Contos sob as Águas

Parte 2

Naturalmente, assim que voltei ao castelo, enquanto pensava na minha filha, em Naruto e em todas as obrigações que tenho, precisei me trocar. Dei o azar de colocar vestes que não são adequadas para o ambiente marinho, portanto, não secam rápido. Quero tanto impressionar este ômega como Itachi fez que acabei cometendo essas pequenas tolices - para a minha concepção.

Às vezes, esqueço que sou o rebelde da família, que faço minhas regras dentro do possível.

Fui ao meu quarto me trocar e adormeci, exausto demais para ir até o quarto de Naruto e de Ayla para vê-los.

Adiei até a primeira hora do amanhecer, quando despertei menos transtornado do que ontem, mas sentindo leves beliscões na minha nuca e um comichão na língua - beber água amenizou.

Fui a uma sala mais reservada, onde Juugo e mais dois assistentes dele puseram o que preciso para fazer algo sobre o estresse. Shisui está lá sem o bebê - o que significa que as crianças estão dormindo a essa hora da manhã- e também veste roupas menos formais, fora do dia a dia de constante cuidado com a aparência. Continua magro demais para a própria saúde, mas nada digo.

Ele é meio mãe-polvo nesse sentido e eu espero que os tiapistas possam ajudá-lo - não me agrada ver o meu cunhado favorito se destruindo dessa maneira, minguando.

Juugo saí junto dos seus assistentes depois de me falar da reunião que terei dali quarenta minutos, junto ao café da manhã. As portas se fecham. Abro as cortinas, ligo a pequena caixa de som conectada ao meu celular e escolho uma música legal. Acho ainda surpreendente que os terrenos ainda estejam em tão simplório nível de tecnologia. A música é de um filme que assisti pela madrugada, antes de dormir. Shisui disse que devo me acostumar com os desenhos animados porque as crianças gostam muito deles, então eu me adiantei para saber como é.

Até agora, pelos que vi, eu gostei.

-Eu soube que você e Itachi brigaram. - Shisui comentou quando a batida musical ecoou pelo salão e estava me sacudindo. Sou péssimo dançarino, fato. Itachi que é o, como dizem os terrenos, "pé-de-valsa" da família, mas sacudir o corpo sem nenhuma pretensão é um bom exercício para tirar a tensão dos ombros. Shisui já mostra sua graça ao balançar com verdadeira habilidade.

-Somos irmãos, é normal que briguemos.

-Mas você quase o atacou.

-Ele quase me ataca três vezes por semana.

Shisui riu e foi perdendo o compasso preso da própria dança para ficar mais à vontade. Sem me dar conta inicialmente, cantarolei baixinho a canção e um som borbulhante chamou a minha atenção. Olho pelos grandes portais que compõem as janelas e vejo as águas se erguendo com torres espumosas. As pontas balançam quase do mesmo jeito que eu balanço a cabeça.

-Estava demorando para eles virem. - Shisui comentou e girou no próprio eixo, mostrando que suas aulas de balé contemporâneo misturada com danças modernas deram bons frutos. Eu arrisco uns passos parecidos com os dele. - Vai, Sasuke! - aumentou a música e nós dois pulávamos agitando os braços. Parece que ele precisa deste momento de extravasamento tanto quanto eu.

As colunas de água ganham forma conforme eu cantarolava mais alto.

São Cavalos d'Água, verdadeiros garanhões com o dobro das proporções da raça terrestre e com algumas características semelhantes aos seus parentes marinhos minúsculos.

É o meu rebanho pessoal, segundo os estudiosos de criaturas alienígenas. Não diria que são meus porque ninguém domina um th'chuthon, um Cavalo d'Água. Tentei deixá-los no planeta, mas os Cavalos d'Água fazem o que querem, são uma espécie de forte personalidade e sua conexão com o ambiente marinho é proporcional à teimosia que lhes molda. Mesmo a essa distância, estes animais me notam e querem avançar pela praia, mas o fato de não haver água os impede e os irrita. Aceno para eles, antes que comecem a brigar entre si - eles se estressam facilmente. Qualquer semelhança comigo não é mera coincidência. O maior dos th'chuthoni para de morder os menores ao me notar.