Beijo da Morte

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O tempo é o nosso pior inimigo, ele nos arranca cada milissegundo que consegue, e não para. Ele passa de qualquer forma.

Quando precisamos dele ele parece escorregar por nós, de forma rápida, ele voa. E quando queremos que ele passe rapidamente, ele se arrasta, preguiçoso, lento. Mas de toda forma, de um jeito ou de outro, rápido ou lento, ele passa.

O tempo passa, mesmo quando cada batida do ponteiro do relógio, que indica os segundos voando, doíam como o latejar de uma ferida sob a pele machucada. Mesmo que eu não quisesse que passasse, mesmo que o ponteiro do relógio parasse, mesmo se o relógio desse problema, ele continuaria passando, de forma inconstante, de modo irritante, se arrastando a cada milésimo de segundo,  levando-me cada número desses segundos que me restasse.

E passou, tão rápido que mal vi a semana direito, passou e com ele foi também os dias que eu tinha com minha família, pouco pude aproveitar, tive que tentar me despedir de todos,  sem que soubessem que era uma despedida, em um curto espaço de tempo.
Tentei ser o mais minimalista possível. Não funcionou.

Queria que minhas irmãs ficassem com algo meu para si, algo que as fizesse lembrar de mim, porque, sendo franca, morria de medo de que minhas irmãs me esquecessem pra sempre.

Dei a Cerci um colar que ela sempre encarava quando eu o usava, ele realmente era lindo. Para Pandora dei uma coisa muito especial, era algo que eu queria que ficasse em boas mãos, e eu sabia que essas mãos eram as de minha irmã, então dei a ela a caixa de música quebrada que era de nossa mãe, era tão minha quanto dela.

Era difícil pensar nelas e as associar com a palavra até logo, porque eu não sabia se ia ter um, guardei em minhas lembranças cada detalhe delas, também não queria me esquecer. Apesar de que eu sabia que não poderia pensar tanto nelas, eu tinha que viver minha vida, e para isso acontecer eu tinha que deixar um pouco da minha antiga vida para trás para só então conseguir viver uma vida completamente nova. Eu tinha que decidir se meu passado me faria infeliz.

Proibida de pensar, com medo de esquecer

Era esse o meu problema resumido em uma única frase. Ao passo que eu queria parar de pensar, tinha medo de esquecê-las. Só depois de muito tempo foi que percebi o quanto aquilo era realmente um absurdo, eu as amava mais do que qualquer coisa, era impossível esquecê-las, elas eram minhas irmãs.

Puxei o fio do saco de pano que organizei com tanto zelo, e tomei o cuidado de não pôr nada que fosse pesar para facilitar minha saída do palácio, porque um reles erro me denunciaria e então tudo estaria acabado de vez.

Já era noite alta, eu já estava preparada para partir, mas ainda faltava uma última coisa. Pôr a roupa que me permitiria sair sem ser reconhecida.

Há uns dias atrás consegui pegar o uniforme de um dos oficiais, eu sabia que ele tinha outros porque era necessário que todos os oficiais tivessem mais de um para prevenir que contratempos atrapalhasse o trabalho, logo, todos eles tinham vários uniformes, acho. Confesso que foi difícil, eu nunca havia invadido o quarto de um oficial, no entanto, achei bem divertida toda aquela adrenalina de tentar não ser pega.

E então vesti toda aquela roupa pesada, puxei as luvas as ajustando em minhas mãos, prendi o cabelo em um coque no alto da cabeça e pus o chapéu, que também fazia parte do uniforme, em cima do coque; tirei toda maquiagem, e agora sim estava totalmente pronta.

Saí do quarto segurando o saco ao lado do corpo com uma única mão, andei pelo corredor deserto, por enquanto sem guardas à vista. Passei em frente ao quarto de Pandora e me despedi dela mais uma vez só na consciência, não podia entrar lá de jeito nenhum. Adeus, minha querida irmã, sentirei sua falta, pensei. E o mesmo aconteceu quando passei em frente ao quarto de Cerci, Adeus, minha irmã, sentirei sua falta, espero que toda essa amargura não penetre seu doce coração, que sei que tem.

LUA NEGRA Where stories live. Discover now