Capítulo quatro

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Depois que sua mãe se afasta de nós e volta para o caixão, Nina ergue o rosto e me encara com uma expressão que faz meu peito falhar

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Depois que sua mãe se afasta de nós e volta para o caixão, Nina ergue o rosto e me encara com uma expressão que faz meu peito falhar.

É uma admiração tão sincera, acho que ninguém nunca me olhou assim antes, faz meu coração entrar em colapso, como se tentasse parar ao passo que acelera até quase romper para fora do peito.

Engulo em seco e me levanto nervoso por estar confundindo as coisas. Eu já havia me esquecido como era difícil ser amigo de Nina nesse sentido. O que me surpreende é que depois de tanto tempo ela ainda me afeta com esse jeito tão puro, tão genuíno.

O mundo não merece alguém como ela.

Eu não a mereço.

É do que tenho me convencido desde que ela partiu.

— Podemos ficar aqui mais um pouquinho?

Olho para a movimentação da meia dúzia de gatos-pingados que segue o caixão porta afora. Não estou ansioso para acompanhá-los, mas tenho a impressão que Nina se arrependerá se não for, ela sempre foi certinha demais.

— Tu tá bem? — pergunto preocupado.

— Não quero que acabe ainda — ela diz com a voz trêmula.

Me sento ao seu lado, inquieto.

Respiro fundo porque me enerva que ela dê tanto valor para um filho da puta que bateu nela a vida inteira.

— Nina... — digo entre os dentes, tentando conter a ira.

— Eu quero ficar contigo — ela anuncia rápido, e o que era para ser um esclarecimento só me deixa ainda mais aflito.

Meu coração dispara e meu sangue gela. Olho para ela sem reação. Ela quer o quê?

— Não sabia o quanto eu tava com saudade de ti até agora. — Ela massageia os nós dos dedos com força, nervosa. Abaixa o rosto como se tivesse vergonha de admitir isso.

Obrigo o ar a voltar para meus pulmões em lufadas contidas.

Ela quer passar mais tempo comigo.

Não sei porque achei que poderia ser outra coisa. Talvez por estar tempo demais sem outra companhia além do meu próprio punho.

— Vamos sair hoje — convido sem pensar muito. Largo meu corpo ignorando o desconforto do banco onde estamos e estico os braços sobre o encosto de madeira. Estico também as pernas entreabertas e tenho a impressão que Nina me analisa dos pés a cabeça na velocidade da luz.

Suas bochechas estão coradas, ainda envergonhada por ter verbalizado sua vontade.

Será que ela não sabe que qualquer um seria idiota de recusar qualquer coisa a ela?

— Pra onde? — ela pergunta com um sorriso singelo.

— Tem um barzinho lá no centro que acho que tu vai gostar.

Agora foram quatroWhere stories live. Discover now