UM

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Milena Lorenzetti

Eu odeio ser pobre.

Eu só queria ter dinheiro suficiente para ir no Maracanã em todos os jogos e sentir as sensações que só aquele estádio pode proporcionar a nós torcedores.

Mas nãooo, fui nascer logo aqui onde judas perdeu as botas.

Tá, estou exagerando um pouco.

Sou de Angra dos Reis, que fica no Rio de Janeiro, pra uma pessoa que tá cheia de dinheiro é fácil ir daqui ao Maracanã sem problema algum, mas eu não sou essa pessoa.

Pra piorar a situação a única pessoa que tem carro e pode me levar lá sem custo nenhum é meu pai, mas ele é vascaíno.

De carro da mais de duas horas, ou seja, impossível pegar um táxi ou Uber, e mais impossível ainda ir de ônibus já que só entrar em um eu fico enjoada.

Eu tenho a sensação que nasci pra ser uma burguesa safada, mas não sou.

Eu trabalho, porém meu salário é pra pagar a metade do valor da faculdade que estou fazendo, já que meus pais pagam a outra metade, esse foi o nosso combinado, e o que sobra eu gasto com coisas pessoais para mim.

Entro no meu quarto e dou de cara com a bagunça que eu deixei pra trás hoje de manhã porque estava atrasada.

Jogo a minha bolsa em cima da cadeira da escrivaninha e começo a tirar toda a minha roupa.

Mas como a bela desastrada que sou, acabo tropeçando na calça que estava tirando e por pouco não caio de cara no chão.

- Calma, falta alguns minutos pro jogo começar- digo para mim mesma e termino de tirar a calça, dessa vez sem quase quebrar as caras.

- Boa noite meus amores- coloco a mão sobre o poster do elenco atual do flamengo e desejo boa sorte mentalmente.

Eu não sou maluca, sou só completamente louca e alucinada por futebol.

Sou tão fanática do flamengo ao ponto de encher meu quarto com fotos, quadros, bandeiras e frases do flamengo, desenhei até um escudo na minha parede.

Meu pai nem entra aqui, diz ele que tá entrando em território inimigo.

De onde vem essa minha paixão pelo Flamengo sendo que meu pai é vascaíno? Simples. Meu avô era louco pelo flamengo, ao ponto de ir de bicicleta para o Maracanã, seria normal se ele não tivesse ficado duas horas pedalando, e o pior: o flamengo perdeu naquele dia!

Então desde que eu era pequena ele me ensinou a amar o flamengo, mesmo com meu pai odiando isso.

Abro meu guarda-roupa e só vejo coisas em preto e vermelho, talvez eu tenha mais camisa do flamengo do que roupas normais, mas quem liga?

Pego um shorts de pano mole, uma calcinha e uma blusinha preta sem estampa alguma.

Pego a toalha e abro a porta do meu quarto, dando de cara com meu irmão, de 17 anos, saindo do quarto dele também.

Como ele está com toalha na mão eu não espero mais nada e corro para o banheiro que fica no final do corredor.

Assim que entro já tranco a porta enquanto ele fica do lado de fora gritando pra eu sair.

𝗖𝗹𝗼𝘀𝗲 𝗳𝗿𝗶𝗲𝗻𝗱𝘀•• 𝗚𝗮𝗯𝗶𝗴𝗼𝗹Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora