que as lagrimas escorram livremente.

-Pai a 4 anos eu não visito o senhor, você era tao doce e sensato, não tenho duvidas de que o seu destino tenha sido o paraíso, dai você me viu crescer, você viu a família que eu ganhei, tantas coisas aconteceram nos últimos 5anos, eu levaria uma eternidade para contar detalhadamente- pego na arreia despejando-a lentamente- hoje eu não trouxe flores, a dor e o cansaço me conduziram ate aqui.

Estranho, que os túmulos de Hannah e papai estejam limpos, flores recentes, levanto-me sacudindo as minhas roupas indo em direção ao tumulo de Hannah, tem um ramo de Petúnias, as flores são recentes,

-Hannah, sinto tanto a sua falta, antes eu achava loucura vendo os personagens das novelas sentados nos túmulos, falando sozinhos, engraçado que agora eu não consigo julgar a mim mesma por isso, por estar aqui falando com você acreditando que esta me escutando, você realmente teve bons amigos, eu jurava que encontraria seu tumulo imundo, sem cuidados, mas seus amigos, ou um só deles, visita você e sempre deixa as suas flores preferidas, agora que estou de volta virei mais vezes e trarei flores, e me perdoe por não ter trazido flores hoje.