Capítulo três

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Detesto o cheiro de flores

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Detesto o cheiro de flores.

Detesto o barulho abafado das lágrimas da minha mãe e detesto mais-que-tudo o corpo inerte, sem vida, no meio do salão.

Ainda assim estou aqui, sentada a quase 3 metros de distância, tentando me apegar às boas memórias que esse homem me proporcionou.

São tão poucas e tão superficiais que nenhuma me desperta a vontade de chorar como se espera que um filho chore com a perda de um pai. Então me sinto mal só por me sentir assim.

Tiro o celular da bolsa mais uma vez e pondero meio segundo sobre baixar o aplicativo do Facebook ou abri-lo pelo navegador. A segunda opção parece mais plausível, pesquiso por Benhur em meus contatos, torcendo para ele não ter deletado o perfil.

Sua última postagem foi uma homenagem à mãe. Leio o texto imenso e algo se revira dentro do meu estômago.

Benhur sempre foi indecifrável, uma contradição ambulante. Por fora um doce, lindo, carinhoso e dedicado. Mas por dentro, se cutucado nos lugares certos, ou melhor dizendo, nos lugares errados, ele podia se transformar em algo maligno e impiedoso.

Eu mesma já vi essa faceta algumas vezes e era assustador. Benhur era o garoto problema, já bateu em muita gente, inclusive em ex-namorados meus. Já precisei intervir com a urgência de que se eu não fizesse algo ele os mataria.

Mas nunca tive medo dele e talvez isso diga muito sobre mim, sobre meu dedo podre para homens. Acho que posso agradecer meu pai por me dar a falsa ilusão de que o amor é violento.

No entanto, Benhur nunca foi violento comigo. E provavelmente nunca tive medo dele, porque apesar de tudo, sempre vi a bondade que existe ali. Esse texto é a prova disso, da capacidade que ele tem de amar com carinho, amor de verdade. Tia Marta foi a boia que manteve Benhur vivo em um mar revolto.

Ele entende o que é a dor e o abuso. Ele sempre teve a mãe para defendê-lo e eu sempre tive ele.

Bom... nem sempre.

Meu dedo percorre, inconscientemente, a fina cicatriz em meu rosto. É quando as lágrimas finalmente vêm.

— Não chora por esse desgraçado — Benhur me pede baixinho, me assustando ao se sentar do meu lado.

Minha hesitação dura uma fração de segundos, no instante seguinte arremesso meu corpo contra o dele, que me ampara sem dificuldade.

Quando me acalmo ergo o celular para que ele veja o verdadeiro motivo do meu choro.

— Tava me stalkeando? — pergunta divertido. Tira o celular da minha mão sem me deixar sair do seu aperto, abre o Instagram e procura por um usuário. Dá follow com a minha conta e me devolve o aparelho. — Stalkeia direito, guria. Ninguém mais usa Facebook nessa merda.

Rio em seu abraço e não me importo em rolar seu feed enquanto ele me observa.

— Nenhuma namorada? — pergunto notando a ausência de mulheres nas fotos. — Nem uma nova melhor amiga?

Finalmente me desvencilho de seu braço pesado em meu ombro para encará-lo. Ele ameaça me responder, mas é interrompido pela voz embargada de minha mãe.

— Oi, Benhur. Não esperava te ver aqui, mas fico feliz que tenha vindo.

Ele a encara, antipático. Meus pais conseguiam trazer o pior lado de Benhur a tona, e pelo visto isso também não tinha mudado.

Noto o movimento de seu maxilar, rangendo os dentes. Ainda reconheço seus sinais de fúria e me sinto estranha ao notar que ele fica tão bonito quando ferve assim.

Sei que não vai dizer o que pensa, ao invés disso dá uma resposta educada e convincente.

— Sinto muito pela sua perda, Ângela.

Sinto falta de ouvir o "dona" que acompanhava o nome de minha mãe. E penso que agora que tia Marta não está mais aqui para cobrar que ele respeite os mais velhos, independente de quem seja, Benhur não sente mais a necessidade de ser educado com quem despreza.

Eu poderia ter aprendido mais com Benhur, ter sido mais como ele e menos como eu mesma. Eu queria ter olhado para ele lá atrás da maneira que estou olhando agora e entendido que nem sempre estive cercada por homens ruins. Se ao menos eu tivesse usado ele como referência na hora de me envolver, quem sabe eu não tivesse tido um pouco mais de sorte?

— Já vamos fechar o caixão, não quer se despedir, Nina?

Meu corpo tensiona e meus olhos fogem para Benhur. Ele torna a passar o braço ao meu redor me puxando para seu peito, é o beijo que me dá na testa que me desliga de tudo ao redor. Fecho os olhos e por um instante não sei onde estou, nem quem sou. E tudo o que ouço são as batidas frenéticas de meu coração pulsando em meus ouvidos enquanto a respiração de Benhur bagunça meus cabelos.

 E tudo o que ouço são as batidas frenéticas de meu coração pulsando em meus ouvidos enquanto a respiração de Benhur bagunça meus cabelos

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Que bom que tu chegou ao final de mais um capítulo.

Eu percebi tarde demais que quinta-feira passada não atualizei a história, sinto muito por isso, como hoje eu tô boazinha (e sensível) vou postar dois capítulos, por favor, me deem amor.

obs. Já odiamos a mãe da Nina?

Já? 

Que ótimo. 

Agora foram quatroOù les histoires vivent. Découvrez maintenant