Capítulo nove

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Me levanto endireitando a saia no lugar e Benhur levanta logo depois, se mantendo perto o bastante para nossos corpos roçarem um no outro

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Me levanto endireitando a saia no lugar e Benhur levanta logo depois, se mantendo perto o bastante para nossos corpos roçarem um no outro.

Ergo o rosto para ele e gosto mais dele assim, quando ele inclina o rosto para baixo para me olhar de volta e o cabelo projeta uma sombra dura sobre seus olhos, dilatando as pupilas como um predador que saliva pela presa ao seu dispor.

— Tem certeza que quer cruzar essa linha? Eu não vou parar depois que começar.

— Eu passei tempo demais com gente que me deu muito pouco. Eu quero tudo o que tu tem pra me dar. — confesso quase em desespero.

Minha boceta ainda pulsa ciente do vazio que os dedos de Benhur deixaram dentro de mim. Sensível pelo orgasmo que ele proporcionou. Latejando de desejo de ter mais dele, ter tudo.

Benhur me agarra pela cintura e me beija a boca com brutalidade, me desestabilizando momentaneamente.

Sinto meu gosto em sua língua e a sugo com erotismo, ponderando se vale a pena me ajoelhar para sugar outra coisa.

Mas é o barulho distante de carro que nos desperta para o ambiente. Com os dedos entrelaçados, caminhamos lado a lado, como se nada de mais tivesse acabado de acontecer.

Para minha incredulidade e desespero, o carro que se aproxima lentamente e passa por nós é uma viatura da polícia. No instante em que ela vira a esquina e some de nossa vista, nós dois caímos na gargalhada.

Não falamos nada pelo caminho, seguimos suspensos no espaço-tempo, como se isso fosse só uma pausa longa. Mas o polegar de Benhur que acaricia minha mão em movimentos circulares diz muito.

Também ouço o não dito na maneira como ele sempre me joga para dentro da calçada ficando para o lado do meio fio a cada rua que atravessamos.

E em como seus olhos me buscam frequentemente, admirados, curiosos, preocupados.

Quando entramos na familiar rua sem saída decido perguntar:

— Falta muito pra chegar?

Dessa vez seu olhar se mantém fixo no horizonte, seus lábios se estreitam em um sorriso contido e seus dedos se apertam entrelaçados nos meus.

Desviávamos com frequência por essa rua que desemboca em uma praia minúscula. Havia essa casa no caminho com a qual eu sonhava em morar. Não tinha nada demais, além de um jardim amplo na frente, uma árvore antiga, uma varanda aconchegante e janelas com persianas brancas.

Antes de eu ir embora, um escritório de advocacia funcionava ali, as paredes tinham sido pintadas de verde-claro, bonito, mas não do meu gosto. Espero ansiosa e curiosa para saber no que ela se transformou.

Fecho os olhos um pouco antes de vê-la, tentando adivinhar sua cor, mas só o que penso é na cor que eu queria que ela tivesse se fosse minha.

Antes que eu possa abrir os olhos, Benhur já parou de andar e meu corpo sofre um solavanco.

— O que foi? — pergunto atordoada e deixo meus olhos vagarem para a casa imediatamente ao meu lado.

Uma luz amarelada brilha na varanda. Aperto a mão presa a minha, animada.

— Vivi pra ver essa casa pintada de azul-marinho, olha que linda que ela fica. — Me contenho para não falar alto, lembrando que é tarde demais para perturbar a vizinhança.

O muro continua na altura da cintura, mas agora ostenta uma grade branca que ultrapassa até a altura de Benhur. Deduzo que nem minha pequena São Chico passou isenta ao crescimento da criminalidade. Mas gosto muito de como a casa se parece agora.

Benhur ainda não voltou a caminhar e olha para mim com a boca inquieta, lambendo os lábios repetidamente.

— Me trouxe aqui só pra ver isso? — pergunto passando meus braços por sua cintura e beijando seu queixo.

— Te trouxe aqui pra terminar o que a gente começou — ele diz baixo, grave e rouco.

Meu coração falha novas batidas e meus olhos ameaçam lacrimejar.

— Tu... mora aqui?

Me sinto estranha. Um misto de orgulho e inveja, como se ele tivesse roubado um sonho que era meu. O que é besteira, visto que fui embora e jamais o realizaria.

Mas então meus braços caem na lateral do meu corpo e me afasto de Benhur para encarar a casa outra vez. Minhas paredes azuis, meus detalhes em branco. Meu balanço na árvore do jardim.

— Eu acho que o que minha mãe dizia acabou entrando na minha cabeça, bem mais fundo do que eu esperava — ele começa a se justificar. — Só que depois que tu foi embora eu percebi que se eu não ia casar contigo eu não ia casar com mais ninguém. Mesmo assim, foi bom fingir que um dia tu ia chegar aqui e encontrar tudo do jeitinho que tu sempre quis.

Engulo em seco, meu coração bate tão perto da garganta que parece que vou engasgar com ele a qualquer momento. Meus olhos ardem, ameaçando chorar.

— Ela tava abandonada, Nina. Deu tanta dó, tu teria odiado ver. A vantagem é que estavam praticamente dando ela de graça. Demorei tanto pra deixar ela como tá agora, mas foi bom, sabe? Me manteve ocupado.

— Benhur... — nem sei o que dizer. Não é como se eu realmente tivesse o que acrescentar. É a história dele, a casa dele, a lembrança que ele guardou de mim. Depois de todos esses anos.

— Nina... — ele passa a mão pelo próprio rosto e respira fundo antes de segurar minhas bochechas entre suas palmas grandes e quentes. — Tu precisa saber que se decidir passar por aquela porta, eu vou me apaixonar por ti pela quarta vez.

A agonia no rosto de Benhur me machuca. Reconheço o medo da rejeição, do amor que nunca vai ser correspondido à altura, da impotência e da esperança.

Estive tantas vezes em seu lugar que acho desconfortável estar do outro lado da moeda agora. Mas onde muitos se alimentaram e incitaram que eu me mantivesse nesse estado, eu quero dar a Benhur o mesmo que pedi a ele.

Tudo.

Nosso reencontro dura só um dia, mas nossa história se arrasta por mais de duas décadas. Foi-me dada a oportunidade de dar uma chance a Benhur e eu quero tanto aproveitá-la.

— Acha que vai mesmo se apaixonar por mim de novo? — pergunto, com a voz trêmula. — Porque eu posso jurar que estou prestes a me apaixonar por ti pela primeira vez.

Benhur fecha os olhos e sorri aliviado. Beija minha testa naquele jeito carinhoso que costumava fazer, tira a chave do bolso e abre o caminho para sua casa.

Agora foram quatroWhere stories live. Discover now