Fingir prestar atenção na tela do celular não ameniza a minha raiva, se eu pudesse partir a chávena com o aperto que estou exercendo nela, me acalmaria muito, poder saber se os cacos de vidro em minha pele seriam mais insuportáveis que o meu sentimento de raiva.
Se continuar sentado nessa mesa rodeado dessas 3 pessoas, principalmente da estupida que me tornou motivo de piada, eu acho que jogarei café quente nela, levanto a cabeça encarando todos que não pronunciam nenhuma palavra, esperando que eu faça qualquer coisa com Gabriela. Eu faria se Santiago não demonstrasse gostar muito dela.
Levanto-me fixando o olhar nela, que me fita apavorada, provavelmente esperando que eu revide, sorrio de canto e saio andando em direção ao estacionamento, não estou em condições de participar da ultima aula.
Destranco o carro, abro a porta jogando a minha mochila, e o meu celular, descarto a direção e caminho ignorando a temperatura que me fará suar.
-Surpresaaaaaa-Grito adentrando no apartamento
-Ah vuxe veio- levanta da mesa e em passos curtos corre para me abraçar
-Não Petúnia, estou suado.
-Não tem pubema, eu só queio um abaço antes de ir para escolinha- fala esticando os braços, perseguindo-me
-Não não e não-fujo
-Mxiuuuu, Lucy expulsa esse sinhor do meu apatamento- cruza os braços
- Com muito prazer mocinha, senhor faça-me o favor de sair por essa porta, a princesinha qui é fanática por pontualidade- Lucy diz aparecendo na sala
-Vocês duas se comportem, não tem o direito de me expulsar- faço cara de ofendido
-Se me der um abaço eu te deixo ficar- Petúnia diz fazendo bico
-Sua chata, vou fazer um banho rápido então.
-O namorado da Lucy tá usando o banheiro.
-Lucy- olho para Lucy que dá de ombros com um sorriso zombador
-Petúnia, posso usar o banheiro do seu quarto- peço já sabendo a resposta
-Paiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, ninguém, ninguém, ninguém usa o meu banheiro-grita
-Fanática por limpeza, antivírus, anti vermes e tudo mais relacionado a higiene em excesso- Lucy diz servindo leite
-Por favor princesa-Imploro
-Não estou ovindo não etou ouvindo- fecha os ouvidos com as suas mãozinhas
-Você não quer um abraço? eu não quero sujar você princesa.
-Não, não, não, não
Depois de tanta insistência, Petúnia finalmente aceita que eu faça uso do banheiro mais infantil do mundo, com mosaicos e azulejos cor de rosa, e vários postes de Barbie, devo admitir que é o banheiro mais limpo e organizado desse apartamento. Tenho umas roupas no quarto de visitas, Petúnia ficou com a suite que tem um banheiro e closet, um quarto que deveria pertencer a mim ou a Lucy, porém ela fez uma chantagem emocional, eu não consegui resistir e Lucy não se importou.
-Agora você pode me abraçar- estendo os braços para receber a garotinha travessa.
O namorado de Lucy aparece um pouco envergonhado, apesar de já o ter visto varias vezes aqui, nunca me importei em familiarizar tanto com ele, e sempre que me vê ele parece tímido.
-Alan nós precisamos levar Petúnia, senão ela vai armar um barraco por uma simples demora de 2min- Fernando diz, estendendo os braços para Petúnia que corre para um abraço, invejo a relação deles, Petúnia fala bem de Fernando e do tempo que eles passam juntos, dos comentários das pessoas dizendo que eles são tão fofos juntos e que ele é um ótimo pai.
-Ei pai acoda, etou me despedindo de vuxe- Petúnia balança os meus ombros com ajuda de Fernando que a está carregando
-Ah desculpa Princesa- Deposito um beijo casto em sua pele macia e Fernando leva ela para o exterior do apartamento.
Caminho em direção a janela apreciando e invejando a conexão surreal que ambos têm, Petúnia aperta as bochechas de Fernando que retribui com um olhar paternal.
-Alan precisamos conversar- Lucy fala tirando-me dos meus devaneios
-Fala Lucy- respondo mal-humorado
-Nem vem Alan, ela é sua filha, você deveria enfrentar seus medos e confessar a sua família que você tem uma filha, desse jeito você poderá passar mais tempo com a sua filha, mas não, você prefere ficar aí invejando a boa relação que Fernando tem com a sua filha que sente tanta falta do pai.
-Chega Lucy, eu sei que você não ficou aqui para falar da minha inveja.
-Não mesmo-faz uma pausa hesitando.
-Desembucha logo- falo impaciente.
-Eu vi a irmã de Hannah, levei Petúnia a sorvetaria porque ela estava triste por sua causa, devo lembrá-lo que ontem você disse que viria e não veio? - reviro os olhos
-Prossiga.
-Ela conversou com Petúnia quando eu me ausentei para escolher os sabores.
-Porque você esta me contando?- Hannah me fez prometer que nunca procuraria sua irmã.
-Alan...
Fernando buzina e eu agradeço.
-Vá, ela não quer se atrasar- seu olhar denuncia sua vontade de querer brigar, sei que se eu me permitir conversar sobre a irmã de Hannah com Lucy, quebrarei a promessa que fiz a ela de nunca procurar sua irmã.
“-Nossa filha- digo aproximando-me da maca que Hannah esta ocupando
-Petúnia.
-Segure-a- estico os braços para que ela pegue na nossa filha.
Sinto a hesitação em seu olhar, incentivo-a com um olhar para que ela sinta o calor de sua filha, o prazer de se tornar mãe, lagrimas inundam seu rosto assim que Petúnia se encolhe em seus braços.
-Minha filha, você foi fruto de um erro, mas não me arrependo de tê-la trazido ao mundo.
Suas palavras magoam, soam como flechas miradas em meu peito, na medida que seus lábios se movem sinto meu peito arder, amar e não ser amado é devastador, quanto mais ela nega o meu amor, mais a amo.”
ESTÁ A LER
Trechos do passado
Teen FictionGabriela tinha tudo e nada, o espezinho de quem a deveria amar levou-a a cercania da aversão. Alan desconhece o prazer de se sentir amado. Frio, arrogante, crédulo, cético a dor da perda levou-o a criar suas versões mais obscuras.