A Verdade Tende a Ser Dolorosa

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Uma vez, enquanto eu passeava no bosque encantado com minha mãe, quando eu tinha cinco anos, encontrei um Elfo selvagem, eles eram conhecidos por serem perigosos, mas havia muito tempo que ninguém via um. Corri pra perto da minha mãe e agarrei a perna dela.

— Achei que eles estivessem extintos — disse assustada, me tremia toda. O elfo ficou parado enquanto me encarava.

— Não é porque não os vemos que significa que eles não existem mais — disse ela — as pessoas, com suas ignorâncias, fizeram com que eles tivessem que viver escondidos. Veja, querida, ele não é perigoso, não fará nada a você se deixá-lo em paz, não acredite em tudo o que lhe disserem porque as pessoas mentem, e às vezes distorcem a história de forma que fique beneficente para elas. Tenho motivos suficientes para crer que quem espalhou os boatos de que os Elfos selvagens eram perigosos, decerto, estava caçando um.

Foi daquele dia em diante que passei a ter fé que os piratas na verdade eram mal compreendidos, que eles eram como os Elfos selvagens, minha mãe não entendia minha obsessão por eles, e escondia isso de todos. Eu acreditava que eles eram pessoas boas que não tiveram as suas partes da história contada, e por ignorância do povo tinham que viver no mar.

Ai, como eu estava tão errada!

De fato eles foram bons comigo, isso não posso negar, porque se não estaria indo contra meu caráter, mas não podia perdoá-los só por terem sido bons para com minha pessoa, uma coisa não anula a outra, meu ódio por aquela gente jamais me deixaria cometer tal erro imperdoável de me aliar ao inimigo. Sim, inimigo! Pois eles mataram a rainha. Minha mãe! E eu morrerei antes que um dia diga que eles são meus aliados!

A ralé dançava com alegria lá em cima, o som alto da música preenchia o ambiente, o ranger da madeira misturado a gritos me perturbava, vozes cantavam juntos em coro uma cantiga antiga que eu nunca ouvira antes, essa me acalmava, mas o cheiro de podridão sempre me trazia de volta a realidade. Estava à beira da loucura, e não podia negar isso.

Sentada em um banquinho de madeira, analisava minhas opções, tentando puxar na memória como havia vindo parar aqui, e arquitetando na mente uma forma de arrancar as informações de alguém. Era nítido que eu não chegava a conclusão alguma, minha mente borbulhava, como se tentar lembrar estivesse fritando meu cérebro.

Eu me lembrava de muita pouca coisa. O básico, na verdade. Eu me lembrava de Thomas e seus dois homens imundos, me lembrava do pano em minha boca, e me lembrava de acordar sozinha na ilha e de ver o anjo negro. Me lembrava dessas coisas. Era o resto que me preocupava. Como aconteceu, era isso que estava me deixando angustiada.

Haviam se passado quatro dias desde que acordei. O tom escuro do meu cabelo ainda era um mistério. Ninguém falava muito comigo, principalmente o Stu. Eu já havia tentado 𝘢𝘳𝘳𝘢𝘯𝘤𝘢𝘳 a verdade dele, literalmente, o enforcando.

— Diga o que sabe, ou eu mato você! — falei, fazendo ainda mais força sobre a traqueia dele, vendo-o ficar roxo em minhas mãos, pressionando cada vez mais forte, e ignorando a dor em meus dedos.

Só que eu teria sido bem sucedida em minha tentativa se a garota enxerida, Montana, não tivesse entrado no porão para pegar bebida.

Ela me dedurou na mesma hora, e tive que ficar presa no quarto, estavam todos de olho em mim, e sabiam o porquê eu estava agindo daquela forma e mesmo assim me negavam a verdade.

Deixei o ombro relaxar no momento em que a porta do quarto se abriu e revelou dona Delphine, Montana, um homem alto, gordo, fedorento, com um tapa olho, e Stu logo atrás.

— Você quer saber o que aconteceu com você, não quer? — Montana andou até minha cama, sentou nela, ao mesmo tempo em que bateu para a mãe sentar ao seu lado, e foi o que Delphine fez — Esse é o Elmont, nosso guia. Ele não fala nada, mas os deuses o agraciaram com o dom de ver tudo, o passado, o presente e o futuro — a garota apontava com satisfação para o grandalhão.

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⏰ Last updated: Oct 27, 2022 ⏰

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