VINTE E TRÊS

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Gabi

Eu sinto as lágrimas nos meus olhos, mas não deixo elas escorrerem.

Não é que eu não goste de chorar... Eu só não gosto de chorar.

De todas as finais que eu já participei, acho que essa foi uma das que mais mexeu comigo.

Óbvio que a da libertadores está no ponto mais alto das minhas preferidas.

Mas o que eu fiz após bater o pênalti foi algo que mexeu pra caralho comigo, poder inflar a torcida daquele jeito foi foda demais!

Acho que nunca vou me esquecer disso e nem as outras milhares de pessoas que estão aqui no Maracanã.

- VAMO CARALHOOOO- abraço o Arrascaeta que me levanta um pouco do chão.

Logo os outros jogadores da nossa equipe se reúnem ao nosso redor a gente fica pulando.

Logo depois corremos pra saudar a torcida.

Eu rodo a minha camisa no ar e pulo enquanto canto a música, junto com todos os outros que aqui estão.

Toda essa atmosfera me deixa arrepiado pra caralho.

Eu nem faço questão de negar o quanto amo jogar nesse time, é especial cada jogo.

Gosto até deles me xingando quando eu erro algum lance ou gol.

Sei que me amam.

- A gente conseguiu!- o Matheuzinho diz enquanto me abraça- hoje tem festa na casa do Lil Gabi.

Eu tô dizendo que ele só pensa em festa.

Mas realmente vai ter.

- Com várias o que?- pergunto pra que ele complete.

- Gatinhas- quase grita e eu dou um pescotapa nele.

- Bebidas, seu safado.

- Mas vai ter mulher também.

Não digo nada e me afasto dele.

Voltamos pra perto do lugar que estão montando pra gente levantar a taça e fico na resenha com os caras.

De repente o gramado é invadido por muita gente.

Tipo muita gente mesmo!

E do nada eu perco geral de vista e aparece uma pessoa com uma máscara toda verde.

Meu Deus.

Depois eu vejo que é o Mc Daniel, maluco demais o cara.

Logo ele tá na resenha com geral e eu cumprimento quem vem falar comigo.

Olho em volta procurando pela minha família e vejo o Fabinho vindo na minha direção.

- Parabéns, irmão, foi foda pra caralho!- ele diz assim que me abraça.

- Valeu Fabinho, tamo junto- dou una tapinhas nas costas dele.- cadê meus pais com a Dhio?

Ele coça a cabeça.

Ele só faz isso quando tá nervoso.

- Fala logo, porra.

- Teus pais passaram mal e tiveram que ir pra enfermaria, a Dhiovanna foi acompanhar eles.

- Mas eles tão bem?

- Agora sim, teu pai ficou mal pra caralho, nem viu a cobrança de pênalti.

- Eu disse pra ele não vir assistir.

- Ninguém imaginou que seria assim não, cara, até eu quase fui pro chão.

Dou risada.

Não tem como ser um jogo calmo quando o time em questão é o flamengo.

Com emoção é mais gostosinho.

Por saber que eles estão bem, volto a comemorar com o pessoal.

De repente uns malucos começam a correr na nossa direção com uma bandeira do flamengo na cabeça.

- Qualquer coisa a gente corre também- o Matheuzinho diz e eu dou risada dele.

Quando a pessoa da direita levanta o rosto eu vejo que é a maluca da Milena que não fala comigo tem dias.

Naquela noite que fizemos a ligação a toalha dela caiu um pouco e deu pra ver um dos seus peitos.

Ela tem um piercing no mamilo!

Eu fiquei doido, mais ainda porque ela passou a me ignorar.

Mas hoje ela vai ter que falar comigo, ah se vai.

- Tinha que ser- ele ri e vai na direção dela que pula no colo dele.

Eu fico olhando, né?

Mas a desgraça da torcida começa a gritar.

"Oh gabigol, como é que é, o Matheuzinho pegou tua mulher"

Maaaano.

Não é possível.

Eles realmente me odeiam.

Sabe o pior? Devo estar levando a fama de chifrudo sendo que nem minha mulher ela é.

Sou salvo pelo John que vem na minha direção e me dá um abraço.

- Eu beijaria teu pé agora, mas deve tá com chulé- fala e eu dou um tapa em sua cabeça.

- Se liga, porra, tenho isso não.

- A torcida é maluca, de onde tiraram isso?- ele me olha com aquela cara de quem já sabe a resposta.

- Vai se ferrar, fofoqueiro do caralho- empurro ele pra longe e dou as costas indo pra perto dos outros jogadores que olham pra mim e dão risada.- vão se ferrar- jogo a água da garrafa que tava na minha mão em cima deles.

Como o Matheuzinho me odeia, ele vem pra cá com a Milena que tá pendurada em suas costas.

E a torcida faz o que? Continua cantando.

Ele coloca ela no chão e ela passa por mim, nem olhando na minha cara e vai abraçar os outros.

Respiro aliviado quando algum ser humano amado por Deus puxa outra música, deixando pra trás essa.

Flamém.

Depois que abraça geral, ela olha na minha direção.

Quem vê acha que a Milena acabou de sair de uma maratona. Sabe aquelas que primeiro você nada por não sei quantos quilômetros e depois que chega na praia precisa correr mais um montão?

Ela tá igual as pessoas que passam por isso.

O cabelo tá preso num coque, camisa toda amassada no corpo, bandeira amarrada na cintura, rosto todo vermelho e suada.

Mas a filha da mãe não fica feia nem assim.

Tenho a leve impressão de que ficamos nos encarando por um tempão porque só volto pra realidade quando alguém cutuca meu ombro.

A Milena parece perceber também já que se aproxima de vez de mim e me abraça.

- Não fala nada, não rolou nada, foi miragem- ela diz meio desesperada e eu dou risada.

- Pode deixar, eu não vi seu peito e nem o piercing que tem no mamilo.

- Vai tomar no seu cu, pé torto- me dá um empurrão e eu caio na gargalhada.

Olho pro lado e tem uma câmera filmando, certeza que vão pensar que eu tô rindo por estar extremamente apaixonado.

Mal sabem eles...

Uns cantores chegam pra me cumprimentar e eu perco a Milena de vista.

Não vejo ela na hora que ganhamos a medalha, e nem quando levantamos a taça, e muito menos na hora que geral invade a nossa comemoração.

Deu nem pra tirar uma foto.

Saio dali e procuro pelo Fabinho no meio do povo.

No meio do caminho esbarro em alguém que derruba algum líquido em mim.

𝗖𝗹𝗼𝘀𝗲 𝗳𝗿𝗶𝗲𝗻𝗱𝘀•• 𝗚𝗮𝗯𝗶𝗴𝗼𝗹Donde viven las historias. Descúbrelo ahora