O Plano

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Passara a noite em claro, não conseguia dormir por causa das fortes dores de cabeça que me atormentavam. Tudo porque me dispus a chorar até não poder mais assim que papai mandou Pandora sair do quarto, e, com grosseria, disse-me que eu não casaria com alguém que não fosse também da realeza. Meu casamento com Thomas era agora, para mim, algo impossível.

E então assim que o rei saiu, chorei até sentir minha cabeça doer. Não me entenda mal, eu não era mimada, muito menos mal criada e grossa como Cerci, mas veja bem, qualquer pessoa em meu lugar sentiria o mesmo que sinto. Não podia afugentar minhas dores e mostrar um sorriso que não existia. Ora, Safira, seja franca! Eu não conseguia esconder nada, tudo em mim era transparente e eu transbordava sentimentos e feições, esse era meu jeito. Por isso, eu não podia mandar em meu coração, em meus sentimentos, quem tinha parte disso, na verdade, era Thomas porque ele era dono do meu coração.

Saí da cama assim que o primeiro raio de sol escapou pela pequena fresta da madeira para dentro do meu quarto, a madame Potts ajudou-me a vestir um vestido demasiadamente apertado. Ai! Como eu odiava esses vestidos!

Agora eu me sentia, de certa forma, um pouco melhor. Depois do café, fui tentar ajudar Pandora a podar algumas plantas lindíssimas que tinham vindo da Terra Floral e chegara pela manhã, haviam sido mandadas de presente pela princesa Tulipa Bloom, eram mesmo muito lindas. E Pandora não tocara mais no assunto sobre o casamento, porque ela notou como aquilo tinha me afetado, então ela só estava tentando me distrair.

— Não é assim que se faz, Safira! Olhe para mim e faça igualmente a mim. Não, assim não, Safira. Está fazendo errado — vociferou Pandora.

— Para mim, o meu jeito é mais cômodo!

— Vai matar a pobre planta.

Pois bem, nota-se que eu não sabia o que estava fazendo, então logo larguei a planta com Pandora e me retirei do jardim. Outras cartas haviam chegado, quando passei pelo corredor, madame Potts segurava várias. Antes que eu conseguisse me desvencilhar dela, pude ouvir sua voz arranhada ao longe.

— Sua Alteza, espere — pediu ela, então parei onde estava enquanto ela veio correndo até mim — Esta é para você — ela entregou-me uma carta com selo dourado —, sem remetente.

— Que estranho! Quem mandaria uma carta para mim?

— De fato é estranho Sua Alteza. Quer que eu peça ao sr. Jingles para que a leia à você?

— Seria muita gentileza de sua parte, madame Potts. Faça isso, por favor! Mande que vá ao jardim de inverno, não no principal porque Pandora está lá.

— Sim, senhora, Sua Alteza.

— Ai, madame Potts, já pedi que pare de me chamar assim, você cuida de mim desde que eu era uma criança, é quase uma mãe para mim. Por favor, me chame apenas de Safira.

— Ai de mim! Não posso fazer isto, é muito desrespeitoso e mal educado chamar a princesa pelo primeiro nome, minha cabeça rolaria pelo salão do trono.

— Ai que horror, madame Potts!

— Se me der licença, preciso terminar meus afazeres na cozinha, sr. Jingles irá ter com você no jardim de inverno em pouquíssimos minutos — e assim saiu madame Potts da minha frente com uma grande reverência que ela sempre fazia exageradamente para mim porque sabia que isso me incomodava, mas não passava de uma brincadeira, ela jamais faria o mesmo na frente de meu pai.

Corri para o jardim de inverno que, assim como madame Potts prometeu, em pouquíssimos minutos também era ocupado pelo sr. Jingles.

Nós mulheres éramos proibidas de ler, como já dissera antes, e isso era uma grande pedra no sapato, porque eu era louca por histórias, minha mãe era a única mulher — talvez até mesmo no Reino todo — que sabia ler, ela lia para mim todas as noites, os livros sobre piratas sempre ficavam no meu quarto e assim foi acumulando até se transformar em uma mini biblioteca só com histórias de piratas, mas eu não sabia ler, era quase como se fosse um tesouro, um baú com um tesouro que você tem em mãos, mas ele só pode ser aberto com uma chave, uma chave que você não tem, então aquele baú valioso passa a perder o seu valor, porque você não pode tocar no íntimo dele.

LUA NEGRA Where stories live. Discover now