𝐑𝐈𝐕𝐀𝐋𝐒, goularte ✔

[extra] Quarenta e nove

ATENA!

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2027

Respiro fundo enquanto minhas mãos parecem transpirar mais do que o normal.

Checo minha maquiagem pela décima vez no espelho e pego o celular. Em movimentos trêmulos abro a câmera e começo a me gravar.

⸻ Puta merda. ⸻ respiro fundo mais uma vez enquanto murmuro. ⸻ Oi?

Completos sete anos de falar com a câmera por horas no dia jogados no lixo, aparentemente.

Ou o nervosismo tinha tomado conta.

Apoio o câmera no criado-mudo e olho para a porta, me certificando de que estava sozinha.

⸻ Não sei se vou postar isso. É muito... pessoal? ⸻ minha perna começa a tremer. ⸻ Eu e o Gabriel estamos juntos a cinco anos. A gente 'tá morando junto, ele é bem mais organizado que eu. ⸻ rio. ⸻ Hoje a gente 'tá organizando uma viagem, daqui a uma hora a gente vai embarcar no avião 'pra Itália, ele organizou tudo sozinho, na real. ⸻ falo, mais para mim do que para a câmera. ⸻ Ele me deu a passagem de presente no nosso aniversário de cinco anos, eu queria muito ir pra Itália. ⸻ sorrio e olho para baixo, estalando os dedos. ⸻ A uns dois dias eu 'tava falando com a Bea e ela me perguntou quando ela ia ser a madrinha de casamento. E eu sei que ela falou brincando, ela não poderia ligar menos 'pra isso. ⸻ adiciono rapidamente. ⸻ Mas isso colocou essa ideia na minha cabeça, e talvez esteja cedo demais? ⸻ coço minha testa enquanto dou um sorriso amarelo.

Por quase 15 segundos em silêncio, eu mexo em minhas gavetas e puxo uma pequena caixinha.

⸻ Eu queria sair do comum, sabe? O homem pede a mulher e... ⸻ faço alguns sons aleatórios com a boca para "exemplificar". ⸻ Eu não sei se eu vou ter coragem. Eu vou levar, de qualquer jeito. ⸻ assinto lentamente, meu nervosismo estava realmente evidente. ⸻ É isso, eu trago atualizações, caso alguma coisa aconteça.

Pego o celular do apoio e desligo a câmera, guardando-o no bolso.

O momento exato de ouvir a porta da sala abrir e a voz que eu tanto ouvi nos últimos anos falar:

⸻ Te, a gente tem que sair agora, se não, não vai dar tempo. ⸻ grito um "Relaxa" de volta e puxo a mala para fora do quarto.

⸻ Pega aí, bunda mole! ⸻ empurro a mala preta na direção do loiro, que a segura e leva para frente do elevador.

Dou uma última olhada na casa, checando se tudo estava sob controle e em seus devidos lugares. Ao concluir que sim, saio e tranco a porta da frente.

⸻ Por que 'cê ainda 'tava enfiada naquele quarto? ⸻ ele pergunta, se apoiando na mala.

Ouço um estalo na mesma, vejo o loiro arregalar os olhos e dou um tapa em seu braço para que ele saia de cima dela.

⸻ Gravando um vlog. ⸻ falo, divertida.

Ele solta uma gargalhada alta e genuína, me fazendo o acompanhar.

Desde o momento em que o elevador chega até o momento em que entregamos nossos documentos para a moça na sala de embarque parece ser um completo borrão.

Eu tremia, de medo, de ansiedade e um pouquinho de frio, já que estava apenas com um moletom fino e aberto por cima da roupa.

Depois de um diálogo demorado e cheio de provocações, eu consigo o lugar na janela e Gou se senta ao meu lado.

Logo que o avião decola, ele cai por cima de mim e se apoia na janela, me tirando toda a visão.

⸻ Filho da puta! ⸻ empurro sua cabeça enquanto ele ri. ⸻ Sai de cima de mim, Gabriel!

Ele ri mais ainda e se espreguiça com a cabeça ainda em meu colo.

Quando percebo já estávamos dormindo, ele com a cabeleira loira em meu colo e eu passando as mãos em seus fios, ouvindo um resmungo aqui e ali do garoto.

Depois de quase doze horas de voo, o desembarque acontece tranquilo e o dia estava comecando a virar noite quando finalmente conseguimos chegar ao hotel.

⸻ Sem jet lag, eu me recuso a perder esse finzinho de tarde em Florença! ⸻ exclamo assim que Gabriel faz menção de deitar na cama. ⸻ Dizem que a Ponte Vecchio é linda a essa hora e eu não vou perder isso.

E com isso dito saio do quarto, esperando o garoto na recepção. Em demorados cinco minutos vejo-o descer, com os cabelos bagunçados e um breve sorriso no rosto.

⸻ Vamo' logo, então. ⸻ ele segura minha mão e seguimos para fora do hotel.

Enquanto ele pede um táxi, eu tento arrumar o emaranhado de fios loiros que brilhavam no sol de fim de tarde e deixá-los de uma forma mais aceitável.

Foram dez longos minutos de tentar nos comunicar com o motorista ⸻ que não falava inglês e tinha um sotaque incrivelmente forte de um lugar que eu diria ser França toda vez que falava qualquer coisa em italiano ⸻ até que finalmente chegássemos aos entornos do lugar, que parecia também cheio de turistas.

Música alta podia ser ouvida em vários cantos e várias lojas deixavam escapar o delicioso aroma de uma comida que me deixava com água na boa, até que finalmente colocamos nosso primeiro pézinho nas bordas da ponte.

Com pulinhos de alegria e uma mão enroscada na minha, puxo meu namorado para várias vitrines diferentes, admirando todas as lojas que meus olhos conseguiam captar e, aparentemente, assustando todas as pessoas que meus gritinhos e pulinhos eram capazes de assustar.

Depois de o que eu chuto serem mais de quarenta minutos de caminhada, decidimos sentar em um banco com vista para o Rio Arno e apenas observar a vista.

Sinto algo em meu bolso assim de encosto mais para perto do Gou, me abraçando nele, e lembro da pequena caixinha.

Uma respiração tensa aparece e olho para o garoto, que parecia calmo e com os olhos mais claros do que nunca enquanto olhava o Sol terminar de se pôr.

⸻ Gou... ⸻ o chamo.

⸻ Olha aí, a água reflete a luz da cidade. ⸻ ele sorri para os pontinhos de luz. ⸻ Mesmo sendo sujinha.

Respiro fundo e me permito afundar em seus braços antes de chegar o grande momento.

Passados dez minutos percebo o garoto de mexer ao meu lado e me olhar.

⸻ Quer casar comigo? ⸻ ele pergunta, subitamente.

⸻ 'Que? ⸻ o olho em choque.

⸻ Quer casar comigo? ⸻ ele repete e percebo agora que suas mãos tremiam.

⸻ ...Não. ⸻ murmuro.

Sua boca abre levemente enquanto ele parece querer se levantar.

⸻ Não! Quer dizer, sim! ⸻ eu digo, olhando para ele. ⸻ Eu quero casar com você! Mas não era pra você pedir!

⸻ 'Que? ⸻ agora é a vez dele de perguntar.

Sem dizer mais nada, puxo a caixinha do bolso, abrindo e mostrando 'pra ele.

Ele ri. Apenas ri.

⸻ Você ri? ⸻ digo, começando a rir também.

Todos que passavam viam o casal rindo, agora o casal de noivos.