Talvez se eu...

10. Não estivesse aqui

Talvez se eu...
Não estivesse aqui

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Alissa Harding

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Ouvi gritos alterados vindo de dentro do quarto dos meus pais e algo se quebrando no chão. Me assustei. Levantei da minha cama, de fininho, e caminhei até a porta deles, os dois pareciam muito irritados. Me aproximei da porta que estava fechada para ouvir melhor.

-... Eu não aguento mais, John! Que droga! A única coisa que importa pra você é esse emprego, essa droga de emprego!

- É esse emprego que coloca comida na mesa dessa casa! - meu pai também estava alterado.

- Você não vai me dizer quem é a mulher? - A voz da minha mãe estava chorosa, não tão alterada quanto antes, parecia mais magoada do que com raiva.

- Eu já te falei um milhão de vezes, Hannah! Aquela mulher é a Rose, minha chefe me disse pra fechar negócio com ela e ela exigiu que queria a reunião em um restaurante! O que eu podia fazer, perder o meu emprego porque a minha esposa não confia em mim!?

Aquela mulher. Para uma garota de 10 anos aquilo não dizia muita coisa, eu não fazia ideia do que eles queriam dizer, mas eu sabia que precisava fazer alguma coisa, então, abri a porta devagar. Imediatamente eles notaram minha presença. Mamãe rapidamente secou as lágrimas com as costas das mãos e colocou um sorriso no rosto, papai já não conseguia disfarçar tão bem quanto ela, mas ele tentava.

- Oi querida, o que houve, porque está acordada tão tarde? - ela disse com sua voz macia, se aproximou e se abaixou em minha frente, tentando ficar da minha altura.

- Eu tive um pesadelo - respondi, e então, lembrei de algo que minha avó - que já tinha passado por 6 casamentos - havia dito.

- Ah meu amor, está tudo bem agora - mamãe me abraçou.

- Mãe, pai... - meu pai olhou-me, e então se aproximou - Vocês vão se separar?

- O que? - meu pai indagou, surpresos com a minha pergunta - Quem disse isso pra você, querida?

- A vovó Anna disse que quando os casais começam a gritar um com o outro é porque eles vão se separar. - eles se olharam, sem saber o que dizer para mim - E eu não quero ficar sem vocês...

Duas semanas depois meus pais se casaram novamente, eles fizeram uma linda festa para comemorar o amor, ou talvez, para celebrar a decisão de continuar tentando juntos deles, mas afinal, o que seria o amor senão a escolha de permanecer ali todos os dias, mesmo que fosse difícil?

Depois do casamento, os dois saíram em lua de mel enquanto eu fiquei em casa com a Vovó Anna, que me explicou que talvez ela estivesse errada, e que as vezes os casais gritavam para tentar fazer o outro o ouvir, mas se esqueciam que o segredo de ser ouvido era fechar a boca e abrir as "orelhas" enquanto o outro falava.

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Eu não podia me perdoar, mesmo sabendo que eu não tinha culpa nenhuma do que estava acontecendo. Estava sendo o pior aniversário da minha vida, e eu só conseguia sentir um vazio imenso, não tinha lágrimas para chorar, não tinha palavras para descrever, era como ser jogada em um imenso nada, sozinha.